Após mais de 12 horas de discussões com credores, a AgroGalaxy conseguiu aprovar seu plano de recuperação judicial com apoio de 82,4% dos créditos votantes. Segundo o CEO da companhia, Eron Martins, a construção do acordo exigiu uma série de ajustes feitos ao longo da assembleia, que terminou na madrugada desta quinta-feira (10).

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“Sempre buscamos escutar o fornecedor e entender quais adaptações eram possíveis sem comprometer o plano”, disse nesta quinta o executivo, durante coletiva de imprensa.

Uma das principais negociações envolveu o Banco do Brasil, maior credor individual da empresa, com R$ 391 milhões a receber. Segundo Gustavo Salgueiro, advogado da AgroGalaxy, o banco chegou a pedir o adiamento da votação por 30 dias, alegando falta de tempo para avaliar as alterações protocoladas no início do mês.

A proposta foi rejeitada pela maioria dos presentes – 1.136 votos contra, 79 a favor e 23 abstenções. Depois disso, o banco decidiu não converter seus créditos em ações da companhia, optando por receber debêntures tradicionais de longo prazo.

Outra mudança de última hora, segundo Salgueiro, foi a inclusão de uma modalidade de pagamento em dólar, limitada a até US$ 45 milhões. O objetivo foi atender fornecedores estrangeiros, sobretudo multinacionais, cujas matrizes exigem contratos em moeda estrangeira.

Para Eron Martins, a alternativa foi possível porque a empresa já tem parte de suas receitas em dólar em algumas operações, o que, nas palavras dele, cria um “hedge natural” – ou seja, uma compensação automática entre receitas e despesas na mesma moeda, evitando impactos negativos de variações cambiais.

A assembleia também formalizou uma categoria especial de credores, chamada de “credores parceiros” – fornecedores que mantiveram entregas mesmo após o pedido de recuperação judicial e que apoiaram a proposta. Para esse grupo, foram estabelecidas condições mais favoráveis: pagamento integral, sem desconto, com dois anos de carência e prazo total de dez anos para quitação. O reconhecimento foi incluído no texto final do plano, segundo Salgueiro, como forma de preservar relações comerciais estratégicas.

Durante a reunião, representantes do Santander e da trading Louis Dreyfus Company (LDC) também pediram esclarecimentos sobre a venda de uma carteira de dívidas vencidas que será estruturada como uma Unidade Produtiva Isolada (UPI).

As dúvidas diziam respeito ao valor dos créditos, impacto no caixa e regras da venda. De acordo com Salgueiro, as respostas foram fornecidas ao longo da assembleia e incluídas nos anexos da versão final do plano.

Com a aprovação, o plano será encaminhado para homologação pela 19ª Vara Cível e Ambiental de Goiânia. A decisão judicial deve ser proferida nas próximas semanas. Enquanto isso, a companhia está consolidando os dados da dívida ajustada, com base nas opções de pagamento escolhidas por cada credor.