O Produto Interno Bruto (PIB) registrou dois trimestres seguidos de retração, no segundo (-0,4%) e no terceiro (-0,1%), caracterizando o que economistas de mercado classificam como recessão técnica. O cenário econômico, porém, é de estagnação, disseram pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) em seminário nesta quinta, 9.

“Nossa avaliação é de que tivemos uma recessão muito aguda (com a pandemia de covid-19, em 2020), saímos dela, mas não se pode dizer que não vamos entrar em outra. Agora, estamos em estagnação. Numa recessão, todos os setores se retraem. Agora, a desaceleração foi maior por causa da agropecuária. Denominar recessão é um pouco forte”, afirmou Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro Ibre, durante o IV Seminário de Análise Conjuntural, organizado pelo instituto da FGV, em parceria com o Estadão.

Também participante do seminário, o pesquisador Armando Castelar concordou com Silvia. “É mais um cenário de estagnação do que de recessão. A economia mundial está com crescimento vigoroso. Então, estamos em estagnação, mas é frustrante”, afirmou o pesquisador do Ibre/FGV.

No cenário traçado por Silvia, o crescimento econômico ainda terá algum impulso associado à “normalização” das atividades, especialmente de serviços, à medida que o avanço da vacinação contra covid-19 permite a reabertura ou o funcionamento normal de negócios como consultórios médicos, salões de beleza, bares, restaurantes e cinemas. Esse impulso deverá garantir algum crescimento neste quarto trimestre e no início de 2022.

Previsões

Para o próximo ano, o Ibre/FGV ainda espera a continuidade da normalização da oferta de serviços públicos, como saúde e educação, o que deve dar algum impulso positivo. Além disso, o bom regime de chuvas iniciado em outubro dá boa perspectiva para o PIB da agropecuária em 2022, após a estiagem atingir a atividade em cheio neste ano.

Por outro lado, inflação elevada, a alta dos juros básicos, o mercado de trabalho ainda em ritmo lento e os gargalos de produção que atrapalham a indústria deverão segurar o que Silvia chamou de “parte cíclica” do PIB. Essa parte cíclica responde mais aos movimentos de crescimento da demanda via consumo das famílias, puxado por emprego e renda, e investimentos, puxados pelas perspectivas de boas taxas de retorno.

“O PIB ainda pode não ser negativo em 2022, mas o ‘PIB cíclico’, em torno de dois terços do total, terá contração. A questão toda é que existe um terço do valor adicionado (do PIB) que deverá contribuir positivamente”, afirmou a pesquisadora do Ibre/FGV, destacando a agropecuária.

O problema, para Castelar, é que há pouca perspectiva de saída do quadro de estagnação em 2022. “A questão maior que vai pegar em 2022 é a incerteza. Não temos muita ideia para onde estamos indo, se é que vamos para algum lugar. A percepção é de que vamos ficar parados com inflação alta, desemprego alto e uma economia que não cresce. O que está mexendo com as ações dos agentes econômicos é 2023. Enquanto não houver clareza sobre 2023, não muda o quadro de estagnação”, resumiu o pesquisador.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.