Começou no mês passado e vai até o final de novembro, na cidade de São Roque, distante 60 quilômetros da capital paulista, a safra da alcachofra – a estimativa é de que sejam colhidas 500 mil unidades no período. Há cinco anos, a flor comestível se transformou em um fenômeno agrícola para o município de 78 mil habitantes. Famosa pelas vinícolas familiares do passado, São Roque, também conhecida como Terra do Vinho, tem hoje a alcachofra como protagonista. Atualmente, a cidade é a terceira maior produtora da hortaliça no País, perdendo apenas para Ibiúna e Piedade, também municípios paulistas.

É no mês de outubro que acontece o pico da safra, quando a maior parte das flores dá o ar da graça e se transforma em ingrediente quase obrigatório das refeições preparadas nos restaurantes da cidade. “Muitas pessoas que vêm até São Roque só ouviram falar da nossa alcachofra, mas nunca comeram a flor”, diz Ana Lídia Ortmann, proprietária da chácara Bonsucesso. A cidade durante todo o ano oferece aos turistas um passeio chamado Roteiro do Vinho, que pode nesta época, por causa dessa flor, ser rebatizado de Roteiro da Alcachofra, que o nome lhe cai muito bem. Em outubro, a cidade também se prepara para a Expo São Roque, evento que reúne os expositores de vinhos e mostra a produção dos sete agricultores que transformaram a flor em símbolo do município.

Ana Lídia Ortmann:

“O visitante pode acompanhar a colheita e ver o produto chegar fresquinho à mesa”

Na festa da cidade, uma das atrações é o Mercado de Alcachofra, um local para apreciar a iguaria nas suas mais variadas formas: ao natural, em conserva, em patê ou em pratos congelados, como massas e risotos. A cada ano, os cozinheiros inventam receitas diferentes para uma competição informal entre eles. Na festa de outubro, os destaques foram uma quiche e um sanduíche em que a flor substituiu o hambúrguer. No ano passado, os gourmets foram mais longe: inventaram um inusitado sorvete de alcachofra. Mas o que mais chama a atenção de quem vai a São Roque são as pequenas propriedades rurais que cultivam a planta. Durante a festa, elas abrem suas porteiras para vender a produção diretamente aos turistas e ainda incrementam seus rendimentos com a venda de doces e geleias de frutas da região, como uva e morango.

 

Como o município, hoje uma das 29 Estâncias Turísticas de São Paulo, é pequeno, o acesso às propriedades é muito fácil. Em menos de 15 minutos por uma estradinha de pedregulhos, chega-se na primeira delas, a chácara Bonsucesso. Ao longe, já é possível ver as flores que contrastam com a vegetação natural. Na propriedade da família de Ana Lídia, são mais de dez mil pés da flor, em dois hectares. “O visitante pode acompanhar a colheita e ver o produto chegando fresquinho à mesa”, diz Ana Lídia. O cultivo da flor na propriedade dos Ortmann está ao lado do restaurante da família.

Roteiro do vinho:

em outubro, a cidade sedia a Expo São Roque, que reúne vinicultores e produtores rurais

Ana Lídia, assim como os demais pequenos produtores de São Roque, não cobra taxa pelos passeios nas lavouras. Para ela, são essas visitas que estimulam o consumo e podem se tornar uma porta de entrada de novos produtores na região. “Em todo o País, não há mais que 200 hectares de cultivo de alcachofra”, diz Ana Lídia. “Mas vamos mudar esse quadro.” Não faz tanto tempo que a flor é cultivada no País. Foram os imigrantes italianos que iniciaram seu cultivo nos municípios paulistas, há cinco décadas. Mais tarde, a alcachofra – originária do sul da Europa e do norte da África – passou a ser cultivada pelos japoneses. Foram eles que iniciaram a produção comercial há cerca de 30 anos.

Há pouco mais de uma década, a região de São Roque passou a ganhar fama também por causa da alcachofra roxa, uma invenção que aconteceu ao acaso. A cor natural da flor é verde. Na época, os produtores começaram a embalar com jornal cada uma das flores, ainda em botão, para protegêlas nos meses friorentos de junho e julho. Um desses produtores é Dario Antonio de Moraes, que tem uma das maiores plantações da região. “De longe, o cultivo até parece uma plantação de jornal”, diz Moraes. Com o avanço das pesquisas, uma variedade mais produtiva e adaptada ao clima das montanhas da região se difundiu e daí surgiu a alcachofra roxa-desão- roque. “A cor não influencia no sabor”, diz Leodir Ribeiro, diretor do departamento de desenvolvimento econômico da prefeitura local. “Mas realmente as flores ficam mais bonitas, e o consumidor passou a associar a cor à qualidade e ao sabor.”

Serviço

Roteiro do Vinho, Gastronomia e Lazer

www.roteirodovinho.com.br