Uma safra gigante, números pomposos. O agronegócio brasileiro brilha em números e em volume. É vistoso, mostra seu potencial de expansão e reforça o título do Brasil como o principal produtor mundial de alimentos, o celeiro do mundo. O levantamento mais recente apresentado pela Companhia Nacional de Abastecimento, Conab, em agosto, estima nesta safra uma colheita recorde de grãos, de 147,1 milhões de toneladas, que representa 8,8% a mais que toda a safra do ano anterior. O que a Conab não conta é que no País a capacidade total de armazenagem destes grãos é de apenas 134,7 milhões de toneladas, 80,7% a granel e 19,3% convencional. Sem precisar ser um gênio nas contas, isso implica que diretamente 12,4 milhões de grãos não têm onde ser estocados. Isso sem levar em conta que, apesar de a primeira safra de milho já estar quase toda colhida, ainda falta colher o milho da segunda safra em Mato Grosso (8%), no Paraná (40%) e em Goiás (55%), que no total deve somar 54,38 milhões de toneladas, e mais a metade da terceira safra do arroz e do feijão.

Agora, os técnicos do Sistema de Cadastro Nacional de Unidades Armazenadoras, órgão ligado à Conab, trabalham para atualizar os dados referentes ao setor de armazenagem por Estados. “A atualização do cadastro poderá acarretar aumento da capacidade estática de armazenamento”, ressaltou Alfredo Sérgio Rios, superintendente regional da estatal em Mato Grosso do Sul, primeiro Estado a fazer parte da programação de atualização. A superintendência- geral da Conab espera mapear com números oficiais a capacidade de estocagem do País até o final do ano, mesmo sendo obrigatórios a fiscalização e o registro dos armazéns em atividade.

A fragilidade da estrutura de estocagem implica outras problemáticas para o produtor rural, como a falta de crédito para o investimento em novos silos, assim como a falta de uma política pós-colheita bem estruturada. “O setor de armazenagem no Brasil está caminhando lentamente. Não temos políticas de financiamento adequadas para investimentos particulares no setor e também não temos uma política pós-colheita, o que é um grande problema”, explica o consultor especialista em armazenagem Galileu Rupollo, da Galileu Armazenagem, de Primavera do Leste (MT). Segundo ele, o investimento em silos não é de responsabilidade do produtor rural, mas do governo, até porque as linhas de financiamento para o setor são de, no máximo, R$ 1,3 milhão, o que seria suficiente para construir um silo com capacidade para 30 mil sacas. “É preciso que o governo invista veementemente em uma política pós-colheita, que regule as vendas.”

147,1 milhões

de toneladas de grãos foram colhidas, mas a capacidade de armazenagem é de 134 milhões de toneladas apenas

 

A falta desta política póscolheita gera insegurança nos produtores. Na região de Rio Verde, sudoeste de Goiás, área produtora de soja, os investimentos particulares em silos não avançam devido ao crescimento da cultura canavieira. “Temos um sério problema de armazenagem, mas os investimentos em silos são preocupantes por causa do avanço da cana na região, pois o governo não nos dá garantia de nada”, diz Aguilar Fernandes Mota, produtor de soja e milho da região. No começo deste ano, a falta de espaço para armazenagem de grãos na região chegou a ameaçar 200 mil toneladas de milho safrinha, já que os estoques excedentes do governo, oriundos da safra passada, ainda estavam estocados nos silos da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste de Goiás, Comigo. “O governo utilizou os leilões de PEP no último instante para escoar esse excedente, mas foram medidas urgentes. Isso não é uma brincadeira, não pode acontecer. Ou muito alimento será perdido”, desabafa.