Apesar do preço da oleaginosa mais requisitada no mercado mundial ter caído na Bolsa de Chicago, nos últimos dias de junho, os analistas do setor têm sido unânimes em suas previsões: os valores da soja ainda devem se manter aquecidos até o início do próximo ciclo de colheita, que acontece a partir de meados de janeiro. Quem espera aproveitar as vantagens dessa valorização até lá, comemora: a cotação chegou a R$ 98 a saca de 60 quilos em junho, a maior média histórica desde 2006, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), de Piracicaba (SP), e deve continuar subindo. “Estamos vivendo uma situação bastante confortável, de preços jamais imaginados”, diz o executivo José Aroldo Gallassini, presidente da Cooperativa Agroindustrial de Campo Mourão (Coamo), no noroeste do Paraná, que em 2015 conquistou o título de EMPRESA DO ANO no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL.

A Coamo, com uma receita de R$ 10,6 bilhões no ano passado, está entre as maiores cooperativas agrícolas do País. São 28,2 mil produtores de soja, milho, algodão, café e trigo, nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Gallassini diz que a situação dos cooperados é muito confortável, porque, no final de junho, boa parte deles ainda tinha soja da safra 2015/2016 para vender, quando a maioria dos produtores já estava fazendo vendas antecipadas da safra que começou em 10 de julho.  No mercado futuro, o cenário também era favorável: para março de 2017, os contratos do grão estavam sendo fechados à média de US$ 24, valor 30% acima de março deste ano.


“Estamos vivendo uma situação bastante confortável, de preços jamais imaginados” José Aroldo Gallassini,da Coamo

Para os produtores da Coamo, o bom momento se deve a uma lição de casa feita todos os anos. “É um hábito comum aos produtores utilizarem a soja como poupança, mas respeitando, por exemplo, o travamento no mercado futuro para cobrir seus gastos”, diz Gallassini. “Se os preços reagem, como está ocorrendo, a poupança compensa.” Até o mês passado, os produtores dispunham de 1,9 milhão de toneladas de soja guardada, 45% da produção colhida na safra. “O ano de 2016 certamente já entrou para a nossa história”, diz Gallassini.  “Agora, estamos de olho na safra americana, que já começou a ser semeada. Na sequência somos nós que plantamos e espero que não ocorra nenhuma crise climática no período.”

O fato é que o mercado da soja disparou justamente por conta de muita seca ou chuva na hora errada, na safra 2015/2016. Os piores resultados vieram da safra sul-americana, segundo o consultor em gerenciamento de riscos Etore Baroni, da consultoria INTL FCStone, de Campinas (SP). “Houve quebra da colheita aqui no Brasil e também na Argentina”, diz ele. Pelas contas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês), os dois países perderam cinco milhões de toneladas de soja, o que representa uma queda de 3,2% no volume colhido, comparado ao ciclo 2014/2015. Em contrapartida, o consumo mundial na temporada 2015/2016 subiu: foram cerca de 6%, ou 17,2 milhões de toneladas, totalizando 318,01 milhões. E vai continuar em alta, principalmente na China. A previsão é que a demanda mundial por soja aumente 3% na safra 2016/2017, chegando a 327,96 milhões de toneladas. “Isso também dá sustentação para os preços no próximo ano, inclusive no mercado futuro”, diz Baroni.

Já a realidade de grande parte dos produtores do Estado de Mato Grosso, o maior polo de cultivo de soja do Brasil, é outra. Com seca em muitas regiões na safra passada, o produtor foi obrigado a vender a soja o mais rápido possível. Até o mês passado, 91% da safra 2015/2016 já havia sido comercializada. No estoque estavam apenas 2,5 milhões de toneladas, de um total de 27,4 milhões colhidas. De acordo com o economista Daniel Latorraca Ferreira, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), de Cuiabá (MT), sem produto para vender, os produtores saíram em massa para realizar vendas antecipadas. “Este ano, a venda futura começou bem mais agressiva”, diz Ferreira. Pelas contas do Imea, com uma produção estimada em 29,4 milhões de toneladas para a safra 2016/2017, o produtor mato-grossense já comprometeu 21% de sua colheita futura, ou 6,2 milhões de toneladas. “No mesmo período do ano passado, o porcentual de comercialização futura era de apenas 7,3%”, diz Ferreira. Já os produtores da Coamo, continuam na mesma toada: até o final de junho, 15% da produção prevista para a safra 2016/2017 estavam em contratos futuros, 630 mil toneladas da previsão de colheita de 4,2 milhões de toneladas.