O assunto agroglifos ainda está nas principais rodas de conversa na pequena Ipuaçu, no oeste de Santa Catarina. Mesmo após a colheita do trigo e o plantio, é possível ver vestígios dos desenhos que surgiram em uma plantação de uma fazenda do município no início de outubro.

“Daqui da varanda ainda dá pra enxergar as marcas no campo”, conta o dono da propriedade, o agricultor Sérgio Girotto, de 62 anos. No mês passado, ele disse ao Estadão que “ninguém” viu como as formas geométricas com pentágono, círculos e um triângulo em meio ao trigo apareceram. “Acordei e já estava lá.”

Girotto afirma que cerca de 2 mil pessoas, entre curiosos, ufólogos e pesquisadores, estiveram desde o início de outubro em sua propriedade para ver os desenhos. Muitas, segundo ele, dizem acreditar em um trabalho de extraterrestres. “Depois que nós passamos as máquinas, muita gente ainda passava na rodovia e queria ver.”

“A gente fica matutando se é verídico ou se não é. Se foi feito por gente de outro planeta ou se foi feito por mãos humanas”, disse ele ao Estadão por telefone nesta quarta-feira, 9. “Entre acreditar e não acreditar, a gente ainda fica meio dividido”, completou, mantendo o ar de mistério.

Desde que o primeiro agroglifo foi encontrado no município, em 2008, Ipuaçu, de pouco mais de 7 mil habitantes, se tornou destino de ufólogos. Para reforçar a fama, a prefeitura assumiu o título de “cidade dos Ets”.

O que diz a ciência sobre os agroglifos?

Os primeiros relatos de desenhos identificados em lavouras datam da Idade Média. Na história mais recente, os agroglifos ficaram famosos na década de 1980, quando diversas formas começaram a aparecer no chão de campos de trigo e outros cereais na Escócia e na Inglaterra. Feitas a partir do achatamento da vegetação, as imagens geraram curiosidade e muitas teorias sobre sua origem começaram a circular, como ainda ocorre nos dias de hoje.

Mas, afinal, quais as explicações para os desenhos? Entre especialistas de várias áreas, é difícil encontrar quem corrobore a hipótese dos extraterrestres artistas. Segundo Adolfo Stotz Neto, astrônomo e presidente do Grupo de Estudos de Astronomia (GEA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a técnica de fazer os desenhos com tábuas e pedaços de corda, revelada por dois britânicos nos anos 1990, segue sendo utilizada hoje em dia para a criação dos recortes nas plantações.

Além da ação humana deliberada, existem processos naturais que podem causar o achatamento de colheitas. O fenômeno se chama acamamento, caracterizado pela queda ou pelo arqueamento das plantas. Segundo o agrônomo Luiz Henrique Skodowski, ele pode estar relacionado com o crescimento da planta ou por influência de diferentes fatores. “A planta, quando cresce demais, tomba por exemplo com a incidência de chuvas fortes e vento. São condições que ‘forçam’ ela a acamar”, esclarece.

Outras dessas condições são características genéticas da vegetação, como a espessura do caule; a resistência de suas bainhas (a parte que liga a folha ao caule); a altura e o peso de sua parte superior; formas de manejo e características da produção. Nas variáveis que dizem respeito à produção, o agrônomo cita a quantidade de plantas por metro, já que quanto mais numerosas, mais elas precisam se esticar para obter luz solar; a quantidade de raízes que dão sustentação à cultura e o suporte populacional, que ocorre quando uma planta “segura” a outra.

Para quem olha, o acamamento parece ter sido feito pela força de um agente externo, mas se trata de um estado que gera um achatamento aleatório que pode criar vários tipos de padrão na plantação, como círculos e linhas que se assemelham a um labirinto. Isso diferencia os desenhos causados naturalmente dos que aparecem em Ipuaçu, por exemplo. “Esses casos em específico, em que as formações são geometricamente perfeitas, são considerados ações manuais”, destaca Skodowski. (Colaborou Raisa Toledo, especial para o Estadão)