05/06/2020 - 18:42
O mercado de exportação do algodão brasileiro surpreendeu no começo de 2020. Durante os quatro primeiros meses do ano o volume exportado cresceu 84% em comparação com o mesmo período do ano passado, saltando de 386 mil toneladas para 710 mil toneladas, segundo dados do ComexStat, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. A receita somou US$ 1,12 bilhão, 70% acima dos US$ 659 milhões de 2019. Para o presidente da Associação Nacional de Exportação de Algodão, Henrique Snitcovski, o aumento do volume exportado se deveu em parte à disputa comercial entre norte-americanos e chineses. “A China voltou a ser o principal destino das exportações brasileiras de algodão durante os meses de novembro e dezembro de 2019, e janeiro deste ano”, diz. “Em função da disputa comercial entre os dois países, a fibra brasileira ficou mais competitiva comercialmente”.
O resultado das exportações cresceu especialmente em janeiro, mês marcado por um recorde histórico, que somou 309 mil toneladas contra 115 mil toneladas de janeiro de 2019, alta de 168%. Além da briga comercial EUA-China, outro fator que fez com que houvesse o aumento é a queda da produção de algodão dos asiáticos. “A China produz menos do que consome, mesmo sendo o segundo maior produtor mundial de algodão, depois da Índia”, afirma.
De acordo com Snitcovski, esse déficit anual é de cerca de 2 milhões de toneladas. “Mesmo com a pandemia, que provocou uma redução no consumo, a China precisou importar”, destaca.
Para o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e vice-presidente da Associação Brasileira (Abrapa), Júlio Cézar Busato, o crescimento, principalmente no mês de janeiro, foi uma surpresa. “Nem nós acreditávamos que iríamos exportar tanto, o que mostra que temos capacidade de exportação de mais de 3,5 milhões de toneladas por ano”, afirma. O volume exportado atualmente é de cerca de 2 milhões de toneladas. “O Brasil tem plenas condições de exportar mais, só precisa melhorar a logística para isso. Mas nós temos potencial”, observa.
O cotonicultor, que tem mais de 20 anos na área e é um dos sócios-proprietários da fazenda Busato, no oeste da Bahia, pertencente à sua família desde os anos 1980, afirma ver um futuro promissor para quem investe na produção da fibra. “A área vem crescendo ao longo do tempo, e aqui na fazenda utilizamos tecnologia de ponta”, diz. A qualidade também é um dos diferenciais do algodão brasileiro. “Nós temos qualidade e produtividade a nosso favor. Esses pontos fazem com que os agricultores brasileiros estejam conseguindo obter esse crescimento todo”.
Atualmente, o Brasil é o segundo maior exportador mundial de algodão, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, e Snitcovski reforça que o País tem potencial para ser líder na exportação da fibra: “Temos regularidade no fornecimento. O trabalho coordenado feito pelo setor de logística e execução são cruciais para enfrentarmos os gargalos de infraestrutura e, consequentemente, aumentarmos as exportações de algodão”, afirma ele.
Mesmo com o aumento significativo do volume exportado de algodão, Snitcovski aponta que o setor foi impactado pela chegada do novo coronavírus. “O período de pandemia trouxe uma parada no comércio, na comercialização dos produtos têxteis, e as indústrias também pararam”, afirma. “Então houve um efeito temporário de redução de demanda global.” O dirigente diz que como já havia contratos de venda de algodão para as indústrias, eles foram postergados e renegociados, para que assim a fibra seja entregue mais para frente, conforme ocorra a reabertura das fábricas. Snitcovski acrescenta que houve redução da exportação do ciclo da safra de 2019, que é comercializada no período de julho 2019 até junho de 2020 – de 2,1 milhões de toneladas que seriam exportadas no período, o volume foi reduzido para 1,950 milhão de toneladas por causa da pandemia.
Novo recorde: Agro brasileiro exporta US$ 10 bilhões em abril
O Brasil superou os US$ 10 bilhões nas exportações no mês de abril, alcançando US$ 10,22 bilhões, valor que ultrapassa o recorde alcançado em abril de 2013, que foi de US$ 9,65 bilhões. O valor exportado foi 25% superior aos de abril de 2019, que chegou a US$ 8,18 bilhões, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O recorde foi obtido principalmente pelo aumento de 73,4% nos embarques da soja em grão, com 16,3 milhões de toneladas. A China foi o principal mercado importador do produto brasileiro, com a compra de 11,79 milhões de toneladas (72,3% da quantidade total exportada). Houve aumento da demanda por soja brasileira em decorrência da pandemia, levando à antecipação das exportações do grão, segundo a nota da Balança Comercial do Agronegócio, elaborada pela Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Mapa.Quanto ao mercado de carnes, a bovina foi a principal no quadrimestre, sendo responsável por 45,3% do valor exportado. A China foi o destino de 49,6% das exportações brasileiras do produto no período, sendo o principal contribuinte para o crescimento de 26,5% em relação a 2019.