30/12/2020 - 13:49
O coronel Flávio Carneiro tinha de entregar um documento das Nações Unidas aos representantes do governo angolano e dos rebeldes da União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita). Entrou no prédio enquanto as bombas caíam. A sala da repartição estava vazia. Caminhou pelas mesas, achou o carimbo necessário e, com o documento certificado, protocolou o papel antes de sair. Do lado de fora do edifício da Comissão Conjunta Político-Militar, os combates prosseguiam na capital angolana. E assim foi por três dias, após a Unita tentar tomar Luanda, reiniciando a guerra civil paralisada pelos acordos de paz de Bicesse, em Portugal.
O brasileiro era um dos 350 observadores da força de paz Unavem 2, que fiscalizava o acordo que previa a formação de um exército nacional angolano, com a desmobilização da guerrilha e eleições presidenciais. Tudo ia bem até que Jonas Savimbi, o líder da Unita, foi derrotado no primeiro turno das eleições, em 1992, pelo presidente José Eduardo dos Santos, líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
“Ele dizia que era a última ponte para a paz. E então resolveu dinamitá-la”, conta Carneiro.
A Unita atacou em 30 de outubro. E foi derrotada.
O fracasso da paz levaria a outro acordo. E lá estaria de volta a ONU. Desta vez com tropas e, entre elas, um batalhão brasileiro.
O contingente do Brasil chegou a Angola em 1995. Em 1996, a missão coube aos homens do general Adhemar da Costa Machado Filho, filho de um ex-combatente da 2.ª Guerra Mundial. “Conversei muito com meu pai sobre a missão.”
Desembarcaram em Lobito e foram à base em Cuito. “A Unita nos via com desconfiança e, sob a liderança de Savimbi, dificultava ao máximo o processo de paz.”
Foi assim até o fim da missão, quando a Unita retomou a guerra. “Tinha para mim que só com o afastamento de Savimbi o processo de paz andaria”.
Savimbi morreu em combate em 2002. A guerra acabou em seguida. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.