Uma colheita de energia

 

Poucos países podem se gabar de ter um potencial tão grande para produção das chamadas energias limpas quanto o Brasil. Seja na área de combustíveis, com o etanol e o biodiesel, seja na geração de eletricidade com as Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCH) e parques eólicos, o País possui programas bem estabelecidos e já figura como um dos principais geradores desse tipo de energia. Para se ter ideia, dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que cerca de 45% da matriz energética brasileira é gerada a partir de fontes alternativas – um modelo que é bom para o meio ambiente, ajuda na economia e pode ser melhor ainda para o agronegócio do País. A crescente demanda por esse tipo de energia tem transformado esse modelo em um atraente negócio para produtores rurais, que podem utilizar os recursos naturais de suas fazendas e faturar colhendo não apenas grãos, mas também eletricidade e combustível. “O campo brasileiro terá cada vez mais participação na geração de energia devido às grandes extensões das propriedades rurais”, explica o secretário executivo do Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidroelétricas (CERPCH), Geraldo Lucio Filho.

Eólica

Etanol

Biodiesel

Hidroelétrica

 

Uma colheita de energia

Segundo os números da CERPCH, o Brasil produz atualmente cerca de 3,2 mil megawatts por meio das PCHs, o que corresponde a cerca de 3% de toda a energia elétrica do Brasil. A estimativa é de que até 2020 o volume chegue a dez mil megawatts. Não à toa, pesospesados do agronegócio, como o megaprodutor de soja Eraí Maggi, estão investindo nesse setor. “Vamos gerar cerca de 150 megawatts por hora em nossas fazendas”, diz.

Mas entrar nesse tipo de negócio exige muito estudo e uma boa dose de investimentos. “O produtor precisa estar atento para todos os detalhes dos contratos, que costumam ser de longa duração”, ressalta Geraldo Lucio Filho.

Uma forma de levantar recursos para esse tipo de empreendimento é firmar contratos de vendas futuras de energia, que em média estabelecem um prazo de quatro anos. Os contratos funcionam como garantia para conseguir empréstimos nos bancos. O secretário chama a atenção para o perfil desse tipo de negócio. “Quem vai entrar nesse setor precisa ter em mente que se trata de um investimento com retorno a longo prazo”, diz. Hoje o custo médio para a implantação de um projeto de PCH é de R$ 4 mil por megawatts. Enquanto que a tarifa paga é de R$ 155 o megawatts. “Mas se tem um ganho extra com a economia de energia na propriedade.”

Outra modalidade que vem ganhando força no campo são os parques eólicos, que geram energia por meio do vento. Em 2005 a energia gerada pelo vento não chegava a 30 megawatts. Cinco anos depois, a estimativa é de que sejam gerados 836 megawatts. “O campo tem uma participação importante nessa expansão”, explica o diretor executivo da Associação Nacional de Energia Eólica (Abeólica), Pedro Perreli. Mas, diferentemente das PCH, os altos investimentos necessários são uma grande barreira para os produtores participarem como investidores nesse negócio. A estimativa é de que um parque com capacidade para produzir de 25 a 30 megawatts/ hora exija investimentos na ordem de R$ 4 milhões. “O mais comum é os produtores arrendarem áreas para empresas especializadas, negociando participação no negócio”, explica Perreli, que alerta para a necessidade de estudar bem o terreno e a viabilidade do projeto antes de formar parcerias. “É preciso analisar a bacia eólica da região, já que os contratos costumam ser de pelo menos 20 anos”, diz.

CAMPO ELÉTRICO

Produção de energia a partir de fontes renováveis vem crescendo nos últimos anos

Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)

 

 

Uma colheita de energia

45% é a participação

Das energias geradas a partir de fontes renováveis na Matriz energética brasileira.

A produção de matérias-primas para a produção de etanol e biodiesel são outras alternativas para quem quer “surfar” na onda da energia limpa. “São tecnologias a respeito das quais o Brasil possui papel de destaque e com potencial, sobretudo com a criação de um mercado mundial”, ressalta o coordenador do departamento de combustíveis renováveis do Ministério de Minas e Energias, Marlon Arraes.

Depois de tropeçar nos altos custos de produção e na falta de matéria-prima, o programa de biodiesel começa a deslanchar no País. Hoje o consumo desse combustível é de 2.4 bilhões de litros ao ano. Mas a capacidade instalada do Brasil é de 4,7 bilhões. “Hoje o desafio é aumentar o mix de matérias-primas”, analisa Arraes. Já no caso do etanol, a crescente demanda de carros flex no Brasil deve impulsionar o setor nos próximos anos, enquanto a sonhada abertura do mercado internacional não acontece. Hoje a produção nacional é de 28 bilhões de litros por ano e a estimativa é de que em 2019 esse número chegue a 64 bilhões. “Estamos trabalhando para tornar o etanol uma commodity o que, com certeza, abrirá ainda mais oportunidades para o setor agrícola brasileiro”, finaliza.

Choque na fazenda

Produzir energia pode ser um bom negócio para a sua fazenda

PCH

É possível vender contratos futuros para financiar implantação. Produção atual é de 3 mil MW, com potencial para produção de 10 mil MW

Eólica

É possível arrendar terras para empresas e ter participação no negócio. Produção atual é de 826 MW, com potencial para produzir 107 mil MW

Etanol

Possibilidade da criação de um mercado mundial pode elevar produção, que hoje é de 28 bilhões de litros. Potencial é de 64 bilhões de litros

Biodiesel

Produção de matérias- primas em pequenos propriedades. Produção atual é de 2,4 bilhões de litros, com potencial para 4,7 bilhões de litros