28/03/2023 - 11:45
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central repetiu, na ata de seu encontro deste mês, o alerta sobre a desaceleração da concessão de crédito no mercado doméstico “maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária”. Esse ponto já estava expresso no balanço de riscos do comunicado da última quarta-feira, 22.
De acordo com os diretores do BC, os outros dois principais riscos de baixa na inflação são a queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local e uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada. O Copom enfatizou que, em relação a isso, merecem atenção particular as condições adversas no sistema financeiro global depois da quebra de bancos nos Estados Unidos e na Europa.
Já entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, o BC ressaltou a maior persistência das pressões inflacionárias globais e a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública. Por fim, apontou também uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Na semana passada, o Copom manteve a Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida. Em relação à decisão deste mês, o BC disse na ata, assim como no comunicado, que a manutenção é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”, que inclui 2023 e, em maior grau, 2024.
Sem consenso na avaliação sobre crédito
Após incluir uma possível desaceleração mais forte na concessão de crédito em seu balanço de riscos no comunicado da decisão que manteve a taxa básica de juros em 13,75%, na semana passada, o Copom revelou na ata divulgada nesta terça que não houve consenso nessa avaliação por parte dos diretores do Banco Central.
Diante do aperto adicional nas condições para a oferta de crédito em algumas modalidades, alguns membros do Copom consideraram que esse movimento está em linha com o esperado, considerando a alta da Selic de 2,00% ao ano para 13,75% entre 2021 e 2022.
“Para tais membros, deve-se esperar ainda um aumento da inadimplência e uma desaceleração na concessão do crédito, mas em linha com o que se observou em ciclos anteriores de aperto de política monetária. Em contraste, outros membros avaliam que, no período mais recente, o aperto nas concessões de crédito foi mais intenso do que o esperado, mas focalizado em alguns mercados específicos”, destacou a ata, revelando a divergência entre os diretores.
Ainda assim, o Copom enfatizou que o BC possui, no âmbito da política macroprudencial, os instrumentos de liquidez “apropriados e necessários” para endereçar eventuais “fricções relevantes” no sistema de crédito. O colegiado ainda reforçou que a política monetária é mais apropriada para atuar de forma contracíclica sobre a demanda agregada.