O crescimento econômico e populacional dos países emergentes pode ser ilustrado em poucos números. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a demanda mundial por duas das principais commodities agrícolas, milho e soja, avançou exponencialmente nos últimos 15 anos. Entre 1998 e 2012, a população mundial avançou de 5,8 bilhões para mais de sete bilhões de pessoas, uma expansão de cerca de 20%. No mesmo período, a demanda mundial de milho cresceu de 600 milhões de toneladas por ano para 895 milhões, uma alta de 49%. No caso da soja, um dos insumos mais importantes no fornecimento de proteína vegetal para alimentação humana e animal, o crescimento foi de 68%, de 160 milhões de toneladas, em 1998, para 268 milhões em 2013. “Não apenas há mais pessoas no planeta, mas, devido ao crescimento da renda em países como China, Índia, Brasil e Indonésia, as pessoas estão consumindo mais grãos”, diz o economista americano Joe Parcell, pesquisador do departamento de economia agrícola da Universidade do Missouri.

Segundo Parcell, esse aumento da demanda ocorre pelo consumo direto e pelo consumo indireto. “As pessoas estão consumindo mais proteína animal, o que eleva a demanda por grãos, processados na forma de ração”, diz ele. Na ponta do lápis, em média, cada habitante da Terra consumia 102,7 quilos de milho por ano em 1999, e em 2013 deverá consumir mais de 127 quilos, um aumento de 24%. No caso da soja, esse crescimento é ainda mais dramático: 38,2 quilos por ano, um aumento de 39,3% em relação aos 27,4 quilos por ano em 1999. “Isso exige mais planejamento mercadológico e financeiro dos produtores e dos grandes consumidores”, diz ele. Ao lado de mais tecnologia, com a utilização de melhoramento genético de sementes, vendedores e compradores estão se valendo de um recurso que passa muito longe do campo: os mercados financeiros. Por meio de instrumentos como contratos futuros e opções, produtores e compradores vêm se protegendo de oscilações nos preços e na demanda.

Após uma abrupta redução devido à crise financeira de 2008, o volume desses contratos voltou a subir no mercado internacional. Segundo dados da CME Group, maior bolsa de derivativos e commodities agrícolas do mundo, que no Brasil é associada à BM&FBovespa, o volume desses contratos recuou 22%, entre 2010 e 2012, mas, neste ano, está apresentando um crescimento de cerca de 7% até agosto, em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo Parccell, parte desse aumento pode ser creditada a um discreto retorno dos fundos de hedge ao mercado. No entanto, o crescimento contínuo da demanda e a necessidade de proteção contra solavancos nos preços vêm estimulando a retomada. De acordo com Nelson Low, diretor-executivo de produtos de commodities da CME Group, a expansão vem se dando principalmente nos países emergentes e em novos produtos. Ao lado de alimentos tradicionais como soja, milho, trigo e arroz, vem crescendo a utilização de instrumentos financeiros por fornecedores de produtos tropicais como café e azeite de dendê – certamente, não apenas por seu uso na culinária baiana, mas como fonte de combustível, especialmente em países como Indonésia e Malásia.

No Brasil, o uso de derivativos de produtos agropecuários também vem aumentando, depois de uma retração em decorrência da crise, como a que ocorreu em outros mercados internacionais. Por aqui, o volume negociado dos contratos de café e de milho, os de maior líquidez, cresceu, respectivamente, 5% e 3%.