A deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP), uma das principais aliadas do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso, se envolveu ontem em uma confusão nos Jardins, em São Paulo. Em vídeos divulgados nas redes sociais em poder da Polícia Civil, a parlamentar aparece empunhando uma pistola enquanto persegue um homem negro, que é agredido por outras pessoas. Um tiro é disparado pelo grupo do qual fazia parte a deputada. Carla alega ter sido agredida.

A Polícia Civil investiga possível ocorrência dos crimes de porte ilegal de arma, ameaça, lesão corporal e disparo de arma de fogo. Neste último caso, os policiais afirmam que a tipificação do crime dependerá da análise da direção do disparo para saber se um delito mais grave – tentativa de homicídio – ocorreu. Será a análise do vídeo com a direção do disparo que mostrará a intenção do autor do tiro.

Investigadores identificaram no começo da noite o homem perseguido pelo grupo de Zambelli. Trata-se do jornalista Luan Araújo, que se apresentou com seus advogados no 4.º Distrito Policial. Também queria identificar as pessoas que acompanhavam a parlamentar.

VERSÕES. O jornalista prestava depoimento no começo da noite. De acordo com o criminalista Roberto Beijato Junior, um dos advogados do grupo Prerrogativas que defende Luan, “houve uma desavença verbal e a Carla Zambelli perdeu a cabeça e se exaltou”. Ele negou que seu cliente tenha agredido a deputada. “Ela tropeçou e foi atrás dele, como mostra o vídeo do caso.” A defesa pretendia pedir à polícia que apurasse ameaça, porte de arma e disparo de arma de fogo na rua para saber se houve ou não tentativa de homicídio.

O analista de TI Reinaldo Vieira participava de um chá de bebê na região quando ele e seus amigos se envolveram em uma discussão com a deputada. Seguiu-se troca de ofensas e o rapaz fez um sinal de “L” com a mão e gritou “te amo, espanhola”. “Ela ficou doida de raiva, saiu atrás da gente, mas tropeçou. Os seguranças a acompanharam e um deles deu um tiro na direção da perna do meu amigo”, afirmou Vieira.

A polícia deveria fazer um boletim de ocorrência e abrir inquérito sobre o caso a fim de ouvir testemunhas e as partes envolvidas no caso. Os vídeos devem ser enviados à perícia.

Zambelli, que foi reeleita com a segunda maior votação de São Paulo, com 946.244 votos, chegou à delegacia no começo da noite. Ela alegou ter sido a autora do disparo. Em um dos vídeos, a deputada não aparece com arma na mão quando o tiro acontece.

Há três vídeos conhecidos sobre o caso. Eles indicam momentos distintos da confusão. O primeiro é retratado por gravação divulgada pela deputada. Ele mostra Luan e um amigo discutindo com o grupo de Zambelli. O jornalista afirma que “amanhã é Lula”, deixando claro o motivo da discussão.

Um segundo vídeo mostra o momento em que Luan e seu amigo tentam sair de perto do grupo de Zambelli. Os xingamentos mútuos parecem continuar. É quando Luan e o amigo se afastam e a deputada leva um tombo. Aparentemente, um tropeço. As imagens mostram em seguida o início da perseguição, com a deputada correndo atrás de Luan. Um homem ao lado dela, de camisa cinza, aparece com arma em punho. Outro tenta chutar o jornalista. É aí que acontece o disparo.

O último vídeo exibe o fim da confusão, quando Luan entra em um restaurante. Zambelli, de arma em punho, entra no lugar atrás do jornalista. Pelas imagens, é possível ouvir uma voz semelhante à da deputada pedindo que ele “deite no chão”.

No Instagram, a deputada deu uma versão diferente da mostrada nos vídeos. Ela afirmou que foi atacada por um grupo de pessoas na região da Paulista. “Me empurraram no chão. Eles usaram um negro para vir em cima de mim. Eram vários. Tinha uma mulher de camiseta vermelha. Me empurraram, me jogaram no chão, me chamaram de filha da p…, prostituta”, relatou.

A deputada disse que tentou chamar a polícia, quando um homem teria “feito menção de sacar uma arma”. Isso, segundo ela, teria feito com que ela atirasse para o alto. Nada disso aparece nos vídeos em poder da polícia. Não está claro quem fez o disparo. No Instagram, Zambelli acusou o deputado André Janones (Avante-MG) de participar da organização dos ataques que ela estaria sofrendo.

JANONES. Procurado, Janones não respondeu à reportagem. No Twitter, afirmou que Zambelli teria atirado em um apoiador de Lula (PT). Janones ainda afirmou que “filmagens desmentem que Zambelli teria sido agredida, ralou o joelho caindo sozinha”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.