23/09/2020 - 12:06
O chefe do departamento de Estatísticas do Banco Central (BC), Fernando Rocha, destacou nesta quarta-feira, 23, que o superávit de US$ 3,721 bilhões nas transações correntes de agosto foi o quinto resultado positivo consecutivo do setor externo. “Olhando os resultados mais recentes da balança de pagamentos, é possível notar uma mudança significativa de trajetória a partir do fim do primeiro trimestre do ano, com uma redução consistente no déficit de transações correntes”, afirmou.
Rocha destacou a redução em US$ 30 bilhões do déficit em transações correntes desde março. Em 12 meses até agosto, o saldo está negativo em US$ 25,446 bilhões, ante um déficit de US$ 55,544 bilhões nos 12 meses até março deste ano.
Rocha avalia, porém, que as incertezas decorrentes da pandemia e seus impactos continuam a pesar sobre a entrada de Investimentos Diretos no País (IDP). Os Investimentos Diretos no País somaram US$ 1,430 bilhão em agosto, informou hoje o BC. Em 12 meses até agosto, a entrada de IDP soma US$ 54,461 bilhões, ante um déficit de US$ 25,446 bilhões no balanço de pagamentos no mesmo período.
“A entrada de IDP ainda tem um fluxo robusto, suficiente para financiar o déficit em transações correntes. As contas externas do País permanecem bastante sólidas e robustas. O impacto da crise é mais sentido na redução do déficit de transações correntes do que na entrada de investimentos”, completou.
Transações correntes
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central destacou, ainda, que todos os componentes do balanço de pagamentos foram impactados pelos efeitos da pandemia de covid-19 em agosto. As transações correntes registraram superávit de US$ 3,721 bilhões no mês passado, ante um déficit de US$ 3,032 bilhões no oitavo mês de 2019.
Rocha apontou que a conta comercial melhorou o superávit nessa comparação, enquanto as contas de serviços e renda primária apresentaram redução nos seus respectivos déficits. “As transações correntes no Brasil têm um comportamento anticíclico. Em momentos de crise, as contas aumentam o superávit ou reduzem o déficit, em sentido contrário ao da atividade econômica”, explicou.
O representante do BC lembrou que a diminuição da atividade na crise reduz lucro de empresas, e com isso o lucro remetido ao exterior é menor. “Com a desvalorização cambial, o valor em dólares das remessas também é menor”, acrescentou.
Conta de serviços
Fernando Rocha disse, ainda que 63,9% da redução total do déficit na conta de serviços no acumulado de janeiro agosto deste ano se deve à conta de viagens para o exterior. No acumulado do ano até agosto, o déficit na conta de viagens soma R$ 13,727 bilhões, ante um saldo negativo de US$ 23,087 bilhões no mesmo período de 2019. Na mesma comparação, o déficit em viagens passou de US$ 7,872 bilhões para US$ 1,892 bilhão.
“As viagens internacionais são muito afetadas pelas limitações de deslocamento durante a pandemia de covid-19, sobretudo em relação aos deslocamentos aéreos”, destacou. “Permanece uma situação de restrições muito significativas”, concluiu.
O integrante do BC também destacou a redução significativa nas remessas líquidas de lucros e dividendos para o exterior em agosto. Essas remessas de companhias instaladas no Brasil para suas matrizes foram de US$ 276 milhões em agosto, ante US$ 3,339 bilhões enviados em igual mês do ano passado, já descontados os ingressos.
“Houve um aumento de 21% nas receitas de lucros e dividendos no mês, refletindo o início de alguma melhora na economia internacional. Já os envios caíram 67%, mostrando que o cenário continua desafiador para as empresas de capital estrangeiro que atuam no Brasil. Ainda assim, essas companhias permanecem auferindo lucros, ainda que em menor magnitude”, acrescentou.
Rocha também avaliou que parte da redução do pagamento líquido de juros ao exterior deve-se à queda das receitas. As despesas com juros externos somaram US$ 925 milhões em agosto, ante US$ 1,364 bilhão em igual mês do ano passado. No acumulado do ano até agosto, essas despesas alcançaram US$ 15,079 bilhões.
Recuperação
Fernando Rocha, afirmou, por fim, que o volume de entrada de US$ 210 milhões em transferência pessoal em agosto reforça a avaliação de que já alguma recuperação internacional. “O câmbio também reforça tendência de envio de recurso para o Brasil via transferências pessoais. As pessoas aumentam os volume remetidos para seus familiares para aproveitar esse momento do câmbio”, completou.