Conhecida pela robustez de seus tratores, a Valtra parecia estar tranqüila no seu nicho de mercado. Na agrishow deste ano, por exemplo, a empresa lançou a geração II, uma evolução das linhas de tratores BM e BH, com motor de 100 a 190 cavalos e ampla aplicação agrícola. Mera aparência. Desde 2004, quando foi adquirida pelo grupo AGCO, a empresa já tinha planos de diversificação. A explicação vem da lógica de mercado.

Os clientes Valtra, acostumados com os tratores, iam até as concessionárias à procura de colheitadeiras da marca. Então, a contragosto, os concessionários eram obrigados a encaminhá-los para uma concorrente e corriam o risco de perder o cliente também no segmento de tratores. Esta queixa reincidente dos vendedores levou a Valtra a ingressar em colheitadeiras. O lançamento oficial dos dois modelos BC 4500 de médio porte e a BC 7500 de grande porte, ambas para grãos, aconteceu no final de outubro em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, onde se localiza a fábrica da AGCO, responsável pela produção das colheitadeiras. “A nossa intenção é conquistar 5% de market share já no primeiro ano”, diz Jak Torreta Júnior, gerente de produto da Valtra.

Para isso, os concessionários receberam treinamento para garantir uma boa assistência pós-venda. “A colheita não pára durante 60 dias, então a rede tem que ser ágil, pois uma colheitadeira não pode parar”, diz Júnior. O modelo BC 4500 teve origem em um projeto alemão. É uma máquina com motor de 6 cilindros turbo de 190 cavalos e tanque graneleiro para 66 sacas de soja. Já a BC 7500 foi desenvolvida nos EUA e adaptada para o Brasil. Seu diferencial é o sistema axial e motor de 6 cilindros Turbo Aftercooler, com injeção eletrônica, que gera uma potência de 355 cavalos. O tanque graneleiro comporta o equivalente a 130 sacas de soja. As colheitadeiras vão ser vendidas na América do Sul, Central e Caribe. O valor investido em desenvolvimento e pesquisa dos dois projetos foi de US$ 5 milhões. Este montante inclui a introdução de uma nova linha na fábrica de Santa Rosa, que criou mais 150 postos de emprego. “Colheitadeira é um sonho antigo, principalmente dos concessionários. As vendas de tratores são sazonais, de outubro a fevereiro. Daí para a frente, entram as colheitadeiras”, explica o gerente.

Com 47 anos de estrada no Brasil, a Valtra está sempre inovando, seja em produtos ou na forma de gestão. Neste sentido, a empresa segue o sistema lean de produção, baseado no sistema Toyota. Um modelo enxuto que prima pela eliminação dos desperdícios em cada passo da cadeia, melhorando a qualidade e diminuindo os custos. Não há estoques: o fornecedor entrega na antevéspera da fabricação. Além disso, não há montagem em série, as máquinas são montadas segundo a demanda. Outro investimento da Valtra é na questão de biodiesel. Ela foi a primeira empresa a autorizar o uso de biodiesel B-20 em seus tratores, com garantia de fábrica. Foram 3,5 mil horas de teste com quatro tratores, o primeiro movido a 100% diesel, o segundo com B-5 de mamona, o terceiro com B-5 de soja e o quarto com B-20 de soja. No final, os motores foram desmontados e estavam perfeitos. Agora, a Valtra está em fase de testes com tratores movidos com B-50 e B-100. É aguardar para ver.