O veterinário Tiago Arantes, 35 anos, nunca fez um curso de teatro ou interpretação. No entanto, para uma centena de veterinários e zootecnistas presentes na convenção da farmacêutica americana MSD
Saúde Animal, subsidiária da Merck Sharp & Dohme, alguns anos atrás, não causou nenhum espanto quando Arantes entrou no palco vestido de Moisés, portando nas mãos uma tábua com dez mandamentos. Evidentemente, não eram os Dez Mandamentos bíblicos, mas sim um conjunto de condutas comerciais discutidas e elaboradas pela equipe de campo da MSD. “Não foi planejado chegar a dez pontos, mas quando isso começou a se consolidar, pensei logo no profeta”, diz Arantes. “A equipe sempre sabe que vou aprontar alguma”. Na época, Arantes era gerente de negócio da companhia, onde comanda atualmente a diretoria da unidade Ruminates, à frente de uma equipe de 137 veterinários e zootecnistas. 

Disputado pelo mercado como um profissional que entrega resultados, Arantes chegou a receber oito propostas de emprego, em 2008. Entre elas, duas propostas, que poucos profissionais recusariam: a presidência de uma empresa de capital francês, no Brasil, e a diretoria da América Latina de um grupo holandês. 

“Há seis anos, não era o momento de aceitar desafios que não fossem dentro da própria MSD”, diz. Naquela época, a empresa passava por um delicado processo global de fusão entre a Merck & Co e a Schering-Plough Corporation, da qual iria surgir a atual MSD. Longe de representar um sinal de comodismo, a recusa à mudança de emprego, respondia a um desafio autoimposto por Arantes. “Quero ser presidente da MSD no Brasil”, diz ele. “Sei que ainda tenho um longo caminho, mas o objetivo é esse.” A Merck Sharp & Dohme fatura cerca de US$ 48 bilhões no mundo, com a subsidiária brasileira na posição de sua segunda maior operação. 

No ano passado, Arantes completou uma década como profissional da MSD, na contramão de muitos executivos que pensam que carreira se faz mudando continuamente de patrão. “Aprendi na vida que quem não tem gratidão não tem caráter”, afirma. “Eu sempre tive muita gratidão pela empresa que me abriu as portas, e que faz isso continuamente.” Para o diretor de recursos humanos da MSD, Odair Castro, a cultura interna leva muitos talentos a compartilharem as convicções de Arantes. “Quem deseja permanecer, pode contar com o apoio de um mapa de carreira, no  qual o profissional faz um diagnóstico e traça um plano que o  leve para a frente”, diz Castro. “Cada um deve trilhar seu próprio caminho, isso vale para a MSD, para uma fazenda ou qualquer outro ramo de negócio.” 

No caso de Arantes, o caminho que o levou tão rapidamente ao cargo de diretor começou na Universidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, aos 17 anos. Aos 22 já estava formado e com um convite nas mãos para uma pós-graduação na Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Jaboticabal. “A Unesp foi um divisor de águas,  porque até aí meu plano era ser professor universitário”, diz ele.
“Gosto de ler, estudar e pesquisar.” Não por acaso, foi através do Centro de Pesquisas Parasitológicas da Unesp, com foco em ruminantes, que ele conheceu a indústria veterinária. Na época, o centro pesquisava novas moléculas para medicamento animal, para empresas do agronegócio como Bayer, Ouro Fino, Valle e Intervet. “Comecei aí a entender o lado econômico da parasitologia, porque não basta
só controlar uma infestação, de carrapatos, é preciso entender qual é o seu reflexo no negócio fazenda”, diz Arantes.  

O futuro diretor de negócios ainda era aluno da Unesp quando foi convidado para trabalhar como técnico de vendas de produtos da Intervet, depois Intervert Schering Plough e atual MSD. O resto faz parte de uma história ainda em construção. Nesse meio tempo, Arantes foi desafiado a falar inglês fluentemente para fazer um curso de novos talentos, na Holanda. Também viajou por todo o País e para o exterior, onde lançou produtos ou deu palestras, em países como a Venezuela, México, Chile e Alemanha. Em 2013, mesmo ano em que assumiu sua atual posição, ganhou um prêmio global por ter criado a melhor
ação de marketing do grupo. Foi ideia sua capacitar os profissionais da MSD a portarem microscópios e realizarem nas próprias fazendas exames de diagnóstico de parasitas em bovinos. O prêmio foi recebido em Nova York, em uma cerimônia que reuniu dez finalistas, dois de cada continente. Na bagagem de volta, Arantes trouxe o troféu e US$ 10 mil, aplicados em um curso de MBA, na FGV, sobre gestão estratégica e econômica de negócio. “Hoje, convivo com profissionais da Embraer, Ambev, Natura, ingleses, franceses, donos de empresas, cada um trazendo uma vivência”, diz Arantes. “A sorte sempre esteve por perto, eu só fui aproveitando as oportunidades”.