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A espera de meia hora, ou mais, por uma mesa na Choperia Pinguim, no centro de Ribeirão Preto (SP), no domingo à noite, é sinal de que tem muita gente de fora na cidade. No caso, foi mais uma confirmação da volta da Agrishow. A feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação não era realizada desde 2019, devido à pandemia da Covid-19. A dimensão da expectativa aparecia na fisionomia de quem estava na feira, expondo ou visitando, entre os dias 25 e 29 de abril. E ficou mais explícita com a divulgação dos números finais do evento.

Feira encerra com R$ 11,2 bilhões em negócios

“Muitos negócios acontecem nas semanas seguintes à feira, às vezes só dependem de aprovação de crédito“ Francisco Maturro Agrishow (Crédito:Divulgação)

Os negócios com máquinas agrícolas e equipamentos de irrigação e armazenagem ultrapassaram os R$ 11,2 bilhões. Praticamente o dobro da expectativa inicial, de R$ 6 bilhões, valor citado pelo presidente de honra da feira, Maurílio Biagi Filho, um mês antes da abertura do evento. Diante dos R$ 2,9 bilhões registrados em 2019, a expectativa até poderia ser considerada bastante otimista, mas no final das contas Biagi errou. Para menos. O presidente da 27ª edição da Agrishow, Francisco Maturro, preferiu não arriscar previsões, mas cravou que as transações poderiam ir além. “Muitos negócios poderão ser fechados nas próximas semanas, às vezes só dependem de aprovação de crédito”, afirmou às vésperas da abertura.

SETOR AQUECIDO O sucesso comercial na retomada do evento vem da combinação de fatores como a demanda represada nessa lacuna de quase três anos, o aquecimento do mercado de máquinas agrícolas e as inovações desses equipamentos. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Carlos Marchesan, não é necessariamente o preço ou o financiamento que define a compra, “é a demanda por esse produto e o que ele pode oferecer”. Tanto que as vendas de máquinas seguiram mesmo com a interrupção das feiras. Segundo dados da entidade, o setor cresceu 9% no primeiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período de 2021. Como a tendência é de seguir em alta, a Abimaq deve rever a projeção que era de 5% para este ano todo.
Se os negócios vão bem mesmo sem as exposições, melhor ainda com elas. “As feiras aumentam a demanda pela possibilidade de uma melhor negociação”, afirmou Marchesan. O agricultor pode conferir no mesmo lugar opções de diversos fabricantes, fazer comparações técnicas e avaliar as formas de aquisição para tomar a melhor decisão. Não por acaso, as apostas em novidades foram ainda maiores.

Pela primeira vez, a Massey Ferguson, empresa do Grupo AGCO, levou para a Agrishow lançamentos de todas as suas linhas, e já contando com o pós-evento. Segundo o diretor de Marketing da montadora, Eduardo Nunes, muitos negócios poderiam ser concretizados nos meses seguintes, e para isso acontecer os clientes já deveriam estar convencidos da aquisição. “Temos de entender o que realmente precisam e oferecer um produto palpável que entregue mais produtividade”. Segundo ele, os agricultores buscam eficiência e, se têm retorno, continuam investindo. Exemplo dessa otimização de máquina, insumos e recursos financeiros foi a apresentação do pulverizador MF 500R, equipamento que evita desperdícios de defensivos e aumenta em 10% a economia do motor. “Isso gera inclusive ganhos na questão ambiental”, afirmou Nunes.

Nesse campo, a joint venture entre Bosch e Basf Digital Farming (BBSF) anunciou sua primeira parceria na América Latina envolvendo a Solução de Pulverização Inteligente. O sistema combina hardware e software da Bosch; inteligência agronômica digital da Basf, com o módulo Smart Spraying no xarvio Field Manager; e o pulverizador Imperador 4000 Eco Spray, da parceira Stara. Esse combo tecnológico garante qualidade no manejo de plantas daninhas, com detecção das invasoras em tempo real e assertividade na aplicação do herbicida, mesmo durante a noite, por conta das câmeras, unidades de controle e unidades de iluminação.

CONECTIVIDADE Essa edição da Agrishow destacou ainda mais o conceito de agricultura digital, com integração total da cadeia produtiva, afirmou o presidente da Jacto, Fernando Gonçalves. A começar pela fazenda. “Com a ‘gestão à vista’ o agricultor controla tudo de um único lugar”, disse. O executivo se referia às facilidades da Jacto Next, área de serviços da companhia para agricultura 4.0, apresentadas em uma estação tecnológica no centro do estande. Um painel touchscreen disposto como uma mesa mostrava os ícones das máquinas de uma determinada fazenda. Ali, bastavam poucos toques para aparecer, em tempo real e em detalhes, o status de cada veículo. As informações surgiam ainda em outras telas ao redor, inclusive na do smartphone.

Grande desafio do setor é oferecer máquinas e equipamentos com diversas funções ativadas por telecomunicação, que nem sempre está disponível na área da fazenda, segundo a vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Ana Helena Andrade, que é responsável pela Câmara de Máquinas Agrícolas da entidade e também diretora de Assuntos Governamentais da AGCO do Brasil. Para ela, a conectividade é vital para o setor agrícola e traz outros benefícios importantes. “Contribui para que o produtor tenha acesso à telemedicina; para a atualização das escolas; e até para a melhoria de segurança”, disse.

A John Deere, mais do que apresentar o que suas máquinas podem render com a conectividade, aproveitou a parceria com a operadora Claro para transformar seu estande em um ecossistema inovador e surpreender os visitantes. “Queremos inspirar o agro, a produção agrícola no Brasil. E para ser inspiradora, a tecnologia precisa ser simples, fácil de aplicar e muito eficiente”, disse o diretor de Assuntos Corporativos Latam da empesa, Alfredo Miguel Neto. “É incrível pensar que dentro de dez anos poderemos dobrar a produção de grãos. Há quem acredite que vá além disso, o que será viabilizado pela tecnologia. E queremos ser relevantes nesse processo.”Com tanta novidade apresentada, a próxima edição já é aguardada De 1º a 5 de maio de 2023 o mercado voltará a se reunir e, quiçá, superar os R$ 11 bilhões de 2022.