A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) afirmou nesta segunda-feira que a alta do dólar eleva custos nas importações do setor, indicando que o aumento do preço da farinha “será inevitável”, em um momento de compras externas mais elevadas da matéria-prima pelo Brasil.

“O significativo aumento da cotação do dólar segue impactando diretamente a indústria moageira nacional”, afirmou a Abitrigo em nota.

O dólar havia subido quase 28% frente ao real no acumulado do ano até esta segunda-feira. A moeda norte-americana valia cerca de 6,19 reais por volta das 15h50, um pouco abaixo das máximas históricas da semana passada, acima de 6,26 reais.

Além do fortalecimento mais acentuado do dólar frente ao real recentemente, o que amplia custos para um setor que importa parte de suas necessidades, a indústria de trigo do Brasil lida com uma safra de qualidade inferior em algumas áreas do país, após problemas com chuvas excessivas no Rio Grande do Sul.

Uma colheita reduzida no Paraná por outras intempéries também favorece o crescimento nas importações de trigo pelo Brasil em 2024, indicou a Abitrigo.

De janeiro a novembro, o Brasil importou 6,1 milhões de toneladas de trigo, alta de 62% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do governo.

Já no ano-safra 2024/25 (agosto/julho), a importação do cereal pelo país deverá crescer quase 9% na comparação com o período anterior, para mais de 6 milhões de toneladas, o maior volume em cinco anos, em meio a problemas climáticos nos dois principais Estados produtores de trigo do Brasil, estimou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no início do mês.

Segundo o presidente-executivo da Abitrigo, embaixador Rubens Barbosa, esse movimento de alta no câmbio “teve e continuará tendo impacto no preço do trigo e da farinha”.

A associação não indicou qualquer percentual de aumento do preço.

No mercado interno, base Paraná, o preço do trigo está em torno de 1.400 reais a tonelada desde setembro, quando a cotação passou a cair do nível de mais de 1.500 reais a tonelada, após a entrada da colheita no Estado, segundo o indicador do Cepea/Esalq.

O Brasil, que ainda depende da importação de trigo para complementar sua produção interna, enfrentou um “cenário desafiador em 2024, marcado por volatilidade nas cotações internacionais, adversidades climáticas e uma expressiva redução na produção nacional”, segundo a associação.

“Esses fatores, combinados com a valorização do dólar, já estão sendo refletidos nos custos dos moinhos, aumentando a pressão sobre toda a cadeia produtiva e indicando que o aumento da farinha de trigo será inevitável”, de acordo com o comunicado.

Embora o Brasil seja um grande importador de trigo, também exporta alguns volumes, o que reduz os suprimentos internos.

“Mesmo com uma possível redução na cotação do dólar, as exportações do Rio Grande do Sul (cerca de 1,5 milhão de toneladas) já foram realizadas, e haverá a necessidade de importação de trigo pelo Paraná”, disse a Abitrigo.

(Por Roberto Samora; com reportagem adicional de Fabrício de Castro)