De no que der a questão do “impeachment”, toda a fervura política para organização de uma nova governança brasileira já provocou um resultado positivo: a discussão da estratégia comercial brasileira no exterior, que nos últimos 10 a 15 anos priorizou as “relações Sul-Sul”, dando peso maior aos países emergentes (além do Mercosul).

Muitos acham que foi um equívoco, pois teria impedido o país de avançar em acordos multilaterais com os polos mais dinâmicos da economia mundial – uma tendência que marcou o comércio global na última década, com o impasse das negociações no âmbito da OMC – Organização Mundial do Comércio.

Tanto é que nesse período floresceram vários pactos multilaterais de comércio em todos os continentes, até o recente e gigante Tratado Transpacífico entre EUA, Japão e mais dez países (2015), envolvendo economias que representam cerca de 40% da produção mundial.

Foram cerca de 80 Acordos Internacionais Preferenciais de Comércio desde 2005¹ e, de um modo geral, o Brasil esteve fora desse jogo. Pior, embora sendo uma das grandes economias do mundo, os países com os quais temos acordos representam somente cerca de 10% do comércio mundial.

Agora, parece que esse tema voltou à pauta e já se fala em estratégias para se fortalecer exportações, por meio de acordos comerciais com os principais mercados do mundo. Uma boa notícia é que o agronegócio engaje-se nesse debate com fé e atitude. Apesar do protagonismo atual do Brasil no comércio internacional de produtos agropecuários, o setor ainda pode construir muito em termos de oportunidades em novos mercados e integração nas cadeias globais de produção alimentar e de fibras.

Não vamos ter ilusões: em todo o mundo, o Brasil é visto como potência do agronegócio. Portanto, o país não terá vida fácil em negociações globais tipo OMC.  De outro lado, o Brasil é ao mesmo tempo um parceiro relevante e pode buscar oportunidades e alianças estratégicas em todo o globo.

E não se pode pensar pequeno em uma hora dessas. Claro que é fundamental crescer e rentabilizar o comércio brasileiro de commodities agropecuárias, pois temos uma expertise única nisso. Mas também é preciso “descomoditizar” e comercializar produtos e serviços de valor agregado.

Como mostram casos bem sucedidos como o da rede Giraffas (fast food e casual food) nos Estados Unidos.  Ou o exemplo da Agropecuária AH, que produz café com certificação internacional, conferindo um diferencial de origem ao seu produto, que hoje está abastecendo diretamente clientes europeus. Sem falar das oportunidades em inteligência agropecuária tropical, como uma EMBRAPA ou um pequeno CEA-IAC, cuja expertise em avaliação de equipamentos para proteção de cultivos já cruzou o Atlântico.

Esses são apenas alguns exemplos. O agronegócio tem muitos outros e pode ampliar o seu papel de protagonista também sob esse novo olhar para o nosso comércio internacional. Afinal, o país é o segundo maior player do comércio agrícola mundial (atrás apenas dos EUA) e tem muito a dar (e a ganhar) em uma real estratégia multilateral de comércio exterior. Em política comercial, o Brasil precisa entrar definitivamente no século XXI.