O sentimento que permeia atualmente o setor brasileiro do algodão é o de alívio e de vitória. Após a longa batalha com um painel na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra subsídios do governo americano aos produtores de algodão, o chamado contencioso do algodão teve um final feliz. No início de outubro, Brasil e Estados Unidos encerraram o caso. “Trata-se de um acordo extraordinário para o segmento, pondo fim a um impasse que já durava 12 anos”, disse o ministro da Agricultura, Neri Geller. O Brasil embolsou US$ 300 milhões, pagos pelos EUA no mesmo mês e repassados ao Instituto Brasileiro  do Algodão (IBA). “É muito gratificante saber que acreditamos na causa, que foi uma luta árdua, mas o País foi respeitado e saiu vitorioso”, afirmou João Carlos Jacobsen, vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que vai assumir o comando da entidade em dezembro.  “O Brasil alcançouum novo patamar de credibilidade internacional e hoje tem condições de levantar questionamentos sobre qualquer cultura ou produto.” 

Segundo Jacobsen, o setor está satisfeito com o desfecho diplomático. “Uma possível retaliação comercial criaria transtornos para o Brasil e para os Estados Unidos, e ninguém teria uma grande vantagem com isso”, diz. “Fizemos o melhor acordo possível.” Essa indenização vai se somar a outros US$ 505 milhões, que foram acordados anteriormente durante o processo do contencioso. Esses recursos, que antes deveriam ser aplicados basicamente na capacitação do setor, agora também podem ser investidos em logística, infraestrutura e pesquisa. “Houve uma flexibilização importante no memorando de entendimentos que abre um leque de novas oportunidades para nós”, afirma Jacobsen. Há ideias de investir no terminal portuário de Salvador para favorecer as exportações de algodão e construir um terminal na região Norte. Outra possibilidade é apostar em pesquisas para combater pragas e doenças, principalmente o bicudo, mas ainda não existe um plano concreto. “Vamos retomar as conversas do setor e decidir como direcionar esses recursos.” 

A conquista não foi apenas financeira. O acordo limitará as garantias de crédito às exportações americanas a um prazo de 18 meses, a metade do praticado até agora. Além disso, essa medida se estende a outras culturas, como a soja. “Com a redução do estímulo à exportação, a competitividade dos Estados Unidos ficará num patamar mais próximo ao de outros países produtores.” Com o acordo, em contrapartida, o setor do algodão se comprometeu a não contestar a nova Farm Bill americana, a lei agrícola em vigor até 2018.