24/05/2016 - 12:25
Em Correntina, um município de 1,2 milhão de hectares no Oeste baiano, na divisa com o Estado de Goiás, as lavouras de soja se espalham por todos os lados. Uma delas, de oito mil hectares, pertence à empresa de sementes Ciaseeds, do agricultor Laerte Baechtold. “Revolucionamos o jeito de fazer agricultura na região”, diz Baechtold. “E a tecnologia da soja transgênica foi essencial para isso.” O produtor, de origem paranaense, foi um dos pioneiros que abriram o Matopiba, a nova fronteira agrícola do País, na década de 1990. A região de 73 milhões de hectares, formada por partes dos Estados da Bahia, Maranhão, Tocantins e Piauí, vem experimentando na última década um crescimento médio de sua produção agrícola da ordem de 20% ao ano, segundo o Ministério da Agricultura. Hoje, o Matopiba responde por 11% da produção nacional de soja, com cerca 10,5 milhões de toneladas por safra. Foi por isso que a americana Monsanto, uma das maiores empresas globais de sementes e defensivos, escolheu o lugar para comemorar em fevereiro, o aniversário de 20 anos de sua marca de sementes, a Monsoy.
Para a Monsanto, que em 2015 faturou globalmente US$ 15 bilhoes, é a partir de histórias de sucesso como a de Baechtold e de seus vizinhos que ela pode alavancar sua presença no País. Nesta safra 2015/2016, a previsão é terminar o ciclo com 33,2 milhões de hectares de soja transgênica com a sua marca, área equivalente a 35% das lavouras da oleaginosa no País. A aposta para ganhar mais fatia de mercado é a sua tecnologia de segunda geração chamada de Intacta RR2 (sigla em inglês para Roundup Ready), lançada há três safras, depois de uma década de pesquisas voltadas às condições de cultivo no País. A empresa desenvolveu cultivares tolerantes ao herbicida glifosato e resistente ao ataque das principais pragas das lavouras, entre elas a falsa medideira, a broca das axilas e a hedionda helicoverpa. Um ataque dessa última praga, em 2013, levou os produtores baianos a um prejuízo da ordem de R$ 1,7 bilhão. Não por acaso, os dados do Rally da Safra 2016 indicam que a soja da Monsanto tem sido utilizada por mais produtores do que a própria empresa prevê. O Rally, um projeto de pesquisa sobre a produção de grãos nos principais polos agrícolas do País, promovido pela consultoria Agroconsult, mostrou que a soja Intacta RR2, presente em 4% nas lavouras monitoradas na safra 2013/2014, saltou para 25% em 2014/2015. Nas 2,5 mil lavouras visitadas neste ano, o índice subiu para 48%, ou seja 13% acima das projeções da Monsanto. “O monitoramento tem mostrado, de fato, uma maior adoção dessa nova soja”, diz André Pessoa, diretor da Agroconsult.
O dono do M: volmir martinazzo mostra a sua soja e logo atrás dele está a nova marca da monsoy, também vista do alto (foto abaixo)
Com a nova soja, a Monsanto quer recuperar um espaço perdido no mercado para empresas como Bayer, Dow, Syngenta, Dupont e Basf. Afinal, na safra 2012/2013, por exemplo, a sua tecnologia estava presente em 85% da área cultivada com transgênicos no País. A empresa começou a perder terreno nessa corrida a partir de 2010, quando a primeira geração da tecnologia RR se tornou de domínio público em todo o mundo. Para o agrônomo Geraldo Berger, diretor de Regulamentação da Monsanto no Brasil, a competição ficou mais acirrada e é com essa realidade que a empresa trabalha. “Há mais opções ao produtor rural”, diz Berger. “Não voltaremos à posição anterior, mas temos muita tecnologia para reconquistar o mercado.” A Monsanto quer mostrar que a sua tecnologia RR2 tem potencial para aumentar os ganhos no campo. Em testes na safra 2014/2015, a cultivar produziu uma média de 4,3 mil quilos de soja por hectare, 43% acima da média nacional.
Foi a possibilidade de aumento da produção que atraiu Baechtold para o negócio de sementes iniciado em 2004, ao abandonar produção comercial do grão. Hoje, a Ciasseds fatura R$ 120 milhões por ano com as sementes. Na primeira safra, o produtor colheu 100 toneladas de RR2 e nesta deve colher 18 mil toneladas, volume 180 vezes maior. “A semente foi o negócio no qual mais consegui agregar valor”, diz Baechtold. Além de sua área de oito mil hectares, as sementes da Ciaseeds são produzidas por oito agricultores da região, donos de uma área de dez mil hectares.
Uma das parceiras da empresa é a fazenda Serrana, de 600 hectares, que pertence ao gaúcho Volmir Martinazzo. O produtor diz que não se arrepende de ter trocado o Rio Grande do Sul pela Bahia, em 1999. “Ouvia dizer que o Oeste baiano era cemitério de gaúcho, mas isso não é verdade porque a terra produzia bem”, diz. O que não se ouvia na época eram notícias sobre cultivares adaptadas à região, fato que mudou com a soja da Monsanto. “Fiz alguns testes da cultivar é vi que ela produzia mais”, afirma Martinazzo. Nesta safra ele plantou 60% de sua área com a nova soja, ante 20% na safra passada. Foi em sua fazenda que a Monsanto realizou a ação de comemoração de aniversário da marca Monsoy em fevereiro, desenhando na lavoura uma imensa letra M. Nos últimos dois meses a iniciativa foi vista por 1,5 milhão de pessoas nas redes sociais. “Posso ter perdido alguma saca de soja, mas ser conhecido como o dono desse M foi muito bom. Lógico que digo que a letra desenhada na minha lavoura é M de Martinazzo.”