O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Diogo Guillen, disse nesta segunda-feira, 11, que a atividade econômica brasileira desempenhou em nível acima do esperado no primeiro semestre. Ele participou de um webinar organizado pelo Credit Suisse pela manhã.

De acordo com Guillen, o melhor desempenho envolve fatores transitórios, como a normalização pós-pandemia e medidas fiscais transitórias como a antecipação do décimo terceiro salário de aposentados e pensionistas. Para o diretor, os números se refletem em uma performance positiva também do mercado de trabalho.

“O mercado de trabalho segue em recuperação. Os últimos dados do mercado de trabalho mostram uma desocupação caindo de forma rápida. O crescimento veio acima do esperado por nós e o rendimento continua deprimido em relação ao pré-pandemia”, afirmou.

Em termos de condições financeiras, Guillen diz que o ciclo de juros e os preços de petróleo têm afetado o Brasil e estão gerando um maior aperto.

O diretor de Política Econômica do também afirmou que há um aumento da inflação em países avançados e emergentes, embora o aumento dos núcleos seja uma característica principalmente nos países avançados.

“Com a inflação mais alta e atividade forte, a gente tem observado a política monetária apertando nos países. Como a gente tem falado, os emergentes já com a subida de juros e, principalmente nos desenvolvidos, esperando-se maiores apertos à frente”, disse Guillen.

Na América Latina e nos países do Leste Europeu, as expectativas para 2022 e 2023 já se situam acima dos intervalos da meta, disse Guillen. Citando o aumento das expectativas de inflação nos Estados Unidos, Guillen notou que o mercado de trabalho apertado explica parte do fenômeno, embora exista um debate sobre outros efeitos.

“Tem uma discussão sobre se as expectativas sobreponderam alguns produtos, por exemplo, a gasolina, que são preços salientes”, disse Guillen. “Isso pode ajudar a explicar um pouco esse aumento das expectativas, e a gente tem observado o aumento das expectativas em todos os países.”

Câmbio

Diogo Guillen também disse que um aperto monetário mais forte do que o esperado por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) levaria a uma reação do câmbio brasileiro.

“Se houver surpresas, se for acima do que está precificado de aperto pelo Fed, a gente pode ver o câmbio reagindo, claro”, disse, durante o evento.

De acordo com Guillen, o aperto monetário global tem criado um debate sobre a perda do canal do câmbio na política monetária, já que se trata de um preço relativo que responde ao diferencial de juros. Em contrapartida, o diretor do BC afirmou que esse aperto global também leva a uma abertura do hiato do produto do mundo.

Perguntado sobre a possibilidade de o BC intervir no câmbio, Guillen disse que essa atuação vai depender do caráter dos impactos. “Se a gente identificar volatilidade excessiva, redução de liquidez, disfuncionalidade, merece intervenção. Mas, se é uma mudança de fundamentos, e o câmbio é um preço relativo que reflete esses fundamentos, aí, não”, afirmou.