20/09/2012 - 13:51
A castanha é um símbolo cativo do Pará, mas o Estado tem vocação para se tornar também a terra do cacau. O cultivo da amêndoa no Brasil passa por uma fase delicada e de incertezas principalmente na Bahia, o maior produtor do País, que enfrenta problemas sanitários por causa de pragas e doenças na lavoura. Com produção estagnada, importações de amêndoas e seus derivados em alta, e consumo crescente de chocolate, a indústria nacional tem ficado numa sinuca de bico para se abastecer de matéria-prima. É nesse cenário que desponta o Pará, acelerando o plano ambicioso de se tornar uma grande fronteira agrícola no cultivo do cacau. “A meta é dobrar a produção nos próximos oito anos”, afirma Hildegardo Nunes, secretário de Estado de Agricultura do Pará.
A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) do Pará já apurou, neste ano, uma safra parcial de 76 mil toneladas de cacau e a previsão até o final da colheita é alcançar 85 mil toneladas da amêndoa, atrás apenas da Bahia, com 130 mil toneladas. Segundo Moisés Moreira dos Santos, superintendente da Ceplac no Estado, o plano do governo paraense é ambicioso. “Vamos ajudar o Brasil a chegar à autossuficiência da matéria-prima”, diz. O planejamento estratégico aponta que o Estado vai colher 230 mil toneladas de amêndoas por ano até 2022, superando a produção baiana.
Desde outubro do ano passado, a cultura ganhou impulso com o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura, lançado pelo governo do Estado em parceria com a Ceplac. Os recursos de cerca de R$ 2 milhões por ano do Fundo de Apoio à Cacauicultura Paraense (Funcacau) têm garantido a instalação de campos experimentais e pesquisas de manejo. De acordo com Nunes, a produtividade média no Pará é de 900 quilos de amêndoa por hectare, o triplo da produtividade baiana, de 300 quilos por hectare. “Mas a meta é atingir 1,3 mil quilos por hectare, como média no Estado”, afirma. Não se trata de um delírio amazônico: ele cita o exemplo do município de Medicilândia, a quase mil quilômetros da capital, campeão nacional em produtividade de cacau, com média de 1,7 mil quilos por hectare.
Para intensificar a produção em 2012, estão sendo distribuídos 18 milhões de sementes, além do investimento em capacitação dos produtores em sistemas agroflorestais, para melhorar a qualidade da amêndoa e obter produtividade crescente. O clima e o solo favoráveis colocam a cultura como uma alternativa agrícola rural sustentável na região. Áreas de pastagens degradadas estão sendo recuperadas com o cultivo consorciado a espécies florestais. “O cacau alia a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico e social”, diz Santos, da Ceplac.
A cultura do cacau no Pará tem se baseado na agricultura familiar. Famílias que cultivam a amêndoa em pequenas propriedades de dez hectares alcançam uma renda anual de até R$ 35 mil. Atualmente, há cerca de 15 mil produtores no Estado, que geram cerca de 50 mil empregos diretos e indiretos. A Ceplac e o governo estimam que 1,5 mil novos produtores recebam incentivos até 2013. Além disso, as autoridades querem que a amêndoa seja processada no Estado, em vez de migrar para as indústrias de outras regiões. “Esperamos, em breve, a instalação de fábricas que possam verticalizar a produção do Pará”, diz Santos.
A indústria, por sua vez, tem respondido positivamente aos planos do governo. A Cargill, maior processadora de cacau da América Latina, anunciará neste ano um projeto em parceria com a ONG The Nature Conservancy para apoiar pequenos produtores. Rodrigo Melo, gerente de originação e risco da Cargill no Brasil, diz que tem acompanhado o crescimento da safra no Pará. “É muito intenso esse movimento”, afirma Melo. Segundo Miguel Sieh, diretor da unidade de negócio de cacau e chocolate da Cargill, a escassez da matéria-prima é um problema para a indústria. “Na década de 1980, o Brasil produzia 400 toneladas de amêndoa e até exportava”, diz Sieh. A expectativa é de que o Pará consiga suprir em até cinco anos a matéria-prima que hoje é importada de países como Gana, Costa do Marfim e Indonésia.