Rodrigo Franco Dias*

A agricultura brasileira vive um daqueles momentos de ambiguidade. Enquanto os números de produtividade no campo são recordes, especialmente no centro-oeste, no caixa os resultados não são nada animadores. Fechamos o mês de maio com os preços das commodities derretendo. O milho, por exemplo, fechou julho com desvalorização de 43,18% comparado ao mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA).

Os motivos para essa queda nos preços são muitos e nem é meu objetivo fazer aqui uma análise de mercado. Como agrônomo, mestre em agricultura de precisão, meu desafio está sempre antes da porteira, o que me faz questionar as prioridades na hora do planejamento da lavoura: produtividade ou rentabilidade? A cada atendimento, noto que o objetivo mais perseguido pelos produtores é a produtividade. De fato, é um valor importante. Produzir mais por hectare é sinal de eficiência e de sustentabilidade, mas nem sempre de rentabilidade.

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É preciso equilíbrio. Sistemas de produção que não entregam lucro ao produtor precisam ser repensados, mesmo em situações como desta última safra, período de hiperinflação no custeio, motivada pelos fertilizantes e defensivos. O caminho é olhar a área por ambientes de produção. Nem sempre a receita agronômica para uma área é a mesma para o talhão ao lado. Podem ser até espacialmente semelhantes, mas seus objetivos envolvem decisões específicas e pontuais. Também nem sempre a solução é adubar. Ficou para trás o tempo de que consultoria agronômica se resumia em amostragem de solo e correções com fertilizantes.

O conceito de ambiente de produção considera interação entre seis fatores: solo, temperatura, disponibilidade hídrica, radiação, investimento e pragas. É a união destes elementos que vai definir se teremos um ambiente de alto ou baixo potencial, também o caminho que vai nos levar à tão almejada produtividade otimizando recursos. Porque o sucesso de uma safra não está no uso da semente de última geração ou no melhor fertilizante, está na informação sobre aquele ambiente de produção, que indica qual a melhor combinação a fazer entre genética, solo e manejo.

É neste momento que os algoritmos entram como solução. A agricultura digital responde essas questões, faz análise por talhões e, o mais importante, apresenta soluções economicamente viáveis. A jornada começa pela coleta de dados, que precisam ser organizados e parametrizados. A partir deles, sabemos o que aconteceu, contudo para saber porque aconteceu, para onde vamos e como chegar, é preciso acrescentar o conhecimento dos dados. Apesar do assunto parecer novo, existem plataformas com mais de um milhão de hectares analisados em 10 estados brasileiros, informações que calibram os algoritmos e melhoram a experiência de inteligência dos dados, permitindo uma recomendação mais assertiva para cada ambiente da propriedade.

Na safra 22/23, por exemplo, identifiquei fazendas que mantiveram suas médias de produtividade. Porém, com a estratégia de manejos específicos por ambiente de produção calibrada pelos algoritmos, foi possível melhorar a rentabilidade por hectare em até 20%. Em outra
propriedade, localizada na Bahia, a estratégia de manejo adotada servia para apenas 5% da área e, com as mudanças, o resultado foi três vezes mais eficiente.

Enfim, do mesmo modo que os algoritmos, é preciso aprender com os acontecimentos. Não é a primeira vez que vivemos tempos de preços baixos — essa é uma variável que não se pode controlar. Mas da porteira para dentro, está nas mãos do produtor fazer mais com menos. Para isso, é preciso usar de todos recursos tecnológicos e superar a volatilidade do mercado com investimentos racionais, que apresentem economias significativas e retorno financeiro positivo.

*CEO da ConnectFARM, Engenheiro Agrônomo, Pesquisador, Mestre em Agricultura de Precisão, com atuação nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Matopiba. Focado em análise de dados e desenvolvimento de tecnologias. Também é produtor rural na cidade de Cachoeira do Sul (RS)