Elas são batalhadoras, têm diferentes idades e escolaridades, e são de Estados como a Bahia, São
Paulo e Minas Gerais. Mas, apesar das trajetórias distintas, no mês passado, 13 mulheres se uniram
por uma única paixão: o café. Elas criaram, em São Paulo, durante o 7º Espaço Café Brasil, a maior
feira do setor na América Latina, a representação da Aliança Internacional Mulheres do Café (IWCA,
na sigla em inglês) no Brasil. A IWCA é uma organização sem fins lucrativos, que nasceu nos
Estados Unidos, em 2003, e busca valorizar e incentivar o trabalho das mulheres que atuam em toda a
cadeia cafeeira. Hoje, a entidade está presente na Guatemala, Costa Rica, Burundi, Nicarágua, Colômbia,
República Dominicana, El Salvador, Quênia, Ruanda, Uganda e Índia.
A história da IWCA no Brasil começou com Josiane Cotrim, filha de produtores de café da região de Manhumirim, em Minas Gerais, que foi eleita a presidente da IWCA Brasil. Ela morou na Nicarágua em 2008; lá conheceu a entidade e começou a participar dos encontros de mulheres. Em 2010, Josiane foi convidada a integrar um dos comitês da IWCA internacional, e teve a ideia de criar um braço da entidade no Brasil. “O maior produtor de café do mundo não poderia deixar de fazer parte dessa organização”, diz. Segundo o Ministério da Agricultura (Mapa), o Brasil deve chegar a 50,5 milhões de sacas na safra 2012 e quebrar mais um recorde de produção.

Pela internet, Josiane passou a reunir produtoras interessadas na empreitada. No ano passado, no 6º Espaço Café Brasil, aconteceu o primeiro encontro da IWCA no País, no qual participaram cerca de 70 mulheres da cadeia cafeeira. Depois do evento, foi eleita a diretoria provisória da IWCA Brasil, que neste ano foi reconhecida pela IWCA internacional. “Agora, a entidade existe de fato”, diz Josiane. “Com isso, podemos buscar parcerias.” O primeiro desafio será identificar o perfil da mulher que trabalha na cafeicultura e quantificar a sua presença no segmento. No Brasil há 390 mil fazendas e sítios que produzem café, envolvendo o trabalho de oito milhões de pessoas, mas não se sabe quantas propriedades são administradas por mulheres.

O grupo está interessado na ajuda de entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o programa Coopergênero, do Ministério da Agricultura, destinado a projetos que visam a geração de trabalho e renda da mulher no agronegócio. Mas, mesmo sem recursos financeiros imediatos, as integrantes da IWCA Brasil já começaram a trocar experiências. Com amplo conhecimento sobre cafés especiais, a advogada mineira Débora Fortini acredita que pode ajudar as mulheres a se especializar. Débora, vice-presidenta da nova entidade, opera um escritório de importação e exportação nos Estados Unidos, e a Academia do Café, em Belo Horizonte, um laboratório de seleção de lotes especiais e escola para a formação técnica. “Há muita carência de mão de obra nesse setor”, diz. Para Débora, o brasileiro está aprendendo a exigir bebida de qualidade. “Vai acontecer, aqui, o que já ocorreu lá fora. O americano e o europeu não aceitam café ruim.”

Para Helga Andrade, barista e especialista em turismo, também de Belo Horizonte, há uma grande distância entre o produtor e os profissionais que lidam com o consumidor. Helga, que assumiu o cargo de secretária da IWCA Brasil, diz que a aliança pode ajudar as produtoras por meio de cursos sobre normas de degustação, torra de cafés especiais e técnicas de barismo. “O IWCA Brasil pode criar um elo entre o início e o fim da cadeia produtiva”, diz Helga.