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Você sabe o que Don Corleone, o famoso mafioso retratado em O poderoso chefão, interpretado por Marlon Brando e posteriormente por Al Pacino, fazia nos fins de semana? Acredite ou não, ele se recolhia em sua fazenda e aproveitava os dias de sol na propriedade localizada na Sicília, uma das mais belas regiões do interior da Itália. Agora, quem se aventura a passear pelas terras que no passado pertenceram ao mafioso encontrará logo na entrada uma placa com os dizeres: “Terre di Corleone – realizado com bens confiscados da máfia.” O aviso refere-se a uma iniciativa que resultou da parceria entre o governo italiano e ONGs no combate ao crime organizado e no confisco dos bens desses criminosos. Pouco a pouco essas terras estão se transformando em fazendas produtivas, hotéis e restaurantes (no cardápio há desde vinhos, frutas, legumes e massas, feitas ao gosto dos antigos chefões do crime organizado). A entidade Libera Terra é uma das organizações que gerenciam propriedades nas regiões da Sicília, Puglia, Campânia e Calábria. Juntas, elas somam 400 hectares, que produzem R$ 6,6 milhões ao ano. Segundo Gianluca Faraone, vice-presidente da organização, apesar dos avanços, “estima-se que ainda hoje a máfia movimente cerca de R$ 220 milhões ao ano só na Itália”.

A poucos quilômetros da “Terre di Corleone”, em meio a verdes colinas, uma cooperativa que faz parte da Terra Libera administra o centro equestre Giuseppe Di Matteo. O local pertencia à família de Giovanni Brusca, um criminoso que mandou assassinar brutalmente o jovem Giuseppe, então com 11 anos. O “serviço” feito por seus capangas foi em represália ao pai do menino, um ex-mafioso que passou a colaborar com a polícia. Andando por mais 20 quilômetros em meio a estradas de terra e vilarejos que parecem parados no tempo, o viajante chega até a vinícola Cento Passi ou Cem Passos.

 

Terra dos criminosos: na região da Sicília, ONGs cuidam do abrigo Terre di Corleone, que abriga 16 hóspedes no local que pertenceu ao mafioso Don Corleone, personagem central em O poderoso chefão

 

O nome é referência a um filme lançado em 2002, que conta a história do jornalista Pepino Impastato, um jovem que se rebelou contra a máfia e foi assassinado em 1978. Cada garrafa de vinho produzida ali é dedicada a uma vítima da máfia. A qualidade da produção é tamanha que alguns desses vinhos constam em renomados guias italianos, como o L’Espresso e o Gambero Rosso. “Toda a produção da vinícola é feita de forma orgânica”, explica Faraone.

Viajando da Sicília até a região de Palermo é possível chegar a Portella della Ginestra. O local é uma fazenda com um casarão de pedras do século XVIII, que hoje abriga um hotel com 16 vagas e restaurante para 90 pessoas. Confiscada pela Justiça italiana em 1993 após a prisão de seu dono, o temido Totó Riina, a área conserva a decoração rústica que dá um charme especial ao lugar. Seu antigo proprietário, condenado à prisão perpétua 15 vezes, era patriarca da Cosa Nostra, um dos mais violentos grupos mafiosos da Itália.

“Essa iniciativa ajuda as comunidades dessas regiões a produzir, algo que a máfia não permitia”, comemora Faraone. Um estudo feito em 2009 pelo Centro Studi Investimenti Sociali (Censis) mostrou que 13 milhões dos 17 milhões de habitantes das quatro principais regiões de atuação da máfia ainda convivem com essas organizações infiltradas na sociedade. “Mas, graças ao trabalho conjunto com o governo, esses criminosos estão perdendo espaço”, diz Faraone.