10/04/2018 - 10:00
O cultivo de soja está espalhado por 35 milhões de hectares no Brasil. Mas o grão está alcançando fronteiras agrícolas até então inimagináveis pelos especialistas do setor. Um exemplo são as áreas de terras mais arenosas do Centro-Oeste e no Matopiba, região de 73 milhões de hectares formada por parte do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que há a cerca de dez anos ganhou notoriedade na produção como uma fronteira agrícola a desbravar. Agora, a soja está ganhando projeção em regiões como o Acre, onde a área plantada atingiu 600 hectares no ciclo 2017/2018. “Soja no Acre é uma coisa que jamais imaginávamos”, diz o agrônomo Maurício Palma Nogueira, coordenador de pecuária da consultoria Agroconsult, de Florianópolis (SC). Mas não é só isso. No Amapá, o grão segue para o segundo ano de plantio, em 18,9 mil hectares. Em Rondônia, embora a lavoura faça parte da economia do Estado desde 1985, ela é a cultura que mais cresce atualmente em importância. Em 33 anos, a área ocupada pelo grão aumentou 780 vezes, chegando a 311,7 mil hectares. “Em Rondônia, a soja se expandiu muito mais rápido do que mostravam as previsões”, afirma Nogueira.
A soja está retomando até espaços que havia perdido. No município de Aparecido do Taboado, na região chamada Costa Leste de Mato Grosso do Sul, aos poucos a soja retorna a terras em que a plantação estava praticamente esquecida. O potencial do grão é de 160 mil hectares. “A cultura tem tudo para crescer na região”, diz o agrônomo e produtor rural José Olavo Fucci, da fazenda Santo Anastácio, de 410 hectares no município. “Hoje, tecnologia é o que não falta para reestabelecermos o cultivo da soja.” A área do grão, que chegou a ocupar 1,9 mil hectares em meados de 2004, hoje está reduzida a cerca de 200 hectares no município. Isso aconteceu porque não havia na época uma resposta tecnológica para um veranico que pode ocorrer com frequência entre os meses de outubro a fevereiro, no ciclo da cultura. Fucci é um dos maiores entusiastas do retorno da soja na Costa Leste. “Houve safra que chegou a ficar 15 dias sem receber uma gota de chuva, quando água era essencial para a lavoura”, diz Fucci. Mas isso não o fez abandonar a soja. Há 15 anos, ele cultiva o grão em uma área de 60 hectares. A persistência deu frutos. Nas últimas cinco safras, sua lavoura passou a ser uma espécie de vitrine tecnológica para mostrar que o grão pode, sim, dar certo na região. Nesse período, o produtor passou a avaliar sistemas de cultivo e cerca de 40 variedades, em um estudo apoiado pelo Sindicato Rural do município e pela Fundação Chapadão, de Chapadão do Sul (MS).
Para Eduardo Antonio Sanchez, produtor e presidente do sindicato rural de Aparecida do Taboado, a soja pode trazer muitos benefícios à região. “Hoje, temos dados suficientes para provar que a cultura pode ser uma atividade rentável”, diz Sanchez.
O PIB agrícola local, de R$ 185,4 milhões, vem da seringueira, da cana-de-açúcar e da pecuária de corte. Fucci tem todas essas atividades em sua fazenda, além da soja. No dia 22 de fevereiro, ele recebeu cerca de 130 produtores da região em um dia de campo, como são chamados os encontros de agricultores com pesquisadores. Foram apresentados os dados da safra 2016/2017, na qual a produtividade média foi de 78 sacas por hectare no sistema irrigado por pivô e de cerca de 80 sacas no sistema de sequeiro. No entanto, para as cinco safras acompanhadas no estudo, quase não há mais diferença de resultado entre o cultivo irrigado e o de sequeiro. A média, nos dois casos, é de 77 sacas por hectare. O resultado é maior que a média do próprio Estado, que, nesta safra, está em 55 sacas por hectare. É um número maior do que a média do Estado Paraná, com 55,8 sacas por hectare, maior produtividade do País. “Com a ajuda de cultivares melhoradas e mais produtivas, a soja pode ter espaço garantido novamente”, diz Fucci. “O veranico não está mais forte que a soja.”
Na Costa Leste de Mato Grosso do Sul, o avanço da soja se dá sobre pastagens degradadas, uma área estimada em 126 milhões de hectares no País, segundo a Embrapa, seguindo o exemplo do que ocorre no Acre, Amapá e Rondônia. Neste último Estado, a pecuarista Carla de Freitas, da fazenda Bela Vista, de nove mil hectares, em Chupinguaia, foi a primeira a consorciar a produção de gado de corte com a lavoura. “A agricultura tem espaço para crescer ainda mais”, diz Carla. “Para quem conduz a pecuária como eu, a integração do boi com a lavoura é uma forma de repor o que você está tirando do solo.” Carla é uma das pioneiras na integração lavoura-pecuária. Seu projeto com os grãos já faz oito anos e casou bem com o seu rebanho de corte de 15 mil animais. Hoje, são quatro mil hectares cultivados com soja. A primeira safra rendeu 50 sacas por hectare e este ano deve render uma média de 65 sacas por hectare. A meta é chegar a seis mil hectares cultivados. “Não há mais como produzir gado sem ter ao lado a agricultura.”