Na quarta feira (19/08) o Governador Geraldo Alckmin publicou uma portaria que permite que Estado suspenda licenças de captação de águas superficiais e subterrâneas por particulares, priorizando para priorizar o abastecimento público na Bacia do Alto Tietê, onde vivem mais de 20 milhões de pessoas. Isso bem mais de um ano após o reconhecimento geral de que havia uma seca sem precedentes. A medida pode chegar ao cúmulo de proibir a vaca de beber água. Ou deixar aquela alface morrer de sede. Mas… Quais foram as medidas visando melhorar o abastecimento nas cidades? Quanto foi melhorado o desperdício nas linhas de abastecimento da SABESP? Quando, de fato, foi diminuído o mau gasto nas residências e indústrias?

É bom lembrar que todo o abastecimento de verduras, e de algumas frutas, depende da captação de água, seja superficial ou subterrânea. Em poucos dias assistiremos nova escassez, e preços maiores nas feiras, quitandas e supermercados nas cidades… Mais inflação. Medidas como essa, aparentemente populares, ou melhor, populistas, são tomadas levando em conta um número fornecido pela Agência Nacional de Águas: O Agronegócio consome 83% da água doce nos cultivos e cuidados com os animais. Este número é maior que o observado no exterior. Assustador, não? Mas, vale a pena repetir: toda estatística, bem torturada, revela qualquer coisa que se queira.

Vamos aprofundar um pouco. Como isso é calculado? Estes valores são apurados das permissões para captação de água. Então, a agricultura tem permissão para captar bem mais água do que as cidades. Isto é correto. Mas, o que acontece com a água depois que foi captada? Aqui a diferença faz toda a diferença. Nas cidades, depois do tratamento, a água vai para as casas, indústrias e outros usos, correndo depois, poluída, pelos esgotos, para a estação de tratamento (nem sempre), rios e mar. E na agricultura? A água é usada na irrigação, molha o solo, alimenta a planta, produz alimento. Depois, grande parte é infiltrada no solo, naturalmente filtrada e volta ao regato, pronta para abastecer as cidades. Outra parte é evaporada, vai para as nuvens e vira chuva. O ciclo é quase perfeito. Nas cidades temos água gasta, na agricultura água usada. São coisas bem diferentes.

Vale ainda lembrar que apenas 7% da agricultura brasileira recebe irrigação, o que é um dos menores índices do mundo. Essa competição da urbe com o agro pela água é muito importante em locais como a Califórnia, onde a principal fonte de água doce é do degelo da cordilheira, e a agricultura é, praticamente, 100 % irrigada. Não faz tanto sentido no Brasil. Na Califórnia, além de medidas drásticas para diminuir o consumo nas cidades, há um grande esforço, com apoio governamental, para a substituição e modernização dos métodos de irrigação, visando economia de água. Existe programa semelhante no Brasil?