Com o atendimento de mais de 700 produtores no ano passado, o programa Soja Plus, uma parceria entre a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), deverá mais do que dobrar nos próximos três anos. Além de atender pequenos e médios produtores de Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia, o Soja Plus deverá funcionar também no Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Pará e Rondônia, abrangendo 90% das regiões produtoras de soja do País.

Grande parte dessa expansão se baseia na adesão, no final do ano passado, do maior financiador da safra brasileira de grãos e maior instituição financeira do País, o Banco do Brasil. A capilaridade de mais de 5,4 mil agências do BB, espalhadas por todo território nacional, e a disponibilidade de crédito devem chamar a atenção do produtor para o programa. Visando disseminar os conceitos de gestão econômica, social e ambiental, aliado ao cumprimento da legislação brasileira, especialmente ao Código Florestal, o Soja Plus busca disseminar um caminho seguro e descomplicado para a produção sustentável. Através de cursos e oficinas de campo, seis equipes de técnicos se revezam para levar as diretrizes de produção sustentável a produtores e seus funcionários nas fazendas. A partir daí, passam a monitorar a evolução de cada propriedade. 

A produtora de grãos, Eloíza Zuconelli, de Tangará da Serra, município localizado a 240 quilômetros da capital, Cuiabá, foi uma das beneficiadas com o programa. “Encontrei no Soja Plus a assessoria técnica que me deu a direção para onde seguir”, diz Eloíza. Sua confiança cresceu ainda mais quando ela soube da entrada do BB no programa. 

Embora não revele o montante que será aplicado no Soja Plus, Clênio Teribele, diretor de Agronegócios do banco estatal, diz que não há limites nem de valor nem de modalidade de financiamentos. “À medida que as ações do programa forem se desenvolvendo, ofereceremos o que estiver pronto”, diz. “E se houver necessidade de algo novo, vamos fazer de tudo para atender a demanda”. A garantia de que não faltará dinheiro para bancar o Soja Plus vem da ênfase do governo federal no apoio financeiro ao agronegócio, ao longo da última década. De um total de R$ 75 bilhões disponíveis aos produtores até o quarto trimestre de 2010, as linhas de financiamento rural do BB mais do que dobraram, no mesmo período de 2014, chegando a R$ 163,6 bilhões. Somente para o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), voltado para projetos vinculados  à sustentabilidade, entre eles o Soja Plus, foram destinados R$ 8 bilhões no ano passado.  

Além de cumprir com seu papel histórico de fomento às atividades agropecuários, o Banco do Brasil tem um objetivo particular para promover esse tipo de programa: angariar mais clientes para sua carteira de crédito rural e ampliar a oferta de recursos, especialmente aos financiamentos relacionados ao ABC. Com isso, os organizadores do programa esperam um reforço em seu caixa, capaz de sustentar a expansão geográfica do Soja Plus. “Com nossos planos de atingir regiões importantes na produção de soja, como o Sul do País e as novas fronteiras agrícolas ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste, vamos precisar de mais investimentos no Soja Plus”, diz Carlo Lovatelli, presidente da Abiove. Até agora, cerca de R$ 12 milhões já foram  investidos. Até 2018, os desembolsos devem crescer até R$ 20 milhões. 

O esforço da Abiove e de seus parceiros para popularizar práticas sustentáveis no País começa a produzir seus primeiros resultados no mercado internacional. 

Importadores europeus, por exemplo, já vêm sondando negócios com os sojicultores do programa. Segundo Cid Sanches, gerente de planejamento da Aprosoja/MT, há negociações em andamento com a
Federação Europeia da Indústria de Alimentação Animal (Fefac, na sigla em inglês), que processou mais de 155 milhões de toneladas de rações em 2013. “Estamos apenas no início dessas negociações, mas há interesse de parte deles num produto diferenciado”, diz Sanches. 

Casos como o da Fefac comprovam o interesse dos compradores de commodities por produtos provenientes de lavouras com práticas sustentáveis. Para o analista do Rabobank Brasil, Renato Rasmussen esse movimento é uma evolução natural e inevitável da cadeia. “O comprador europeu está mais avançado nessa questão”, diz Rasmussen. “Ele valoriza mais produtos de commodities que possuem 
certificação de responsabilidade socioambiental”. Mas, segundo ele, apesar da legislação ambiental brasileira, uma das mais rígidas do mundo, e de iniciativas como o Soja Plus, o País precisa ampliar o número de certificações internacionais para tirar mais proveito em negociações com o mercado externo.