01/02/2009 - 0:00
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O cenário tenebroso que vinha sendo desenhado para a safra 2008/2009, com redução de tecnologia, falta de crédito e rentabilidade negativa, ao menos nesse início do ano não está se confirmando. Diversos fatores, entre eles a cotação da moeda americana e o clima, vêm contribuindo para a recuperação da rentabilidade para o produtor rural e mostrando que o ano pode ser melhor do que muitos imaginavam. De acordo com levantamento da Agência Rural, consultoria que faz acompanhamento de vendas, a rentabilidade da soja precoce na safra atual, tomando como base o estado de Mato Grosso, está maior do que na última temporada. O estudo mostra que em 2007/2008 o ganho por hectare era em média de R$ 240. No início de 2009, esse valor está em R$ 349, ou seja, 45% superior ao mesmo período do ano passado.
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Além disso, os preços no cenário internacional vêm se recuperando. Em janeiro a soja na bolsa de Chicago estava sendo cotada a US$ 10 o bushel, crescimento de 28% em relação a dezembro, quando o valor era de US$ 7,80. Para o consultor da AG Rural, Eduardo Godoi, o grande diferencial dessa safra está na cotação do dólar. “Depois de quatro safras com o produtor plantando com câmbio alto e vendendo com câmbio baixo, a situação se inverteu e isso está garantindo uma boa rentabilidade.”
Para se ter ideia, em janeiro de 2008, a soja em Mato Grosso, para entrega em fevereiro, era vendida a US$ 20 a saca de 60 quilos. Mas com o câmbio enfraquecido da época, cotado a R$ 1,75, a saca no Brasil estava por R$ 35. Já em 2009, a saca de soja está sendo vendida a US$ 17, bem abaixo do valor do mesmo período do ano passado. Mas com o câmbio a R$ 2,38, a saca é vendida no Brasil a mais de R$ 40. “A rentabilidade só não é maior por conta do grande aumento no custo de produção, sobretudo nos fertilizantes”, conta Godoi.
A rentabilidade da período 2008/2009 na soja precoce está 45% superior se comparada à do ano passado
Outro aspecto que deve contribuir para manter os patamares de preço é a previsão de redução na safra, conforme analisa o chefe da unidade da Embrapa Soja, Amélio Dall’Agnol. “Este ano teremos uma safra menor, em razão da estiagem que afetou também a Argentina e devido ao alto custo de produção. Nossa estimativa é de uma redução de cinco milhões de toneladas”. Dall’Agnol conta que essa redução influencia diretamente na formação do preço internacional. “A previsão de safra menor em países importantes como Brasil e Argentina, provocou uma reação do mercado internacional, que jogou os preços para cima. Mantendo-os acima dos patamares históricos”, pondera.
Contudo, produtores têm mostrado cautela nas negociações. Segundo dados da Céleres Consultoria, a estimativa é de que apenas 23% da safra brasileira de soja já esteja comprometida em contratos de vendas antecipadas. Um volume muito menor se comparado à safra passada, quando cerca de 39% da safra já havia sido comercializada nesse período. “Isso acontece por conta de um cenário de incertezas, que faz com que o produtor se sinta inibido em realizar as vendas e fixar sua safra”, explica o consultor da Céleres, Leonardo Menezes, que ressalta que essa “lentidão” nos negócios pode gerar efeitos negativos para o pico de colheita. “Há produtores que ainda guardam soja da safra 2007/2008. Isso é algo que não aconselhamos. Para a safra atual indicamos que o produtor trabalhe com média de preço, fazendo spot (pagamento à vista), fixando preço, para minimizar o risco do preço futuro.” O temor é que, com as vendas atrasadas, possa ocorrer uma pressão de oferta maior do que o normal no pico da safra, o que pode elevar custos com fretes e até gerar queda nos preços, já que a oferta estará maior.