Durante muitos anos, entre os pecuaristas mais tradicionais, ouvia-se a máxima de que o nelore só existia no Brasil graças a Uberaba. A citação, que remete a alguns dos mais ilustres incentivadores da raça no País, hoje é parte de uma história que ganha novos adeptos, gera novos e importantes polos e, por que não, abre a concorrência sobre qual é a capital da raça no País. Em Minas Gerais ainda ficam duas das mais importantes mostras. Expozebu e Expoinel são consideradas os grandes marcos da raça. Mas é do interior de São Paulo que surge o polo mais pujante do Brasil: Avaré, ou simplesmente “a nova Uberaba”. Assim como o sul de Minas ficou conhecido por abrigar a tradição da pecuária nacional, Avaré surge como um novo polo, acolhendo pecuaristas de nome como Amauri Gouveia, Emiliano Sampaio, Luiz Reche e Sylvio Propheta. Entre os novatos, destacam- se o presidente da Nestlé do Brasil, Ivan Zurita, e o presidente da ETH Bioenergia, José Carlos Grubisich, ambos estreando há dois anos na criação de gado zebu.

Como prova da força da região, a cidade abriga uma importante e tradicional exposição agropecuária, a Emapa, que chegou em 2009 à sua 44ª edição. Para se ter uma ideia da grandeza do evento, em sua última edição, realizada no início de março, foram movimentados nada menos que R$ 20 milhões, distribuídos em apenas nove leilões, com médias superiores a R$ 100 mil. Em número de animais da raça nelore a Emapa já superou Uberaba, com 1.430 inscritos, 30% a mais do que o esperado na Expozebu deste ano.

Assim como acontece nos remates mineiros, Avaré também conta com superproduções em seus leilões. Um exemplo são os do criador de simental Ivan Zurita, que há dois anos ingressou no nelore. Ele investiu R$ 1,5 milhão na estrutura de seu pregão, cujo tema era “caminho para a Índia”. Recentemente, Zurita comprou todo o plantel do tradicional criador Benedito Mutran Filho, numa operação que, segundo fontes do mercado, girou em torno de R$ 30 milhões. Bem relacionado, o presidente da Nestlé costuma trazer novos parceiros para os seus negócios rurais. Este ano o destaque ficou por conta dos empresários Amílcare Dallevo, da RedeTV!, Lucília Diniz, do Pão de Açúcar, e Mario Florêncio Cuesta, todos novatos no ramo, que, segundo informações oficiais transmitidas pelos organizadores do leilão Origem Agrozurita, pagaram nada menos que R$ 3 milhões por 50% da doadora Vala 4, no que seria, segundo eles, a maior venda da história do nelore.

Mas tamanha pujança tem explicação. Trata-se da primeira grande competição do ano, época em que os criadores precisam testar o nível de seus animais, além de tomar conhecimento das novidades que entram no mercado. Por isso, um título de grande campeão em Avaré traz muito prestígio aos vencedores. “A qualidade dos animais expostos é acima da média. Não perdemos em nada para Uberaba, mas, como aqui tudo é focado no nelore, levamos uma pequena vantagem”, afirma Luis Carlos Marino, presidente do Núcleo Nelore Avaré. “É uma feira absolutamente técnica, focada nos julgamentos. O nível é tão alto que os juízes precisaram de seis dias para decidir qual o melhor.” No final, a doadora Missoni TE Guadalupe, da Fazenda Guadalupe, sagrou-se grande campeã da raça nelore.

Com o título conquistado em Avaré, toda a linhagem Guadalupe, do pecuarista Pedro Novis, ex-presidente do Grupo Odebrecht, se valoriza e ganha força para o resto do ano. “Um prêmio em Avaré valoriza muito um animal. É um evento de grande tradição na pecuária nacional, que ajuda a fortalecer todo o mercado de carne e genética”, afirma o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, da Nelore Top da Raça, confirmando o que todos os presentes pensavam. “Com certeza é uma nova Uberaba”, afirma.

Outros vão ainda mais longe. “É a exposição número 1 do ranking nacional do nelore no Brasil”, confirma Arnaldo Borges, da Ipê Ouro. Arnaldinho, como é conhecido no meio, lembra que São Paulo possui um dos melhores rebanhos do Brasil e a região de Avaré se destaca dentro do Estado. “É um núcleo com criadores importantes para a pecuária de elite. A qualidade dos animais é igual à encontrada em Minas Gerais, com a vantagem, para nós criadores, de ser mais focado no nelore.”

Por abrir o calendário das grandes pistas no Brasil, a Emapa também costuma lançar as tendências e apresentar as principais novidades que serão utilizadas nos leilões durante toda a temporada. Responsáveis pela montagem do telão holográfico que chamou a atenção no Levanta Poeira, de Ivete Sangalo, em dezembro, os publicitários Rafael Marino e Bruno Grubisich, da agência UAU!, apresentaram a tecnologia aos criadores e houve uma ótima aceitação.

“Por ser o primeiro grande evento do calendário, Avaré é um excelente lugar para se fechar negócios para o resto do ano”, conta Marino, que vê nos leilões indoor seu principal filão. “A ideia da holografia ganhou força devido à dificuldade em se montar leilões em locais refinados, como a Daslu ou o Fasano, onde a entrada dos animais é estritamente proibida”, lembra. Segundo o executivo, as imagens reproduzidas por televisores de plasma ou LCD distorcem a aparência dos animais, enquanto a holografia projeta uma imagem perfeita e rica em detalhes aos compradores.

Outro aspecto importante é a segurança. “Com os ‘leilões holográficos’, não é necessário deslocar doadoras que valem mais de R$ 1 milhão até os eventos”, lembra. O aluguel dos equipamentos custa cerca de R$ 20 mil por leilão, mais R$ 1,5 mil para a filmagem de cada um dos animais, uma vez que é toda feita em alta definição. O preço ainda assusta um pouco os pecuaristas mais tradicionais, mas é a tecnologia trabalhando a favor da pecuária nacional. E Avaré, mais uma vez, saiu na frente.