09/01/2015 - 13:28
A economia brasileira deve receber até 2018, investimentos que ultrapassam a marca dos R$ 4,1 trilhões, segundo estimativas divulgadas recentemente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A quantia é 17,1% superior ao previsto, no fim de 2009, para 2010-2013.
Deste total, R$ 1,6 trilhão deve ser destinado ao setor agropecuário brasileiro e de serviços, o que significa um aumento de expectativa de 11%, se for feito o mesmo comparativo dos dois períodos. De acordo com estudo do BNDES, os recursos não envolvem apenas os financiamentos do banco, mas outras fontes de fomento, abrangendo 22 setores da economia do País.
Para Felipe Prince Silva, economista-sócio da Agrosecurity Gestão de Agro-Ativos, é preciso ter cuidado com a avaliação da verba prevista pelo banco estatal. “Em seu estudo, o BNDES está agrupando “agricultura e serviços” em um mesmo item. O montante previsto de R$ 1,6 trilhões, portanto, refere-se aos dois setores simultaneamente, o que impossibilita a análise isolada do setor de agricultura apenas através desse relatório.”
“Assim sendo, recorremos aos dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e verificamos que, na safra 2013/14 (período entre julho/13 e junho/14), o total de crédito de investimento contratado por meio de recursos do BNDES, para o financiamento rural no Brasil, foi de R$ 41,78 bilhões”, destaca Silva.
Na opinião de Lucas Galvan, gestor da Área Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul), o dinheiro precisa ser investido nas rodovias, ferrovias e portos, além dos armazéns.
“O destino mais urgente dos recursos direcionados para a agropecuária, em nossa avaliação, é o investimento em infraestrutura de logística e armazenagem, dentre estes a construção e melhorias de portos. Em seguida, vêm os investimentos para aumentar a capacidade estática da armazenagem, principalmente na construção de armazéns nas propriedades rurais, garantindo assim maior competitividade para os produtores. Nessa mesma linha, também são prioridade investimentos em ferrovias e hidrovias”, avalia Galvan.
Para Pedro Arantes, consultor técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) do Estado de Goiás, o volume de investimento previsto pelo BNDES deixa a desejar: “É bom ressaltar que esse volume de investimento fica muito abaixo dos países que apresentam crescimento mais flexível. Fazendo um cálculo aproximado, isso vai ficar em torno de 17% a 18% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto que alguns países, como a China, ficam entre 35 a 40%. É um investimento ainda aquém do que a economia brasileira precisa”.
Segundo Arantes, observando mais detalhadamente, vale ressaltar que o caso da agricultura está abaixo do volume geral, em torno de 11%, e o total está com a taxa de crescimento de 17%.
“Alguns pontos fundamentais para o crescimento do agronegócio e da agricultura, que são os nossos grandes gargalos, que é na infraestrutura, os dados apontam resultados bastante animadores. Na infraestrutura, ficamos com 30,8%; quando vai para os portos apresentamos 141%; e nas ferrovias, 99%. Na logística têm investimentos que, se forem realizados, nos dá ânimo de que podemos contar com a redução de custo”, afirma o consultor do Senar Goiás.
“Hoje, por exemplo, temos um custo de 18 % acima de países, como os EUA e Argentina. Na agricultura, sabemos que saímos de uma fase boa para o setor. Teremos uns dois ou três anos de preços internacionais mais baixos que vão refletir nesse nível de investimento um pouco menor. Se tiver investimento na logística, vai reduzir custos e até podemos pensar que, nos próximos dois anos, o setor agrícola pode recuperar e ultrapassar esses volumes que constam aqui”, avalia Arantes.
Interpretando números
Para facilitar a leitura dos números do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o economista Felipe Silva, da Agrosecurity, elaborou uma tabela (veja abaixo), mostrando o histórico da evolução de crédito rural para investimentos nos últimos quatro anos.
“Fizemos uma projeção para os próximos quatro anos, baseada em três cenários. Isso irá nos auxiliar a isolar o número do BNDES, que está contabilizando crédito de investimento para serviços também. Os resultados obtidos para crédito de investimento rural foram: otimista, com R$ 213,24 bilhões até 2018, supondo uma taxa de crescimento de 10% ao ano, nesse período; pessimista, com R$ 129,2 bilhões no mesmo período com taxa negativa de crescimento de 10% ao ano, em igual período; e, por fim, neutro, com R$ 203,5 bilhões nos próximos quatro anos, supondo taxa de crescimento de 5% ao ano nesse período.”
De acordo com Silva, “no momento, está havendo uma diminuição do crédito de investimento contratado para a Safra 2014/15, em função de ter havido uma “antecipação” da demanda nos dois últimos anos devido aos baixos juros da linha PSI-BK (Programa de Sustentação de Investimento para Bens de Capital), que ocorreu até dezembro de 2013″. “O reflexo dessa antecipação foi a obtenção de números recordes de vendas de tratores e colheitadeiras em 2013”, acentua.
Além disso, para o economista, existem fatores como o aumento da taxa de juros e baixa dos preços das commodities, especialmente soja e algodão, que diminuem temporariamente a demanda do produtor rural em investir na atividade.
“Conversei com um analista de mercado, ligado a uma grande montadora, e ele disse que parece que o produtor está de ‘barriga cheia’, e por isso está comprando menos tratores e colheitadeiras. O ‘estar de barriga cheia’ reflete justamente a questão da antecipação da demanda já mencionada. Porém, no médio e longo prazo, deve persistir o aumento do crédito rural, pois os fundamentos do agronegócio são bons e ainda existe uma carência de tecnologia em diversas regiões do País.”
De acordo com Silva, apesar disso, na safra vigente está ocorrendo uma diminuição da demanda por crédito para investimento, devido aos fatores mencionados acima. “O que pode contribuir para alterar um pouco esse cenário no próximo ano é o câmbio, que tem se desvalorizado, o que melhora a receita obtida pela cadeia exportadora, como a soja, algodão, laranja, café e carnes.” Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura