08/02/2022 - 8:56
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou, na ata de seu último encontro, que considera mais apropriada a estratégia em relação à taxa Selic de “ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões”, depois da alta de 1,50 ponto porcentual, a 10,75%, na última semana.
“Concluiu-se que um novo ajuste de 1,50 ponto porcentual, seguido de ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões, é a estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos”, disse o Copom, em ata divulgada nesta terça-feira.
O comitê ainda informou que preferiu não indicar a magnitude dos próximos passos devido à incerteza “particularmente elevada” sobre os preços de importantes ativos e commodities e ao estágio do ciclo. O Copom já elevou a taxa Selic por oito vezes consecutivas desde o início do aperto monetário, em março de 2021, acumulando alta de 8,75 pontos porcentuais, o ajuste mais forte desde 1999.
“Finalmente, a incerteza particularmente elevada sobre preços de importantes ativos e commodities, assim como o estágio do ciclo, fez o Comitê considerar mais adequado, neste momento, não sinalizar a magnitude dos seus próximos ajustes.”
Próximos passos
O Copom reafirmou, por meio da ata, a intenção de reduzir o ritmo de alta da Selic (a taxa básica de juros) na próxima reunião, em março. A intenção de tirar o pé do acelerador ocorre mesmo diante de uma inflação que não para de surpreender, e pode ficar fora da meta pelo 2º ano seguido, de recorrentes preocupações fiscais e de um ambiente externo mais negativo para emergentes.
“Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, disse o colegiado na ata.
Essas ideias expressas na ata já constaram do comunicado da semana passada. O BC ainda repetiu que poderão ser feitos ajustes nos próximos passos para convergência da inflação às metas e a depender da evolução do balanço de riscos, da atividade econômica e das projeções e expectativas de inflação.
Apesar de sinalizar uma redução do ritmo a partir da próxima reunião, o Copom voltou a dizer, assim como no comunicado de dezembro, que é apropriado que o ciclo de aperto monetário “avance significativamente em território contracionista”, preocupado com o aumento de suas projeções de inflação e com o risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos.
“O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, repetiu a ata.
Políticas fiscais
Enquanto o governo e o Congresso Nacional se debruçam sobre diversos textos possíveis para uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduza os impostos sobre combustíveis e energia, o Banco Central alertou hoje que o tiro pode sair pela culatra. Na ata da última reunião do Copom, o colegiado chama a atenção para medidas que, na verdade, podem contribuir para deteriorar o cenário fiscal, levando a um aumento das projeções de inflação logo à frente.
“O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”, destacou o BC.
Na ata de hoje, o comitê fez um parágrafo maior sobre os riscos fiscais, reforçando que a incerteza em relação ao futuro do arcabouço atual continua elevando prêmios de risco e elevando o risco de uma desancoragem das expectativas de inflação.
“O Copom reitera que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para o crescimento sustentável da economia. Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, repetiu o colegiado.