Barrado no banco: Instituição não irá mais liberar financiamentos para áreas que foram desmatadas a partir de 2006

Em nome da preservação do meio ambiente, uma das principais fontes de crédito agrícola do País deve minguar nos próximos meses. O Banco do Brasil, que responde por cerca de 60% dos empréstimos rurais com uma carteira de R$ 74 bilhões para a agricultura, resolveu limar recursos para produtores que atuem em novas áreas desmatadas da região amazônica. O banco acaba de aderir à moratória da soja, programa lançado há pouco mais de quatro anos pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), com o objetivo de não comercializar soja produzida em áreas desmatadas no bioma Amazônia. “Já era uma prática que vínhamos adotando e que agora decidimos oficializar. Existe um esforço de toda a sociedade para reduzir as áreas desmatadas e estamos contribuindo para isso”, explicou o vicepresidente de agronegócio do Banco do Brasil, Luiz Carlos Guedes Pinto.

A medida, que já começa a valer a partir deste mês de janeiro, inviabiliza o crédito para produtores que tenham desmatado áreas de suas fazendas após o período de julho de 2006, quando foram estabelecidos os limites das Áreas de Preservação Permanentes (APPs). “Acredito que o Brasil tem totais condições de avançar sua produção sem derrubar uma árvore sequer. Há várias medidas para inibir esse tipo de prática e uma delas é a não concessão de crédito”, pondera Guedes.

Se o discurso do dirigente agradou às ON G’s de preservação ambiental, não foi bem aceito por agricultores daquela região. O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira, classificou a medida como um “equívoco”. Para Silveira, a medida penaliza produtores, mesmo que esses estejam agindo de acordo com a lei. “Não há sentido nesse tipo de normativa”, rechaça. A bronca dos produtores acontece pelo fato de a legislação permitir o desmatamento, desde que 80% da área preservada seja mantida, no caso dos Estados da Amazônia Legal, e 35% da área no caso do Cerrado. “O Banco do Brasil é uma instituição financeira que opera com recursos públicos e como principal fonte de financiamento do agronegócio brasileiro precisa seguir a lei e não se juntar a um grupo que implantou regras à margem da legislação”, afirma Silveira.

Já para Guedes a reclamação não é justificável. “Nosso foco é reduzir o desmatamento que é usado como munição pelos concorrentes brasileiros em todos os fóruns e encontros mundiais. Isso precisa ter um fim”, analisa. “Há um grupo reduzido que faz críticas e está no seu direito. Mas nossa visão é que é importante acabar com o desmatamento. Até porque o Brasil não precisa derrubar novas áreas para aumentar sua produção”, diz.

Torneira fechada

Entenda o peso da decisão do BB de não financiar áreas de desmatamento

 

 

R$ 74 bilhões é o valor da carteira agrícola do Banco do Brasil

R$ 60 milhões foram destinados para a região Norte na safra 2009/2010

80% é a área que deve ser preservada nas propriedades da Amazônia Legal

” Podemos aumentar a produção agrícola sem precisar derrubar nenhuma árvore sequer “

Luiz Carlos Guedes, vice-presidente de agronegócio do Banco do Brasil