Ao chegar na Fazenda Santana, no município de Luís Eduardo Magalhães (BA), o empresário Romeu Franciosi desce de sua picape e olha para o horizonte. Diante dele, a plantação de algodão segue além do que a visão alcança. Lá adiante, a imensidão branca se funde com o céu azul, que parece pegar emprestado da lavoura algumas bolas de algodão apenas para enfeitar a tarde com nuvens. “Estamos em um bom momento, com a cultura em crescimento”, diz o produtor, que com seus dois irmãos, João Antônio e Ubiratan, dirige as Fazendas Irmãos Franciosi, quatro propriedades que somam 57 mil hectares, 24 mil deles com algodão. Naquela tarde, ele observava as dez máquinas modelo Cotton 620, que acabara de adquirir, lançamento da Case IH no mercado, que colhem seis linhas de uma única vez. Cada uma custa quase R$ 900 mil, mas garantem redução no tempo de colheita e economia de custos. “Nos apertamos um pouco e fizemos a compra, de olho na melhoria do setor”, conta ele que espera colher 270 arrobas de algodão por hectare.

Ele tem razões de sobra para estar otimista. Depois de um período de baixa no ano passado, em que a arroba da fibra chegou a custar R$ 38,71, neste ano, o preço está na casa dos R$ 50,11 e em julho chegou aos R$ 51,00 em Mato Grosso. A tendência é de que essa alta chegue ao produtor só nas próximas negociações de contratos, já que a maior parte do algodão é negociada no mercado futuro. “Apesar da alta, os produtores que fecharam contrato antecipado venderam por preços baixos”, explica Haroldo Cunha, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).

“Estamos em um ótimo momento, com cotações em alta e perspectivas de expansão da lavoura no Brasil”

Romeu Franciosi

 

O cenário de recuperação vivido pelos cotonicultores brasileiros é resultado de uma equação que combina escassez de oferta no mercado interno com o aumento das exportações que resultaram na alta do preço. “Além disso, o atraso na safra em alguns Estados também ajudou a puxar os preços para cima”, explica Miguel Biegai, consultor da SAFRAS & Mercados. O volume colhido na safra passada foi de 1.280 milhão de toneladas e na atual a estimativa é de 1.100 milhão de toneladas, segundo a Abrapa. Agora, com a elevação dos preços e os sinais de recuperação, a área plantada no Brasil deve aumentar cerca de 14% já na próxima safra, sinalizando uma recuperação de área, que havia sido perdida com a redução do consumo mundial durante o período de crise. “Devemos passar dos atuais 830 mil hectares para 950 mil na safra 2010/2011”, explica Cunha.

“Queremos crescer ainda mais e investir pesado em tecnologias para otimizar a produção na próxima safra”

Gilberto Beckert

Atentos ao reaquecimento do setor, produtores já começam a se preparar para expandir a área plantada na próxima safra e reservam investimentos para colher as intermináveis montanhas brancas. “Só aqui no oeste baiano deve haver um crescimento de 25% de área”, prevê Franciosi. Diante das perspectivas o grupo já planeja novos investimentos, caso o cenário continue favorável. “Quem sabe poderemos adquirir mais cinco máquinas para a próxima safra e otimizar ainda mais a nossa produção”, conta Gilberto Antonio Beckert, administrador da fazenda. Se as previsões se confirmarem, o aumento da lavoura e a grande produtividade ajudarão o Brasil a se manter como o quinto maior produtor de algodão do mundo, já que produz em média 4.500 quilos por hectare, o dobro do rendimento obtido nas lavouras de sequeiro dos Estados Unidos, terceiro maior produtor mundial. “Nosso problema está no custo de produção, com insumos caros”, explica Napoleão Esmerardi Macedo Beltrão, pesquisador da Embrapa Algodão.

De fato, a competitividade do algodão brasileiro vem sendo prejudicada também pelo real valorizado e a forte concorrência norteamericana, que garante subsídios aos produtores e facilidades aos compradores.

 

A concorrência desigual suscitou embates e foi parar na Organização Mundial do Comércio, onde o Brasil ameaçou retaliar o algodão norte-americano, caso medidas não fossem tomadas. Depois de muitas discussões foi criado o Instituto Brasileiro do Algodão, que receberá US$ 147 milhões dos Estados Unidos, dinheiro que deve auxiliar os cotonicultores brasileiros.”Esse valor será usado para melhorar a infraestrutura e a logística de exportação e auxiliar em questões sociais e ambientais” explica Cunha, da Abrapa. Some-se a isso, o fato de a matéria-prima ter perdido espaço também para as fibras sintéticas nos últimos anos. Mas segundo Beltrão, da Embrapa, o material artificial está com os dias contados. “Essas fibras são feitas a partir do petróleo e sabemos que ele deve se tornar mais escasso nos próximos anos.”

Outra boa perspectiva para o setor seria a eliminação dos altos custos de produção, que prejudicam a atividade no País. Pelo menos é o que promete a tecnologia do algodão adensado, cujas primeiras experiências nos Estados Unidos e Argentina animaram os produtores. Por aqui, o sistema ganhou adeptos na safra 2008/2009 e divide opiniões. “É um sistema promissor, que aumenta o rendimento da lavoura, mas precisa de ajustes”, destaca Beltrão. Segundo ele, em algumas regiões de Mato Grosso, onde foram feitos os primeiros plantios, o número de plantas por hectare quase dobrou. Cunha explica que o ponto forte da variedade é a redução dos custos, mas que tem sido muito discutido sobre o real rendimento do plantio e a qualidade da fibra. Mesmo assim, a variedade vem ganhando espaço. “Na safra passada foram nove mil hectares no País e nessa, já passamos para 75 mil”, calcula ele.

Mesmo com as boas perspectivas, Cunha vê o cenário com cautela, já que o mercado oscila muito de uma safra para outra e há o risco de o produtor “despencar das nuvens”. “É uma cultura cara, o investimento por hectare é quase quatro vezes o investido na soja”, calcula. Ele lembra que os problemas de câmbio, da rentabilidade de outras culturas e da infraestrutura têm forte influência sobre a atividade. Por outro lado, Beltrão acha que a tendência do Brasil é ganhar mais força no mercado, já que o consumo mundial só tende a crescer e o País reúne a maior extensão de terras agricultáveis do mundo. “Hoje, cerca de 43% da população mundial veste roupas de algodão e esse número vai aumentar.” É o que espera Franciosi. “O Brasil ainda tem muito a oferecer ao mundo.”

Lavoura High Tech

Investir em tecnologias é fundamental para obter bons resultados na colheita. As colhedoras utilizadas na lavoura dos irmãos Franciosi foram fabricadas pela Case e garantem maior rapidez e rendimento, graças ao modelo com seis linhas

Modelo: Cotton Express 620

Preço: R$ 900 mil (aprox.)

Diferenciais: tela de ar rotativa traseira com fluxo de ar direto maximiza a entrada de ar limpo e reduz a manutenção. Indicador de preenchimento do cesto e compactador automático.

Potência: 370 cavalos

Linhas: 6

Cesto para: 4.762 kg (39,64 m3)