“Se não houver investimentos no setor, os preços deverão explodir no mercado internacional”

Arnaldo Luiz Corrêa, gestor de riscos, especialista em commodities agrícolas, diretor da Archer Consulting e coautor do livro Derivativos Agrícolas

A alta dos preços do álcool, levando o consumidor a dar preferência à gasolina nas bombas, desencadeou uma discussão sobre a razão pela qual o etanol, produto essencialmente brasileiro, está apresentando preços não mais competitivos em relação à gasolina. As razões, muito mais relacionadas às questões de mercado, como custo de produção, demanda e oferta, têm origem no cenário atual do setor: dois produtos, açúcar (base da indústria alimentícia) e etanol (combustível e fonte energética), que competem entre si por seu espaço nas safras, custos e nos investimentos dos produtores.

Estimativas apontam que a produção da safra de canade- açúcar 2011/2012 do Centro-Sul do Brasil, iniciada em abril, deverá ser de aproximadamente 560 milhões de toneladas. Portanto, se considerarmos a demanda de etanol no mercado interno e a performance de exportação do açúcar, certamente teremos um estoque de passagem bastante restrito no final da próxima safra, repetindo, assim, a alta de preço do combustível a que estamos assistindo.

Dois fatores principais confirmam essas estimativas. O primeiro deles são as perspectivas de crescimento econômico, principalmente na China e Índia – cujos PIBs devem crescer em torno de 8,7%, segundo a revista inglesa The Economist –, o que ajudará a empurrar as cotações das commodities para cima. O segundo fator é o aumento da fatia de carros flex no Brasil, que vai passar de 38% da frota para 45% da frota total de veículos leves. Essas condições trazem firmeza ao mercado e fazem com que os preços continuem em alta, tornando o setor sucroalcooleiro pujante nos próximos anos.

Para reforçar essa ideia, estimativas apontam que o mercado de exportação de açúcar será de 32 milhões de toneladas em 2017/2018. Nesse mesmo ano, o mercado interno seria de mais um milhão de toneladas de açúcar por mês. Some-se a isso o mercado consumidor de etanol hidratado (flex) e anidro (mistura de 25% na gasolina) que somariam 53 bilhões de litros. No entanto, para atender a essa demanda – açúcar e etanol, mercado interno e externo – a expansão para as próximas safras deverá ser robusta. Isto é, o Brasil precisará esmagar, pelo menos, um bilhão de toneladas de cana daqui a seis anos, o que exigirá investimentos significativos no setor, da ordem de 50 bilhões de dólares, para alcançar esses números.

Escolha: “O usineiro deve dar prioridade ao produto que melhor lhe remunera”

Se não houver investimentos no setor, o preço do açúcar deverá explodir no mercado internacional, considerando o aumento de demanda em outras frentes, como no consumo interno de etanol e açúcar. Esse pode ser o gatilho para a liberação do mercado de combustíveis internamente. Afinal, esse é o principal entrave para que o etanol se torne, de fato, uma commodity, pois no Brasil não temos um mercado livre de combustíveis, já que o preço da gasolina é determinado pelo governo e, por sua vez, serve de referência para o do etanol. Isso impede a transparência e a segurança ao produtor e, sobretudo, a visibilidade de preço ao investidor.

Portanto, os preços elevados do açúcar no mercado internacional incentivam as usinas a produzir o máximo que puderem. Enquanto isso, o etanol entra na disputa com um limite de remuneração, baseado na paridade com a gasolina, cujo preço é controlado indiretamente pelo governo. Por isso mesmo, o usineiro deve dar prioridade ao produto que melhor lhe remunera.