Um dos líderes do movimento Somos Democracia, Danilo Pássaro reagiu ao artigo do vice-presidente Hamilton Mourão publicado nesta quarta-feira, 3, no Estadão. No texto, o general chama de “baderneiros” os participantes de atos recentes em defesa da democracia. “Ao contrário do que diz o vice-presidente, são os apoiadores do governo que expõem seus revólveres e armas. Nossa força não está na violência, está na construção da unidade nacional pela democracia”, afirmou Pássaro. “Baderna é o que o governo está fazendo com a República e com o Poder Executivo.”

Para o motorista de aplicativo da Brasilândia, que ajudou a organizar o ato realizado na Avenida Paulista no domingo, 31, com a participação de torcedores de diversos times de futebol, os manifestantes que se dizem a favor da democracia e contra o fascismo não são comparáveis aos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. “Eles exalam ódio e grosseria, fazem apologia à tortura e à ditadura, agridem jornalistas e profissionais da saúde, e ridicularizam as mortes de mais de 30 mil brasileiros por covid-19”.

O ato de domingo acabou em confronto entre manifestantes e apoiadores do presidente e também com a Polícia Militar – que interveio e usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o início de uma briga em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). “Fizemos uma manifestação pacífica em acordo com o coronel da Polícia Militar, encerramos e dispersamos no horário combinado. Mais de 80% dos manifestantes pró-democracia já tinham sido dispersados, mas pessoas que alegavam ser das Forças Armadas junto com outras que portavam símbolos neonazistas iniciaram provocações”, afirmou Danilo Pássaro, que é filiado ao PSOL e formado em Teologia.

Além de citar o que chamou de “baderna”, Mourão também alertou para a possibilidade de os atos que ocorrem agora, pró-democracia, resultarem no mesmo efeito dos atos realizados em junho de 2013 ou dos demais protestos em curso em outros países. “Aonde querem chegar? A incendiar as ruas do País, como em 2013? A ensanguentá-las, como aconteceu em outros países? Isso pode servir para muita coisa, jamais para defender a democracia. E o País já aprendeu quanto custa esse erro”, afirmou.

Para o engenheiro Eduardo Moreira, especialista em economia e criador do movimento virtual #somos70porcento, em referência ao porcentual da população que não aprova o governo Bolsonaro, é curioso como o discurso que condena a violência dos protestos não reconhece a violência que gerou os protestos.

“Ignorar que milhões de trabalhadores estão dormindo no chão para receber suas parcelas de R$ 600 com mais de dois meses de atraso e não ver violência neste ato é assustador. Esconder que milhões de brasileiros e brasileiras muito pobres seguem há meses esperando seus direitos de receber o Bolsa Família e os benefícios previdenciários é não ver a maior das violências. Colocar medo na maioria da população de expor suas ideias e opiniões por meio de uma indústria de difamação e ameaças patrocinada, ao que tudo indica, por pessoas próximas ao governo é assassinar um dos direitos mais fundamentais do ser humano. A violência está aí há muito tempo. E só tem aumentado com este governo autoritário e antidemocrático”, disse.

Moreira ainda afirma que não são as manifestações pró-democracia que ampliam o risco de nos tornarmos uma nação violenta. “Aliás, este risco não existe mais, é um fato consumado. Por fim, ao não ver sentido em trazer para o nosso País problemas e conflitos de outros povos e culturas, o vice presidente fere a honra de milhões de brasileiros e brasileiras que todos os dias sofrem os nefastos efeitos da discriminação racial no País, onde a cor da pele faz um branco ganhar 31% a mais do que um negro que exerce a mesma função, que faz dois terços da população carcerária ser formada de negros e que faz homens e mulheres que poderiam estar descobrindo a vacina para este vírus que destrói o País estarem entregando comida em suas bicicletas, se expondo ao perigo, para enriquecer seus patrões brancos que fazem home office. Falta ao vice presidente da República uma das duas coisas: ou conhecer a realidade do povo brasileiro ou ter o mínimo de compaixão ao sofrimento do próximo.”