Prejuízos incontáveis: safras futuras de cana e soja podem sofrer as consequências das queimadas de 2010

Clima de deserto, temperaturas altas e a irresponsabilidade de alguns produtores rurais que ainda apostam em queimadas como aliadas da agricultura podem trazer prejuízos incalculáveis para a agricultura brasileira nos próximos meses de colheita e para o plantio das próximas safras principalmente. Apesar de o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) não terem informações, dados e números oficiais sobre essas perdas, em decorrência da estiagem ou de queimadas naturais e criminosas, os prejuízos são sentidos principalmente por produtores que investiram no trigo e na aveia no Paraná, o algodão e o milho em Mato Grosso, e a cana-de-açúcar em São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. Os estragos provocados pela seca podem ainda, comprometer o plantio de soja para a safra 2011/2012 em Mato Grosso e em Goiás, e as queimadas excessivas podem reduzir a qualidade da cana-deaçúcar para o ciclo 2011/2012.

No norte do Paraná, região de atuação da Coamo Agroindústria Cooperativa, a maior da América Latina, os maiores prejuízos estão sendo sentidos pelos investidores de safras de inverno como a aveia e o trigo. Segundo Gilberto Guarido, engenheiro agrônomo da empresa, metade dessas lavouras está sofrendo pela falta de água ou já sofreu perdas devido à seca prolongada. “As lavouras que foram plantadas de acordo com o zoneamento agrícola, em meados de abril, já estão em fase de frutificação e por isso não estão sentindo tanto os efeitos da falta de chuva. Porém, as que foram plantadas fora desta época são as que mais sofrem”, diz Guarido. “Normalmente, as lavouras de inverno sobrevivem bem à escassez de água, mas este ano está demais.” Outros problemas da região são as consequências geradas pela seca, que deixa essas culturas mais suscetíveis a pragas. “Um pouco de chuva seria muito bem-vinda para todos os agricultores agora.” Em Mato Grosso, segundo Lucélia Ávin, coordenadora agroambiental da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato) a falta de chuva ameaça a safrinha de algodão e de milho. “Esperamos chuva em outubro ou muitos prejuízos pesarão ao produtor rural.”

No interior de São Paulo e Goiás, são os canaviais que estão sofrendo perdas por causa das queimadas descontroladas provocadas pela estiagem e as projeções de colheita estão sendo reduzidas. Segundo a União das Indústrias da Cana-de-Açúcar, Unica, a persistência do clima seco prejudica a produtividade da cadeia produtiva como um todo. Sob essas condições extremas, dados apurados pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) em Piracicaba (SP) mostraram que a produtividade média do canavial colhido no Centro-Sul em agosto, quando comparado com o mesmo período do ano passado, apresentou uma quebra agrícola de 9,1%. Especificamente em São Paulo, a redução foi de 10,5%. Para o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, esta queda ainda pode ser intensificada, já que não há previsão de volumes significativos de chuvas até meados deste mês. O descontrole das queimadas tem a ver com a mecanização. Com o uso das colheitadeiras, a palha da cana fica no campo e funciona como combustível para o fogo, que avança para áreas que já foram colhidas e queima os brotos de cana. “Um canavial, em média, rebrota por cinco safras. Estas áreas que foram atingidas por queimadas descontroladas já implicam prejuízos no futuro.”

A mesma preocupação é sentida pelos produtores de soja de Mato Grosso. A falta de chuvas ainda não interferiu no início do plantio do grão. Mas, de acordo com o diretor da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Fávaro, é preciso chover até novembro. “Contamos com chuva suficiente até 15 de novembro para iniciarmos o plantio”, alerta. Segundo ele, se o plantio de soja atrasar, isso resultará em atrasos nos plantios de milho da safrinha e, principalmente, o de algodão. “O milho dispõe de um escalonamento muito superior que o algodão”, frisou.