A INVASÃO DAS MÁQUINAS: a busca por produtividade e redução de custos para aumentar a rentabilidade está levando mais máquinas e equipamentos ao campo

Cestos e escadas para a colheita, peneiras para a limpeza, e rastelos para arruação, varrição e secagem dos grãos. Essas ferramentas, indispensáveis nas lavouras cafeeiras desde o século 19, estão cada vez mais perdendo espaço na lida diária nos cafezais brasileiros. Na última década, a busca por produtividade e redução de custos para ganhar mais rentabilidade tem sobreposto a máquina às mãos. Nas fazendas Santa Bernadete, em Caconde, e na Mantiqueira, em Vargem Grande Paulista, ambas no interior de São Paulo, e na fazenda Santo Antônio das Pitangueiras, no município de Jacuí, em Minas Gerais, a mecanização entrou para ficar. “Hoje, otimizar a produção é palavra de ordem no campo”, diz o agricultor Rogério Sarti, dono de 196 hectares plantados com café arábica, nos quais são utilizados máquinas e implementos de última geração para o plantio e a colheita de sete mil sacas de 60 quilos de grãos, por safra.

Sarti é um dos representantes do crescente grupo de cafeicultores que já colhem mecanicamente 18% da produção nacional, volume equivalente a 9,4 milhões de sacas. A maior parte dessa lavoura mecanizada está concentrada no Cerrado mineiro e no oeste da Bahia, em regiões de terra plana, favoráveis ao uso de equipamentos.

TENDÊNCIA: apenas 18% das lavouras de café contam com colheita mecanizada. As vendas de máquinas para o cafezal crescem 35% ao ano

 

Mas não é apenas a colheita realizada por grandes máquinas que está tomando conta dos cafezais. No sistema de colheita por derriça, feita com uma máquina portátil, a mecanização já está em cerca de 15%, volume equivalente a 7,8 milhões de sacas. Na safra 2011/2012, o País deverá colher 52 milhões de sacas do grão, cultivadas em 2,35 milhões de hectares. Um exemplo do crescimento nas vendas de máquinas para as lavouras de café foi registrado na 11ª Feira de Máquinas e Implementos Agrícolas (Femagri), em Guaxupé (MG), que é o maior centro produtor de café do País. Durante o evento, de 1º a 3 de fevereiro, as vendas de produtos, máquinas e veículos em exposição alcançaram a marca de R$ 70 milhões, aumento de 30% na comparação com a edição anterior.

A tendência é de que a participação dos 61% do café que ainda é colhido de forma manual continue em queda, como vem acontecendo na última década. Sarti, que cultiva café há 11 anos, há seis faz parte dessas estatísticas. Em 2006, o produtor comprou um secador rotativo de grãos. “Na época me faltava infraestrutura e o secador sanou essa necessidade”, diz. “Por causa dele não precisei aumentar o tamanho do terreiro.” O investimento foi tão compensador que Sarti ampliou o seu parque de máquinas, para ganhar mais velocidade operacional. No mês passado, Sarti investiu R$ 34 mil em um descascador de café. “Com a máquina, dobro a quantidade de grãos descascados por hora”, diz. A mecanização da lavoura promovida pelos cafeicultores e a busca por mais qualidade dos grãos têm incentivado a indústria de equipamentos agrícolas a investir em pesquisa de máquinas e em novas tecnologias. Uma delas é a brasileira Dragão Sol, de Jaú, município a 313 quilômetros de São Paulo. Há 15 anos como fabricante, a Dragão Sol tem uma experiência de 40 anos na área de pesquisa de tecnologias. No mês passado, a empresa lançou durante a Femagri a Dragão Tigre, máquina que em uma única operação recolhe e abana o café, além de triturar os galhos e armazenar o material em um depósito próprio. Segundo o diretor da Dragão Sol, Milton Koji Obara, atualmente, a maior demanda dos agricultores é por ferramentas que melhorem o rendimento das fazendas. No sistema manual, a colheita de uma área de 100 hectares, por exemplo, pode levar de três a cinco meses para ser concluída. “No mecanizado, a mesma colheita levaria 40 dias”, diz Obara. Ele acredita que a mecanização nas lavouras de café tem se intensificado também por causa da melhor remuneração dos grãos de qualidade. “Café superior pode valer até 20% a mais no mercado”, diz.

A alemã Stihl, líder no mercado brasileiro de ferramentas motorizadas portáteis, é outra fabricante que está de olho no crescimento da mecanização do café. “Esse movimento está crescendo 35% ao ano e vamos acompanhálo”, diz Romário Britto, vice-presidente de marketing e vendas da Stihl. Na Femagri, a Stihl apresentou seu produto top de linha, o equipamento portátil e multifuncional KA 85 R, que realiza cinco tarefas diferentes: roça, esqueleta, decota, recepa e colhe o café. A máquina custa R$ 1 mil e com ela uma única pessoa pode realizar o trabalho de três no campo.