03/06/2015 - 13:00
Desde o final de março, é comum encontrar o engenheiro químico e administrador de empresas Alexandre Gobbi, de 53 anos, com livros debaixo do braço. Não que ele precise de algum outro diploma além dos que já conquistou na Faculdade Oswaldo Cruz e na Universidade de São Paulo, acrescidos de um MBA em Gestão Estratégica pela Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte. Nos últimos tempos, é raro o dia em que Gobbi não reserva uma horinha de estudo para se dedicar a tudo que se relaciona a tecnologias de irrigação de lavouras. A vontade do aprendiz tem um único motivo:
depois de 34 anos atuando em diferentes setores na suíça Syngenta, um das potências mundiais na área de defensivos agrícolas e sementes, Gobbi foi contratado para ser o presidente no Brasil e Mercosul, da israelense Netafim, especializada em irrigação por gotejamento, presente em 111 países, com um faturamento anual de US$ 1 bilhão. Atualmente, sempre que faz algum comentário mais acurado sobre temas ligados à irrigação, o executivo costuma emendar: “mas continuo estudando o assunto, porque ainda tem gente que acha que tecnologia de gotejamento é mangueira furada.”
Para o economista Thiago Pimenta, sócio da empresa de headhunting Flow Executive Finders, com 30% da carteira voltada para o agronegócio, o que as empresas buscam, atualmente, é contratar executivos que tenham algumas características específicas, entre elas a chamada inteligência elevada. “É um atributo de líderes que enxergam a empresa como uma missão”, diz Pimenta. Estudar, de acordo com o headhunter, é uma consequência da percepção que um profissional tem do negócio em que atua. “Se o executivo vai para um setor diferente do que atuava, o estudo é formação, mas se ele já é do meio se torna um desafio se superar.”
À frente da subsidiária brasileira da Netafim, Gobbi acredita que o seu maior desafio quando estuda um tema ligado à irrigação é, por tabela, aprender a enxergar a cultura da empresa. “Ainda não conheço totalmente a cultura da Netafim, mas gostei do pragmatismo e da visão de comprometimento e cuidado com as decisões a serem tomadas”, diz. Apenas para a sua contratação, Gobbi afirma que foram realizadas 18 entrevistas. Por isso, além de manter conversas quase diárias por teleconferência com o primeiro escalão da matriz, no final deste mês o executivo embarca para Israel, onde permanecerá por quase um mês. O objetivo da viagem é fazer uma imersão profunda na governança mundial da empresa israelense, cumprindo uma agenda que prevê reuniões com lideranças de vários países e com os principais executivos globais de áreas como recursos humanos, finanças e administração.
Também faz parte da programação de Gobbi a visita a alguns kibutzim – comunidades nas quais tudo é produzido em conjunto e dividido entre seus membros. Um deles é o de Hatzerim, localidade que abriga o principal centro de desenvolvimento de tecnologias da Netafim. “Sei que vou procurar aprender muito, porque me agrada tudo que se refere a tecnologias para produzir mais”, diz Gobbi. “Eu já era assim na Syngenta, que tem uma cultura de desbravar fronteiras.” Segundo dele, um dos seus últimos desafios foi reativar a tecnologia Plene, usada para agilizar e simplificar o plantio de cana-de-açúcar. “Desenvolvido em 2006, o Plene não apresentou bons resultados no campo, no início”, diz. Com os problemas sanados, a Plene deve gerar US$ 1 bilhão por ano à Syngenta, a partir de 2018.
