Os produtores brasileiros de amendoim vivem um paradoxo. Enquanto o setor celebra o marco de ter enviado mais de 200 mil toneladas ao exterior, o sinal de alerta está aceso: a elevada oferta global tem reduzido a rentabilidade da cadeia.

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A expectativa é de que o Brasil exporte cerca de 280 mil toneladas da oleaginosa até o fim de 2025, segundo a Associação dos Produtores, Beneficiadores, Exportadores e Industrializadores de Amendoim do Brasil (Abex-Br). Entre os principais compradores estão Rússia, China, Argélia e Países Baixos.

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Por trás desses números, porém, o setor atravessa um momento delicado. A forte concorrência internacional, a oferta elevada e a pressão sobre os preços têm comprimido a rentabilidade de produtores e exportadores — um clássico desequilíbrio entre oferta e demanda.

Em entrevista à Dinheiro Rural, Cristiano Fantin, presidente da Abex-Br, explicou o cenário do setor. Ele destacou que o alto volume de vendas não se traduz em equilíbrio financeiro, já que o valor que retorna ao país é insuficiente diante dos custos de produção e beneficiamento.

Arte: Ismael Jales/ IstoÉ Dinheiro (Dados: IBGE)

“Essa situação é muito delicada, porque estamos batendo recorde de volume internacional, mas a margem de lucro para o produtor e para as empresas exportadoras está muito apertada ou, em muitos casos, até inexistente. Assim, o sucesso da balança comercial acaba escondendo uma fragilidade interna de rentabilidade para o setor”, afirma.

Sem muitas vantagens para produzir amendoim, a expectativa agora é de uma redução de aproximadamente 30% na área plantada na safra 2025/2026.

“Para se ter uma ideia, o custo de um alqueire de amendoim hoje, em São Paulo, fica entre R$ 30 mil e R$ 33 mil. A venda desse mesmo alqueire, este ano, girou em torno de R$ 26 mil. Ou seja: o produtor investe R$ 33 mil e recupera apenas R$ 26 mil. Há um gap de praticamente R$ 7 mil por alqueire”, aponta Fantin.

Colheita do amendoim — Foto: Ewerton/Neomarc

Aumentar o consumo e diminuir produção

Além de uma redução drástica nos estoques globais da leguminosa, o setor aposta no estímulo ao consumo interno de amendoim — esforço que já vem sendo conduzido pela Abex-Br, segundo o presidente.

“As pessoas que vão à academia passaram a consumir mais pasta de amendoim, por ser rica em proteína, resveratrol e ômega 6. É um alimento acessível do ponto de vista econômico, porque pode ser adquirido por todas as classes sociais. Isso tem ampliado o consumo interno. Claro que esse aumento é paulatino, gradual; não dá para crescer na mesma velocidade que o mercado demanda”, explica