A Anfavea, associação que representa as montadoras, vê a crise de abastecimento de componentes eletrônicos perder força, porém sem ser ainda superada. A entidade contabilizou a paralisação de três fábricas de automóveis no mês passado por falta de peças, somando 31 dias de interrupção de atividade.

“O fantasma dos semicondutores ainda não nos abandonou, embora o fenômeno esteja mais suave do que no ano passado”, declarou o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, que apresentou os resultados da indústria automotiva em fevereiro.

A associação citou a atipicidade de fevereiro – um mês de “difícil comparabilidade” por conta não só do carnaval, mas também das chuvas fortes em mercados importantes – ao explicar o resultado do mês passado, cujo volume de vendas foi o menor para o mês em 17 anos.

Os estoques de veículos em pátios de montadoras e concessionárias chegaram a 187,4 mil unidades, o suficiente para 40 dias de venda.

Leite destacou, porém, que, na média diária, o ritmo de vendas de veículos novos subiu 11% na passagem de janeiro para fevereiro, superando 7,2 mil unidades por dia útil. Essa melhora, avaliou, aponta para uma tendência de retomada de “uma condição um pouco melhor” do mercado nos próximos meses.

Reunião com Alckmin sobre reindustrialização e investimento

A direção da Anfavea informou nesta segunda-feira que esteve reunida na última semana com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, para discutir planos de reindustrialização e investimentos.

Durante a apresentação dos resultados da indústria automotiva em fevereiro, o presidente da Anfavea revelou que o setor está discutindo um novo ciclo de investimentos. Assim, quer entender quais serão as regras da segunda fase do regime automotivo em vigor, o Rota 2030.

México

Segundo Leite, o México é um concorrente de peso na disputa pelos novos projetos de grupos automotivos em países emergentes, não apenas pelo crescimento de seu mercado, mas também pelas políticas agressivas de atração de investimentos.

“O México não está brincando e tem entrado de forma significativa na busca e atração de investimentos”, comentou o presidente da Anfavea.

Fluidez no fluxo comercial com a Argentina

O dirigente disse ainda que, durante o encontro com Alckmin, foi reforçada a importância de o Brasil ter boa fluidez no fluxo comercial com a Argentina, principal destino das exportações das montadoras. Medidas para ampliar a oferta de semicondutores, componentes cuja escassez freia a produção de automóveis, também estiveram em pauta na reunião com Alckmin.

Crédito

Após o resultado de fevereiro, que mostrou o menor volume de vendas para o mês em 17 anos, a Anfavea frisou que as restrições de crédito aumentam a necessidade de ações a favor de um reaquecimento do mercado. “O timing tem que ser agora. Não podemos esperar para promover a reindustrialização e as condições para a retomada do mercado”, declarou Leite.

Considerando a alta da taxa de juros uma questão “não simples de se resolver”, o presidente da Anfavea pontuou que o governo pode atuar em outras frentes para melhorar a acessibilidade do crédito. Entre as propostas, citou mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que incide com duplicidade na cadeia, e a facilitação da retomada de bens, de forma a reduzir o risco do crédito, barateando, assim, seu custo.