Na Netafim, a missão de Gobbi é duplicar seu tamanho nos próximos três anos. A participação do Brasil é ainda discreta no conjunto das 30 subsidiárias da companhia – em 2014, as receitas foram de pouco mais de R$ 100 milhões. Além dos próprios israelenses, os principais clientes da empresa estão na Índia e nos Estados Unidos. Por isso, além do aprendizado de técnicas e de teorias de irrigação, Gobbi aposta em um outro estudo: o do mercado no qual a empresa pode crescer. “O produtor toma mais de duas mil decisões numa safra, mas 50% de seu sucesso é determinado pelo clima”, diz. “A irrigação pode ajudar o produtor a controlar essa variável.” Para aumentar as vendas, Gobbi estará à frente de uma equipe de cerca de 120 profissionais, entre agrônomos e técnicos de campo, além de um escritório na Argentina e de representantes em outros países, entre eles o Paraguai. “Estou bastante empolgado, primeiro com o que estou aprendendo. Segundo, porque temos um time jovem e, terceiro, porque estou me divertindo”, diz Gobbi. “Aprendi que quando você se diverte é porque tem paixão pelo que faz.”
MBA
As opções da Esalq
Os cursos de MBA com início previsto para o segundo semestre do ano, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba (SP), já estão com as inscrições abertas. São três modalidades: agronegócio, agroenergia e defesa fitossanitária.
EDUCAÇÃO
Com o pés em Harvard
No mês passado, representantes da área de admissão nos cursos de pós-graduação em escolas da Harvard University, uma das mais conceituadas instituições de ensino do mundo, estiveram no Brasil para uma série de eventos nos quais o principal objetivo foi explicar detalhes sobre o processo seletivo nos Estados Unidos. Os encontros aconteceram em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Entre os cursos para quem atua no campo estão negócios, políticas públicas e ciências.
COOPERATIVA
Mais vagas para o agronegócio
“O sucesso de uma empresa acontece quando as pessoas se identificam com a sua cultura organizacional” Maria Lucia Murinelli, diretora de Recursos Humanos para América Latina da FMC
A Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi), do Espírito Santo, vai abrir duas filiais neste ano, uma no norte do Estado, em Barra de São Francisco, e outra em Inhapim, no leste de Minas Gerais. A cooperativa que atua no ramo de café, aves e ração animal necessita de 23 profissionais, entre eles técnicos, gerentes e consultores.
DIVISÃO DE SEMENTES
Mudança na DuPont
A partir de 1º de julho, Jair Afonso Swarowsky assumirá a vice-presidência da DuPont Pioneer Brasil, na divisão de sementes. Formado em ciências contábeis e com mais de 25 anos de experiência, Swarowsky retorna ao País após liderar as operações da Pioneer na América Latina Norte e de conduzir projetos especiais para toda a região.
Confesso que vivi
com Ian David Hill, diretor da Agropecuária Jacarezinho
Há duas décadas, o inglês Ian Hill, administrador e economista rural pelo Berkshire College, no Reino Unido, é o principal nome da Agropecuária Jacarezinho, do empresário Alexandre Grendene, dono do grupo Grendene. Além de dirigir as fazendas no oeste da Bahia e no Tocantins, que abrigam 35 mil animais nelore, Hill administra uma usina no interior paulista, negócio em parceria com o empresário e produtor Jonas Barcellos, de Minas Gerais.
Qual o grande acontecimento de sua carreira?
Indiscutivelmente, a oportunidade de dirigir, nas duas últimas décadas, o programa de melhoramento genético da raça nelore, que outorga aos compradores desse gado o Certificado Especial de Identificação e Produção (Ceip) da Jacarezinho. Hoje, o programa é referência em avaliação genética.
Por quê?
Foi um crescimento profissional indiscutível. Até então, eu apenas gerenciava uma propriedade. Com o projeto, passei a ser o responsável por um trabalho que atualmente vende 1,3 mil touros por ano.
No que ele repercutiu?
Eu me tornei um gestor de equipes com autonomia. Pude, por exemplo, empreender uma série de atualizações em gestão e manejo, inclusive levando o programa da Jacarezinho ao interior da Bahia, para ficar mais próximo dos clientes.
