22/09/2022 - 18:40
Candidato ao governo da Bahia, ACM Neto (União Brasil) afirmou ao Estadão que sempre se identificou como pardo. No pleito deste ano, a autodeclaração do ex-prefeito de Salvador tem gerado controvérsias. Ele avalia que críticas representam “falta de caráter” e “desespero” dos adversários. O candidato também negou ter passado por qualquer procedimento de bronzeamento artificial.
Conforme levantamento do Datafolha, divulgado na quarta-feira, 21, ACM Neto lidera a disputa na Bahia com 48% da intenção de voto. Mas a vantagem sobre o segundo colocado, Jerônimo Rodrigues (PT), voltou a diminuir e, agora, é de 17 pontos porcentuais.
“Sempre me identifiquei como pardo. Veja que em 2016, quando não havia fundo eleitoral, não havia financiamento partidário e não havia definição de cotas, eu já me autodeclarava dessa forma. É assim que eu me identifico e a autodeclaração, entendo eu, que é resultado da sua identificação”, disse.
Em 2020, o TSE decidiu que a distribuição dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e do tempo de propaganda eleitoral gratuita deve ser proporcional ao total de candidatos negros que o partido apresentar ao pleito.
Segundo ele, seus adversários não têm o que falar dele. “Então criam esse tipo de discussão que não tem absolutamente nenhum impacto concreto sobre as pessoas, pra tentar desviar o foco do essencial que são os problemas da Bahia.”
Ele também deu a entender que os questionamentos relativos a sua autodeclaração se dão por não ser um “político de esquerda”. “Quando você olha do lado dos meus adversários que estão me atacando, o atual governador da Bahia, Rui Costa, do PT, que tem uma cor de pele igual a minha, também se declarou pardo quando disputou a eleição em 2018. O candidato a vice-governador do PT que tem uma cor de pele igual a minha, também se declarou pardo agora nessa eleição, Geraldo Junior. A deputada federal Alice Portugal do PCdoB que é muito mais clara do que eu, tinha uma declaração anterior de branca e agora se declarou parda”, declarou.
“Agora toda essa discussão acontece em torno de mim, por quê? Somente políticos de esquerda podem ser pardos ou se autodeclararem como pardos? Eu não entendo isso, não concordo e estou muito tranquilo em relação a isso”, completou.
ACM Neto também pediu respeito, pois, na opinião dele, na política “não vale tudo”. “Existe um limite para as coisas. A pessoa tem que ser respeitada na sua individualidade, como se enxerga, a gente tem que respeitar as pessoas.”
‘Bronzeado’
A polêmica alcançou o ápice quando, em entrevista à TV Bahia, afiliada da Rede Globo, no último dia 12, ACM Neto foi questionado sobre a autodeclaração. “Eu me considero pardo. Você pode me colocar ao lado de uma pessoa branca, há uma diferença bem grande. Negro não, jamais diria isso”, disparou o candidato. Ao ser explicado que pardos compõem a população negra segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o candidato reagiu: “Então o erro é do IBGE, não é meu. Simplesmente isso”.
Internautas também apontaram que ele estava “bronzeado”. Ao Estadão, o candidato negou ter passado por qualquer procedimento de bronzeamento artificial.
“Só quem pode ter feito esse comentário é quem vive dentro de gabinetes com ar condicionado. Porque eu vivo – e esses dias, principalmente – no chão, andando pelas ruas da Bahia, ou em cima de um carro em carreata”, afirmou. “Esse tipo de comentário ou de questionamento é uma palhaçada. Inclusive, se quiser, mande examinar minha pele.”
Justiça eleitoral
Conforme mostrou o Broadcast/Estadão, Jorge X, candidato a deputado federal pelo PSOL, entrou com ação na justiça eleitoral, argumentando que o ex-prefeito de Salvador e sua vice na chapa, Ana Coelho, cometeram crime de abuso de poder econômico ao se declararem pardos. Ele sustenta que ambos teriam vantagens financeiras em relação aos adversários porque teriam acesso às cotas partidárias para candidatos negros.
Neto nega qualquer interesse financeiro com a autodeclaração. A vice, por sua vez, mudou a declaração racial para branca. Segundo o ex-prefeito, isso ocorreu pois ela “não aceitaria receber nenhuma cota como mulher parda”. “Ela não era da política, nunca tinha disputado nenhuma eleição, então quando identificou que o registro foi feito desta forma, foi lá e corrigiu.”