Em 2009, quando morreu, aos 95 anos de idade, o agrônomo americano Norman Ernest Borlaug já era venerado havia muito tempo como o pai da agricultura moderna e tecnificada. Estima-se que as suas pesquisas sobre produtividade, aplicadas na agricultura, tenham salvo da inanição entre 245 milhões e 1 bilhão de vidas, em todo o mundo. Uma das frases prediletas de Borlaug era: “A agricultura nada mais é que converter energia solar em biomassa”. Três anos antes de morrer, em 2006, ele esteve em Piracicaba (SP), na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, para uma palestra aos professores, pesquisadores e alunos. Na ocasião, perguntaram-lhe como via o Brasil. Borlaug foi taxativo ao dizer que era impossível competir em agricultura com um país como o nosso, que tem sol o ano inteiro. E mais: que o potencial econômico do Brasil estava ligado à sua capacidade de produzir alimentos. A afirmação é baseada em outra de suas frases famosas: “Não se constrói a paz com o estômago vazio.”

É fundamental para as gerações futuras que o País assuma as diretrizes da sustentabilidade e que produza cada vez mais com tecnologia para manter a terra fértil. O sistema de plantio direto implantado no Paraná está completando 40 anos com grande sucesso, uma técnica de cultivo conservacionista, na qual se procura manter o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais. São 35 milhões de hectares de lavouras no sistema. Toda a área cultivada com soja no Paraná e em Mato Grosso utiliza o plantio direto. A mudança foi imensa nas últimas décadas. Na década de 1970, o Brasil importava alimentos e a expressão da soja como cultura comercial era quase zero.

Hoje, o Brasil caminha para se consolidar como o celeiro do mundo na produção de alimentos. É tarefa das mais urgentes evitar que a fertilidade dos solos se perca por exaustão em seu uso ou pela erosão. Preservar a fertilidade do solo, a microbiologia das áreas de cultivo e a água é preservar o seu potencial produtivo. Por isso, o foco do trabalho no campo deve ser manter as áreas produtivas e investir na recuperação das áreas de solos degradados, ou seja, consertar o que foi malfeito. Estima-se que hoje a área de solos degradados no Brasil está em mais de 200 milhões de hectares. O Brasil tem de se prevenir. Hoje, em algumas regiões, principalmente no Sul, há áreas que estão desertificadas pela intensa utilização agrícola e pela não reposição dos vegetais. Assim, a tarefa imediata é agir sobre elas. Se o trabalho de recuperação for realizado, não haverá necessidade de se abrir áreas com florestas, pelo menos nas próximas décadas.

A principal característica do plantio direto é manter a cobertura do solo. Nos Estados do Sul, principalmente o Rio Grande do Sul e o Paraná, o sistema chega a deixar até 20 centímetros de cobertura vegetal que o protegem contra incidência de sol e perda de água por evaporação. O período frio do ano, com alto grau de umidade, favorece o sistema. No Centro-Oeste, a camada de resíduos tende a ser menor, pela própria característica de maior insolação e degradação de resíduos. No entanto, mesmo com menor cobertura vegetal, ainda é melhor que deixar o solo totalmente desprotegido. O que o produtor precisa entender, definitivamente, é que a recuperação do solo é um processo necessário.

Atualmente, a sustentabilidade é o carro-chefe do agronegócio. Mas não existe sustentabilidade se não houver retorno econômico. Por isso, uma nova fase vem sendo gestada, sob a bandeira da agregação de valor. O plantio direto é aceito e aplicado na sua plenitude porque, além da sustentabilidade, ele é rentável para os produtores. Esse será o foco daqui para a frente, e o agricultor está consciente desse fato. O Brasil pode triplicar a área de plantio direto e ser competitivo no mercado internacional, produzindo com qualidade e em quantidade.