ARIEL ANTONIO MENDES, presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA)

 

CRESCIMENTO:: setor espera por novos parceiros comerciais

Quem acompanha o segmento de mercado avícola sabe que o setor tem experimentado nos últimos oito anos níveis de crescimento fantásticos diante do Produto Interno Bruto brasileiro. Nesse período, a produção do setor acumulou uma taxa ascendente acima de 45%. Intimamente ligada a isso, a exportação brasileira disparou, atingindo índice de crescimento em torno de 330%.

Claro que foi fundamental neste processo a alavancada ocorrida com a abertura de vários mercados estrangeiros após o estouro dos focos de gripe aviária na Tailândia. Isso não tira o mérito, porém, do forte processo de profissionalização e tecnificação pelo qual passou o Brasil nos últimos anos.

Hoje o produtor acompanha passo a passo o procedimento de produção com uma visão empresarial do negócio. Ele não se dá ao luxo de cometer erros e se articula de acordo com a demanda. Embora seja uma commodity, o frango é tratado como produto manufaturado em uma linha de produção.

“Embora seja uma commodity, o frango é tratado como produto manufaturado”

Graças a isso e a outros fatores, como o acesso fácil ao insumo (milho, soja e sorgo), o Brasil detém hoje o mais baixo custo de produção do mundo. Também há um espírito político no governo federal muito favorável ao setor com a articulação, em parceria com a União Brasileira de Avicultura, de ações como o Projeto de Regionalização e o Programa de Compartimentação – que otimiza ações de defesa sanitária diante de possíveis crises.

Há também forte colaboração da Secretaria de Relações Exteriores do Ministério para a abertura de novos mercados. Neste ponto, aliás, graças às ações conjuntas dos setores público e privado, temos sido bastante efetivos. Entramos no Chile e, mais recentemente, na Índia – causando grande estardalhaço, com ondas de protestos de produtores locais, receosos em relação à capacidade brasileira de produzir com qualidade superior a preços baixos. Agora temos a China, um gigante pronto para ser explorado.

Todos esses dados servem para mostrar que a avicultura brasileira – que domina mais de 40% do mercado internacional – está forte o suficiente para enfrentar a crise. Nosso principal concorrente, os Estados Unidos não são exatamente uma ameaça, já que atacam segmentos de mercado diferentes dos nossos. Também existem novas possibilidades de mercados para se conquistar, como os próprios Estados Unidos e o México.

Além disso, seguimos fortes no mercado interno. Já se vão três anos desde que o consumo per capita de frango (38,9 quilos, ou 7,3 milhões de toneladas no total de 2008) ultrapassou o do bovino (36,2 quilos em 2007) no Brasil. Também é sabido que, em tempos de crise, é comum a substituição de proteínas mais caras – como a suína e a bovina – pelas de preços mais acessíveis – como a do frango.

Mesmo com esses fatores favoráveis, nos três primeiros meses de 2009 o setor deverá enfrentar o rigor da turbulência do mercado internacional. Uma possível redução de consumo nos países exportadores de petróleo – em especial, a Venezuela e os do Oriente Médio, que sofrem com a baixa da commodity – poderá impactar no saldo geral das exportações. Internamente também há uma retração neste período em função do comprometimento da renda familiar com o pagamento de impostos como IPTU e IPVA, compra de material escolar e outros gastos. Já pensando nisso, as entidades representativas do setor estão trabalhando fortemente, articulando toda a cadeia para reduzir em 20% a produção, enxugando o mercado, para ajustar oferta e demanda.

Acreditamos que esta tempestade deverá passar a partir do segundo semestre. O setor já trabalha com expectativa de alta no saldo anual das exportações em torno de 5%, no comparativo com o excelente índice de 2008. Internamente, o consumo deverá seguir forte. Afinal, no orçamento de qualquer família o alimento é e será sempre prioridade máxima, mas precisamos preservar os ganhos em produtividade, qualidade e competitividade que obtivemos nos últimos anos.