O bom marujo se conhece na tempestade
“Na turbulência, o profissional do agronegócio deve ser um mobilizador de pessoas”Jeffrey Abrahams, sócio da Fesa, consultoria de busca e seleção de altos executivos
Quando as complicações no ambiente de negócios se acumulam, elas também causam crises no ambiente de trabalho. Por várias razões, o País está atravessando um período desestabilizador de negócios. E, nele, tudo fica mais volátil: as empresas perdem receitas, os custos se desajustam e a lucratividade é colocada em xeque. Há segmentos da economia indo bem, sim senhor, como o agronegócio, a área mais pujante da economia do País, mas mesmo assim o setor vive um momento de instabilidade por conta da macroeconomia.
Consequentemente, os gestores devem se mexer. O clima de instabilidade ameaça, de fato, a perenidade das companhias e o nível de tolerância a frustrações entra em pane. No entanto, as crises vêm e vão, como as tempestades em alto mar. E é nessa hora que se conhece o verdadeiro marujo. Mas que marujo é esse que sobrevive às crises? O que se espera dos marujos de primeira viagem, ou mesmo dos mais experientes navegadores?
Nesta fase, sobrevive aquele ou aquela que se faz útil, aperta um pouco o cinto, agrega valor e é capaz de encontrar os meios para driblar a crise. São aqueles profissionais que têm o faro e a sabedoria para buscar receitas financeiras com criatividade comercial. O bom profissional do agronegócio não entra em pânico, devaneios ou na boiada do pessimismo. Os períodos momento de instabilidade, é preciso ser resiliente, não se intimidar e não desistir: as oportunidades são escassas e quem chega primeiro “bebe água limpa”.
No agronegócio, cada vez mais, as empresas buscam profissionais com um perfil mais perceptivo e analítico, que enxerguem todas as suas frentes e impactos financeiros. Neste momento, a demanda é por um executivo mais estratégico, com olhos no financeiro, e ao mesmo tempo mobilizador e eclético, em termos de negócios e cultura com investidores estrangeiros. Os executivos que as grandes empresas necessitam possuem um perfil empreendedor e foco em gestão de risco, liderança comercial na distribuição dos produtos e de serviços, criatividade e uma enorme capacidade de relacionamento e negociação. Além disso, na turbulência, o profissional do agronegócio deve ser um mobilizador de pessoas.
Esse indivíduo ideal para acertar os rumos de um empreendimento rural precisa ter em seu DNA aquele senso de urgência, sem atropelar processos. Como um marujo que não perde o equilíbrio durante a tempestade, observando ao mesmo tempo os instrumentos de navegação e o que está ocorrendo diante de seus olhos. Para comandar uma fazenda, ou uma empresa rural, energia vital e tônus fazem parte da composição pessoal em cargos de comando. Um bom gestor sabe se livrar das ondas de baixo astral, ou mesmo da depressão das ondas. A gestão do negócio nos dias atuais é um dos principais desafios do setor. A marca desse marujo ou maruja rural deve ser: “o que preciso fazer para me desviar das tormentas, sem perder o rumo?”.
Em situações de crise, o primeiro grande sentimento que surge é o medo, que costuma neutralizar a criatividade. É normal ter medo, desde que ele não paralise o pensamento e a capacidade de agir com energia. A serenidade permite o fluxo da energia combativa, consciente e ágil. Enfim, são os momentos de crise que separam o dito bom marujo do marinheiro de primeira viagem, pois na bonança tudo vale e cresce pela própria volúpia do crescimento. Nesse momento, quem se planeja tendo em vista o longo prazo não se intimida e não se aperta. O executivo agro-olímpico, o marujo que navega as ondas do campo, sobressai em meio a tempestade, até chegar a águas calmas. Acreditar no País, em períodos de turbulência como o atual, é seguir em frente, porque o mundo está repleto de críticos de obras feitas e de diagnosticadores profícuos dos acontecimentos falidos. Poucos trazem soluções.
Gestão: o bom profissional não entra em pânico nos períodos de instabilidade, ele busca soluções