Levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU) feito em 2022 mostrou que o Brasil desperdiça, por ano, cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos em todo seu território. Estima-se que 80% dessas perdas aconteçam entre manuseio, transporte e nas centrais de abastecimento. Os produtos mais atingidos são frutas e hortaliças. Para tentar reduzir esse problema, a rede de fazendas urbanas BeGreen encurtou a distância entre a colheita e o consumo.
A empresa instalou sua primeira unidade na capital paulista, e a terceira no estado de São Paulo, no topo do Plaza Sul Shopping para abastecer a praça de alimentação e restaurantes da região ao redor. Em uma área de 570 metros quadrados serão produzidos por mês até 1.841 quilos de hortaliças frescas, isso significa uma oferta mensal de 1,3 mil pés de alfaces, folhosos e temperos cultivados pelo sistema de hidroponia e livres de agrotóxicos.

OFERTA Em uma área de 570 metros quadrados serão produzidos por mês até 1.841 quilos de hortaliças frescas, isso significa uma oferta mensal de 1,3 mil pés de alfaces, folhosos e temperos cultivados (Crédito:Divulgação)

“Começamos a testar essa tecnologia em 2015 em uma fazenda convencional em Betim, em Minas Gerais, justamente para conseguirmos ficar mais próximos dos clientes e, assim, evitar perdas com excesso de manuseio”, afirmou o fundador da BeGreen, Giuliano Bittencourt. A ideia surgiu no período em que realizou um trabalho de aceleração de startups no governo de Minas.

Quando ainda pouco se falava em startups no Brasil, teve a oportunidade de ir para o Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, onde pode conhecer novas tecnologias e falar do que se fazia por aqui. No início dos estudos no MIT, identificou que um dos problemas das cadeias de alimentos era o fato de serem muito longas. Entre o produtor rural e a mesa do consumidor, há o agregador, o Ceasa e o varejo. “Nesse caminho, quase 70% de tudo que é produzido acaba indo para o lixo”, disse. E pode piorar. O relatório Closing the Food Waste Gap, do Boston Consulting Group, mostra que todo ano o mundo joga fora um terço da comida que produz. Nesse ritmo, até 2030 a humanidade deve desperdiçar 2,1 bilhões de toneladas de alimentos, totalizando uma perda de US$ 1,5 trilhão.

Por isso, além de aproximar produção e consumidor, a BeGreen incentiva seus clientes a conhecerem mais sobre o cultivo do alimento e a entenderem que verdura não precisa de aditivos para chegar fresca ao prato. O trabalho chamou a atenção do grupo Aliansce Sonae, dono do Plaza Sul Shopping, que por esse e outros motivos se tornou sócio do empreendimento. Pioneira em fazendas urbanas na América Latina, com produção de cerca de 20 toneladas de alimentos por mês, a BeGreen já conta com oito unidades espalhadas pelo Brasil, cinco delas criadas nos últimos 12 meses.

EXPANSÃO De acordo com o pesquisador da Embrapa Hortaliças, Ítalo Guedes, apesar de ainda ser muito novo no Brasil, o cultivo indoor é o que mais cresce no mundo. “O ambiente é totalmente controlado e sem os riscos comuns das hortas tradicionais, além de encurtar a cadeia”, disse. Essa aproximação entre quem produz e quem consome ganha relevância quando se considera que metade das perdas de frutas e hortaliças ocorre no transporte, gerando prejuízos de até R$ 40 bilhões.

A nova modalidade reduz essas perdas, elimina o uso de produtos químicos, diminui a necessidade de terras e aumenta a eficiência na utilização de água e outros insumos. “Por isso, consegue produzir a mesma quantidade com 95% menos água do que os sistemas tradicionais e entre 50% e 70% menos adubos”, afirmou Guedes. O pesquisador explica que numa fazenda vertical cada metro quadrado é multiplicado pelos andares, sendo que cada colheita pode ser até 10 vezes maior que no metro quadrado do cultivo convencional.