24/04/2019 - 12:54
Letícia Strack produz grãos na fazenda Santo Agostinho, em Almirante Tamandaré do Sul, cidade gaúcha de apenas 2 mil habitantes, a cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre. Numa área de 240 hectares, ela planta soja no verão – em 170 hectares – e trigo no inverno – num espaço que varia de 50 a 100 hectares. Para silagem, são 80 hectares de milho e uma área de cevada ou aveia que vai de 40 a 60 hectares. Mesmo com uma boa produção agrícola – média de 70 sacas por hectare –, é com a pecuária leiteira que a fazenda de Letícia tem se destacado.
O negócio ganhou força há sete anos, quando, após se formar em medicina veterinária, ela convenceu o pai a investir no leite. “Percebi que o setor leiteiro estava indo muito bem financeiramente e tinha boa expectativa de mercado”, conta a fazendeira. “Daí, decidimos, em 2014, sair do sistema a pasto e fechar as vacas”, diz. Quando fala em “fechar as vacas”, Letícia refere-se ao compost barn (em inglês, “estábulo com compostagem”), sistema de confinamento no qual os animais circulam num espaço físico coberto, com comida e água à vontade. Para adotar o novo método de criação do gado e investir na produção de leite, Letícia recorreu à Cotrijal, cooperativa gaúcha da qual ela faz parte.
“Graças à ajuda da cooperativa, consegui viajar para os Estados Unidos e à Holanda para obter mais conhecimento”, conta. Com investimentos totais de R$ 2,3 milhões, a propriedade saltou de 40 vacas em ordenha para 154, em cinco anos, com uma produção média de 34 litros por dia por animal. Segundo ela, o novo sistema possibilitou ainda um aumento de produtividade médio de 4 litros por vaca ao dia. Agora, a meta de Letícia é chegar a 200 vacas leiteiras, até o final deste ano, o que fará do leite seu principal produto. Nada disso seria possível sem o apoio da Cotrijal. “Cada vez mais, a cooperativa está melhorando seu corpo técnico, o que auxilia muito a gente. Embora eu seja médica veterinária, conto com eles na parte de nutrição e de reprodução”.
Na análise do presidente da Cotrijal, Nei César Mânica, muitos dos pequenos produtores da região estariam em dificuldades financeiras ou mesmo fora da atividade, se não fosse o sistema cooperativista. “Eles se sentem seguros, porque a cooperativa viabiliza o crédito e o acesso a novas tecnologias”, afirma Mânica. Hoje, a Cotrijal atua em 32 municípios do Rio Grande do Sul e vem registrando bons resultados. O faturamento bruto da cooperativa saiu de R$ 1,7 bilhão, em 2017, para R$ 2,3 bilhões no ano passado (alta de 35%). Com isso, a distribuição de dividendos aos associados teve um expressivo salto de 71%, passando de R$ 7,9 milhões, em 2017, para R$ 13,5 milhões, em 2018.
O ótimo desempenho da Cotrijal parece ter feito com que os produtores entendessem a importância de atuar de forma conjunta. O número de cooperados passou de 5,4 mil, em 2013, para 7,7 mil no começo deste ano, um acréscimo de quase 43%. Para o diretor de Negócios Sul da Bayer, Abdalah Novaes, os produtores têm optado por ter maior segurança ao se associarem às cooperativas. “O produtor rural tem muito mais aversão ao risco do que profissionais de outros setores”, destaca Novaes. “Para tomar risco e garantir que terá o retorno, ele precisa de gente de confiança ao seu lado.”
ALTA PRODUTIVIDADE Os resultados da Cotrijal vão muito além do faturamento. No campo, a produtividade vem se mantendo superior à média do Rio Grande do Sul, tanto na produção de soja quanto na de milho. No caso da oleaginosa, a cooperativa registrou média de 67,4 sacas de 60 quilos por hectare, no período 2017/2018, 26,6% superior às 50,2 sacas por hectare do Estado e quase 20% acima da média brasileira (56,5 sacas). Em relação ao milho, a produtividade foi de 165,8 sacas entre os associados da Cotrijal, 50% superior às 110 sacas do Rio Grande do Sul e mais do que o dobro da média nacional, que foi de 81 sacas.
Para alcançar esse excelente desempenho, a cooperativa oferece uma gama de serviços aos fazendeiros. A estrutura conta com uma rede de dez supermercados, uma Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), uma fábrica de rações e 20 lojas para atendimento aos produtores, nas quais é possível adquirir crédito e assistência técnica ou veterinária. “Esse aumento de produtividade acontece por causa de uma assistência técnica personalizada com a gestão da propriedade”, afirma Nei Mânica. “Com agricultura de precisão e digital, o produtor que não estiver inserido em boas práticas agrícolas não consegue produtividade satisfatória.”
No caso do setor leiteiro, Mânica acredita que o grande diferencial é que a produção está centralizada em pequenos fazendeiros. “O pequeno produtor pode ser grande em faturamento. Ele tem, por exemplo, um campo de leite confinado e um semi-confinado, onde produz a alimentação com a silagem e complementa comprando a outra parte”, explica. “Isso faz com que a pequena propriedade ganhe cinco vezes mais na comparação com a produção de soja.” Um bom exemplo de ganho de produtividade entre os leiteiros gaúchos é visto nas terras de Rosalvo Muhl, do Sítio Ypê, na cidade de Victor Graeff. Há três anos, ele abandonou o sistema tradicional de confinamento a pasto e adotou o compost barn. À época, Muhl tinha 30 vacas em ordenha, com produção de 22 litros de leite por animal ao dia. Hoje, ele possui 80 vacas e cada uma produz 33 litros de leite por dia, 50% a mais. Com investimento de R$ 1,2 milhão para melhorar a sua estrutura e aumentar o rebanho, ele quer chegar a 120 animais até o final deste ano. Para tornar esse cenário ainda melhor, hoje o preço médio do litro de leite pago aos produtores gaúchos é de R$ 1,41, pouco mais de 30% acima do preço executado em março do ano passado (R$ 1,08). Ao que tudo indica, as boas notícias devem continuar surgindo para os associados da Cotrijal.