Não há dúvida de que o ano de 2015 foi muito bom para a pecuária brasileira. Com os preços da carne bovina em alta ao longo de todo o ano, os criadores tiveram ganhos expressivos mesmo diante de um cenário econômico desfavorável. Para 2016, as perspectivas são ainda mais otimistas, especialmente pela possibilidade de aumento nas exportações, o que ajudaria a sustentar a demanda e os preços elevados. A alta recente do dólar, no entanto, tornará os custos produção mais altos, o que pode afetar a rentabilidade do produtor.

“A gestão talvez seja o maior desafio do setor para 2016”, afirma Luiz Claudio Paranhos, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Segundo ele, os compradores também estão mais exigentes, o que cria uma oportunidade para os produtores mais tecnificados, capazes de entregar animais mais jovens e mais bem acabados. “A tecnologia te traz mais eficiência na gestão. E ela começa lá na genética”, diz Paranhos.


“A gestão talvez seja o maior desafio do setor para 2016” Claudio Paranhos,presidente da ABCZ

O que esperar de 2016?
Saímos de um ano bom, um ano de preços altos para a pecuária, tanto na cria, na recria, quanto na arroba, no preço do boi gordo. Para 2016, nossa expectativa é de que os preços se mantenham firmes. Mas existe o desafio de ser mais eficiente na produção, de usar uma genética melhor, para buscar eficiência. Mas a pecuária passa por um bom momento.

Os preços vão se manter em alta?
Em 2015, o Brasil abriu mercados importantes, o que deve aumentar sua participação no mercado global em 2016. Estados Unidos e China devem impactar nas exportações e nos preços praticados aqui dentro.

Qual a importância do investimento em genética?
Impacto do touro melhorador no sistema de produção de carne e leite é gigantesco. Ele traz, especialmente em sistemas de produção pequenos, um resultado que permite ao produtor obter uma melhor margem de lucro.

Graças aos programas que transferem tecnologia de ponta para os pequenos produtores, o Brasil deu um salto de produtividade em campo. O peso de abate dos bovinos, que há alguns anos girava entre 16 a 17 arrobas, hoje chega a 21 ou 22 arrobas. Esse ganho só foi possível através do uso intensivo de material genético dos melhores animais como melhoradores em rebanhos comerciais em todo o país.

Mais do que peso, o gado brasileiro ganhou qualidade. Hoje, a carne bovina produzida no Brasil é reconhecida internacionalmente e tem ganhado espaço no mercado global. A retomada das exportações de carne in natura para os Estados Unidos, suspensas nos últimos 15 anos, é um exemplo disso e deve dar ainda mais fôlego ao setor. “Entrar no mercado americano significa entrar em vários outros países que utilizam os mesmos protocolos de exigência dos Estados Unidos e que agora podem comprar carne do Brasil”, explica Paranhos.

Outro mercado que deve ganhar relevância em 2016 é a China. Antes compradores de miúdos e carnes de menor valor agregado, os chineses passaram a importar cortes nobres e já se mostram uma alternativa ao mercado europeu. As exportações para a China têm crescido ano a ano, mas o potencial para os próximos anos é gigantesco.

“Os principais concorrentes têm problemas de produção e aqui nós estamos passando por um ciclo de alta. Isso favorece a atividade”, afirma o presidente da ABCZ, lembrando que os investimentos recentes do setor têm se refletido em melhorias sociais e ambientais nas áreas produtoras de bovinos. De acordo com um estudo recente realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP), as propriedades que investem em genética têm uma melhor condição social e melhores indicadores de sustentabilidade ambiental.

Nos últimos anos, a ABCZ tem investido fortemente em estudos científicos, sempre buscando melhorar a atividade pecuária nacional. O principal deles, o Programa de Melhoramento Genético das raças Zebuínas (PMGZ), conta atualmente com 2248 participantes. Nele, todos os animais têm suas características genômicas avaliadas e introduzidas em um grande banco de dados disponível para os pecuaristas. “Isso tudo ajudou, sem dúvida alguma, para o aumento dos índices de desempenho do rebanho nacional”, conclui Luiz Claudio Paranhos.

Confira a entrevista completa abaixo:

ESPECIAL PERSPECTIVA – RURAL 2016

Um setor em reconstrução

No embalo das carnes

Cenário desefiador para os defensivos