10/06/2022 - 17:50
A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) entrou com representação no Ministério Público Federal (MPF) contra a Associação Brasileira de Angus (ABA) pelo fato de, na rotulagem da carne certificada pela ABA, não estar reconhecida a presença de genética de gado zebuíno (originário da Ásia, sobretudo Índia), apenas de gado taurino (caso do aberdeen angus, originário da Escócia, Europa).
Segundo nota da ABCZ, a entidade tem tentado “de forma consensual”, junto às instituições competentes, garantir o reconhecimento da presença da genética zebuína na carne certificada comercializada no País. “Sem sucesso nas tratativas, nos vimos obrigados a buscar a via judicial para validar o trabalho e a dedicação do criador de carne de Zebu”, disse a ABCZ, na nota.
A ABCZ afirma ainda que há provas científicas, como um estudo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), que comprova “que cerca de 50% da genética por trás dos produtos marqueteados com outros nomes é de Zebu, ou seja, são fruto de cruzamento”. A entidade avaliou que se deve, obrigatoriamente, “ser constatado o Zebu como componente real desta carne certificada e vendida apenas com o rótulo de taurinos”.
Procurada pelo Broadcast Agro, a Associação Brasileira de Angus disse, em nota, que não foi notificada oficialmente sobre a representação “supostamente apresentada pela ABCZ”. A entidade esclarece que o Programa Carne Angus Certificada obedece integralmente à legislação brasileira, respaldado pelo Ministério da Agricultura e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
A Associação do Angus apontou, ainda, que o Programa Carne Angus Certificada possui um protocolo de conhecimento público. “Além das exigências técnicas de acabamento e idade, todos os animais a serem abatidos precisam ter, no mínimo, 50% de genética Angus, admitindo-se, desta forma, presença de composição sanguínea de diversas outras raças, com exceção das leiteiras.”
Os bovinos da raça angus têm origem europeia e o marketing que envolve esta raça destaca a maciez da carne, justamente pelo fato de ter genética taurina (europeia). Entretanto, pecuaristas no Brasil fazem corriqueiramente o que se chama de “cruzamento industrial”, em que se cruza uma raça taurina com outra zebuína (principalmente o nelore), garantindo um animal de ganho de peso mais rápido, que é abatido mais jovem e, consequentemente, com carne mais macia.
Ainda conforme informações do site da Associação Brasileira de Angus (ABA), a carne angus é “certificada pelos técnicos credenciados da Associação Brasileira de Angus, através da identificação diferenciada da carcaça nas plantas frigoríficas certificadas”. E continua: “A identificação é realizada a partir da inspeção dos animais nos currais, atestando o padrão racial, e novamente na linha de abate, onde são avaliados individualmente quanto à conformação da carcaça, idade e grau de acabamento, sendo certificados apenas os animais que atenderem a todos pré-requisitos de qualidade”.