Ágil, flexível e representante do topo da cadeia alimentar, o puma, um felino adaptável a vários ambientes, e por isso grande caçador, pode ser encontrado com certa facilidade na fazenda Monte Alegre, uma área de quase 276 mil hectares na região de Telêmaco Borba, município paranaense a 260 quilômetros de Curitiba, e que pertence à Klabin S/A, a maior produtora e exportadora de papel do Brasil. O puma encontrado na fazenda, também chamado de suçuarana e onçaparda, retrata o atual momento da empresa. A Klabin, ávida por abocanhar uma fatia cada vez maior das exportações de papel e celulose do País, que totalizaram US$ 7,2 bilhões em 2011, batizou de Projeto Puma o maior investimento em seus 113 anos de história: um aporte de R$ 6,6 bilhões para a instalação de uma nova fábrica de celulose no município de Ortigueira, a pouco mais de 50 quilômetros de Telêmaco Borba. A novidade está prestes a sair do papel. A Klabin aguarda apenas as licenças ambientais e a aprovação de detalhes do projeto, por seu conselho de administração, para dar início à construção da fábrica. Em junho, o assunto foi discutido durante uma teleconferência entre o diretor-geral, Fabio Schvartsman, e os acionistas da empresa.

“O Projeto Puma faz parte de um processo delicado e de muita negociação”, diz Schvartsman. Mas a previsão é de que as obras comecem ainda neste ano, com o início das operações no último trimestre de 2014. No dia 12 de julho, o projeto foi aplaudido em uma audiência pública coordenada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), órgão do governo do Estado, que reuniu mais de mil pessoas no ginásio de esportes de Ortigueira. A iniciativa da Klabin será o maior investimento de uma empresa privada no Paraná.

Para os moradores da região, a iniciativa da empresa deve repetir em Ortigueira o que já aconteceu em Telêmaco Borba, onde está localizado o maior complexo industrial da Klabin. A nova fábrica vai empregar 1,2 mil pessoas e pode ajudar a elevar o baixo Índice de Desenvolvimento Humano do município (IDH), monitorado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o último relatório da instituição, Ortigueira tem IDH de 0,6, o menor do Paraná, enquanto Telêmaco Borba, cidade fundada em 1963, e que nasceu praticamente com a fábrica da Klabin, tem IDH de quase 0,8, em uma escala de 0 a 1. Além disso, um convênio assinado pelo governo do Estado e 11 municípios do entorno de Ortigueira prevê a distribuição, entre eles, de 50% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que será recolhido na região. O acordo é inédito no País. “É uma solução muito inteligente, do ponto de vista social”, diz Arthur Canhisares, diretor-industrial da fábrica de Monte Alegre.

O Projeto Puma fará nascer a Klabin Celulose, com foco total no fornecimento de matéria-prima para a indústria de papel. Inicialmente, a unidade poderá produzir até 1,5 milhão de toneladas de celulose e pretende ser uma das mais sustentáveis do mundo. Segundo Canhisares, a nova fábrica terá tecnologias de ponta para a reutilização de água, tratamento de resíduos e controle de emissões de gases na atmosfera. “A fábrica vai nascer 100% autossuficiente em energia e com emissão zero de carbono”, diz. Também terá um excedente anual de 150 megawatts de energia elétrica, capaz de abastecer uma cidade de 500 mil habitantes.

A gama de produtos gerados pela Klabin lembra a flexibilidade do puma. A nova planta será a maior fábrica do mundo capaz de processar celulose de pínus e eucalipto em uma mesma linha, e ao mesmo tempo. “É um diferencial competitivo”, diz Canhisares. A fábrica também vai produzir a celulose “fluff”, utilizada, principalmente, na fabricação de fraldas descartáveis e absorventes higiênicos, e ainda pouco explorada no Brasil. Para escoar a produção, está incluída no investimento uma linha férrea que vai ligar a fábrica ao ramal ferroviário Londrina Porto de Paranaguá, por onde a empresa espera exportar um milhão de toneladas de celulose, 70% da produção da nova unidade.

Para ter uma prévia do que será o Projeto Puma, basta conhecer a fazenda Monte Alegre, que responde por 65% dos resultados da Klabin e é uma de suas unidades mais eficientes. Para ganhar competitividade, a empresa tem colocado em prática a pedagogia dos três Rs – de reduzir, reutilizar e reciclar –, criada por ambientalistas na década de 1990. Segundo Canhisares, no ano passado a fábrica registrou o menor consumo de água da história da companhia, de 36,6 metros cúbicos por tonelada de papel produzido. A unidade também possui um dos mais modernos e avançados sistemas de tratamento de efluentes do mundo, com capacidade para tratar 40% dos resíduos gerados.

Nos últimos cinco anos, outro grande feito foi a redução de cerca de 5% da gramatura do papel no processo industrial, o que permite um consumo menor de madeira para produzir a mesma tonelada do produto. A gerente de sustentabilidade Ivone Namikawa conta que a fazenda tem uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 3,8 mil hectares, na qual, até o fim do ano passado já haviam sido identificadas 826 espécies animais e 1,7 mil vegetais. Entre elas, 630 animais e 49 plantas são considerados em extinção. “Preservar faz parte da história da Klabin”, diz Ivone.

A nova fábrica é fruto da boa saúde financeira da empresa. Em 2011, a empresa registrou recorde histórico de vendas de 1,7 milhão de toneladas de produtos, entre papéis cartão e kraft, papelão ondulado e sacos industriais, e obteve uma receita líquida de R$ 3,9 bilhões. “Em 2012, continuamos a trajetória de melhoria contínua dos resultados da empresa”, diz Schvartsman. Os investimentos têm ocorrido em todas as unidades da Klabin. Desde o início do ano, já entraram em operação uma nova caldeira de biomassa na fábrica de Correia Pinto, em Santa Catarina, e uma nova onduladeira, na unidade de Jundiaí, em São Paulo. A Klabin possui 16 fábricas, em oito Estados, e uma na Argentina.