14/12/2025 - 13:53
Artista de múltiplas facetas, o jornalista Haroldo Costa morreu neste sábado (13), no Rio de Janeiro, aos 95 anos. A morte foi confirmada pela família, no perfil oficial dele, nas redes sociais.
Costa é ex-funcionário da Rádio MEC e tem passagens pela antiga TVE, atual TV Brasil, veículos públicos administrados pela EBC, onde Costa desenvolveu diferentes projetos.
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Jornalista, ator, compositor, produtor e diretor de rádio e televisão, Haroldo é mais conhecido por seu trabalho como comentarista dos desfiles das escolas de samba, no carnaval. Mais recentemente, integrava o corpo de jurados da premiação Estandarte de Ouro, do Jornal O Globo. Antes, ele fez parte do corpo de jurados da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), por ser um dos pesquisadores que valorizavam a cultura afro-brasileira no carnaval.
O Salgueiro, Escola de samba da qual era torcedor, declarou que está de luto. A Estação Primeira de Mangueira também. Em nota, a escola verde e rosa disse que ele foi uma “figura única no carnaval”.
A trajetória de Haroldo Costa começa no Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado por outro intelectual e artista, Abdias do Nascimento. Depois, Haroldo se juntou a dançarinos e atores para formar o grupo que empreendeu a turnê Brasiliana e que, por cinco anos, divulgou a cultura popular brasileira por 25 países da Europa e da América.
Essa é uma das experiências destacadas na mostra Haroldo Costa – Samba & Outras Coisas, feita em homenagem ao artista, pelo Sesi, em 2011. Como o falecimento de Costa, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro postou nota pública em homenagem ao artista, destacando a trajetória do artista e comunicador negro como “fundamental”. “Um gênio da arte e um ser humano maravilhoso, com quem convivemos em inúmeros projetos e a quem tivemos o prazer e a honra de homenagear com uma exposição que celebrou toda a sua rica história”.
Como ator, Haroldo Costa conseguiu também o grande feito de ser o protagonista de Ofeu da Conceição, peça teatral musicada de Vinicius de Moraes, que inaugurou a parceria do poeta com o compositor Antonio Carlos Jobim. O convite de fez de Haroldo o primeiro ator negro a pisar o palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em espetáculo em que os cenários eram de Oscar Niemeyer e o cartaz de autoria de Carlos Scliar.
A partir dos anos 60, Haroldo assumiu microfones e a direção de programas de rádios na MEC, na Mayrink Veiga e na TV. Na emissora radiofônica de música clássica, produziu e apresentou, por exemplo, o programa Balcão Nobre, que trazia registros de apresentações da cena lírica, entre as décadas de 1970 e 1980.
Ele também conduziu o Estampas Brasileiras, onde entrevistas artistas, e Mosaico Panamericano, programa de música latina, junto com o instrumentista Aloysio de Alencar Pinto.
Como historiador, é autor de quinze livros, dois deles dedicados à escola de coração – Salgueiro: Academia do Samba (1984) e Salgueiro: 50 anos de Glória (2003), que tornaram-se as obras mais importantes sobre escolas de samba, além de Fala, crioulo – O que é ser negro no Brasil, entre outros livros.
Homenagens
Intelectuais, artistas e políticos lamentaram o falecimento de Haroldo Costa. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) disse que o carioca era referência absoluta do samba, do carnaval e da intelectualidade negra. “Sua obra, sua voz e sua luta permanecem vivas entre nós”, declarou.
Outro ícone do carnaval carioca e griot, o jornalista e radialista Rubem Confete se solidarizou com familiares e destacou Haroldo como um “grande pensador, pesquisador, ator e roteirista que deixa um legado e enorme trabalho em prol da cultura afro brasileira”.
A historiadora Lilia Schwarcz disse que o comunicador foi uma figura central na intelectualidade negra e brasileira.
O escritor Nei Lopes disse que Haroldo era uma das maiores referências e lembrou que o artista foi o primeiro negro, em 1958, a dirigir um filme de longa metragem, o Pista de Grama ou Um desconhecido bate à sua porta. “A morada eterna dos negros elegantes, amigos insubstituíveis ganhou mais um membro do primeiro time”.
O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, complementou que Haroldo Costa, “guardião do samba e do carnaval”, dedicou a vida ao samba e ao carnaval “com dignidade e profundo amor pelo povo do samba. Seu legado é eterno”, afirmou.
O governador do Rio, Cláudio Castro, enviou nota à imprensa chamando Haroldo de mestre, “que ajudou gerações a compreender a grandiosidade dos desfiles, dos sambas-enredo e da identidade do nosso povo”.
A família ainda não informou sobre velório ou sepultamento.